Carreira & Educação

RPA, DPA… Vamos precisar de mais letrinhas na sopa




Por Danilo Fernandes
Head of Product at Dataeasy – ECM/DigitalTransformation

Já ouviu falar em RPA? É provável que sim. Está na moda. Mas você sabe o que é?

Pode começar por aqui. Automation Anywhere, BluePrism e UIPath são nomes reconhecidos neste mercado, também, e tem muita informação. Apenas tome cuidado, pois as três empresas atuam fortemente no mercado e seu conteúdo tem sempre um viés comercial, apesar de muito útil.

Melhor ainda, tire o pó do seu inglês de vez e mergulhe nesse artigo, um dos mais completos que vi recentemente. É da PEX Network e me pareceu bem isento e bastante completo.

Agora, falando de RPA no Brasil, um amigo responsável pela área de RPA de uma empresa com milhares de colaboradores me disse, recentemente, que está buscando com pente fino profissionais que realmente entendam e já tenham implementado projetos com RPA. E que de cada 5 currículos que recebe, de pessoas que se auto declaram especialistas em RPA, 4 não tem a menor ideia do que estão falando.

Extraímos duas informações importantes disso: a primeira é que vale a pena buscar uma especialização em RPA, o mercado está aquecido para profissionais com esse skill set. E a segunda é que muita gente acha que sabe mas não sabe. Ou antecipa o futuro (em outras palavras, mente). O que dá na mesma.

Vamos lá, primeiro as letrinhas: (R)obotic (P)rocess (A)utomation ou, em bom português, Automação Robótica de Processos, numa tradução livre. O nome já disse tudo? Parece que sim, provavelmente não.

A automação à qual RPA se refere não é uma automação qualquer. O robótica da expressão quer dizer, literalmente, o uso de um robô para efetivamente operar sistemas como se fosse uma pessoa, um usuário humano. Clicando em botões, preenchendo campos, escolhendo funções, lendo relatórios, tudo sem a necessidade de um ser humano intervir. Tanto que, em um sentido estrito, nenhum sistema de RPA tem usuário, tem treinadores! Alguém tem que ensinar o robô, certo?

Essa analogia vai tão longe que uma empresa britânica, ao implementar RPA, batizou o robô de Poppy e, inclusive, a convidou para a festa de natal da empresa. E não, eu não sei se participou do amigo oculto também. Os detalhes sórdidos (e técnicos) estão aqui.

Se você está se perguntando agora por quê acha que RPA é muito parecido com as ferramentas automatizadas de teste, que ‘usam’ os sistemas com o propósito de testá-los e descobrir erros, é por que o primeiro é filho do segundo. Podemos dizer, de fato, que o RPA deu um CPF para o robô que fazia teste de software, uma identidade e um propósito maior. A base tecnológica tende a ser a mesma, ampliada e evoluída.

Agora que já sabemos o que é RPA, a próxima pergunta naturalmente é: para quê usar isso?

Se já existem inúmeros sistemas, ERPs, CRMs, ECMs e outros tantos SISFulanos e E-Cicranos povoando o cenário digital das organizações, por que agora vamos aposentar a pessoa e trocá-la por um robô? Não era mais fácil já fazer um sistema se entender com outro? Ora, claro que sim! Mas não é assim que o mundo funciona, certo?

Alguns fatos pouco conhecidos e não muito intuitivos explicam isso: o primeiro é que gente é (ainda) mais barato que sistema. É muito mais barato (mesmo com a CLT) contratar um estagiário ou dois para fazer algo repetitivo e chato do que desenvolver ou comprar um sistema. Não acredita? Tudo bem, é só minha opinião. Mas faça de conta que concorda comigo para podermos continuar o raciocínio, ok?

Depois, dentro das empresas existem feudos, divisões, jardins murados com seus diretores, gerentes, donos, carcereiros e cães de guarda. É complexo um sistema integrar mais de duas áreas (RH e Financeiro, por exemplo) se não for um ERP full. Por quê? Por que um galo não canto no terreiro de outro, entendeu? Se não entendeu, segue o bonde.

E, por fim, antes que você me pergunte sobre os ERPs, não, eu não acredito que eles existem para resolver esse dilema e integrar a empresa. Acho que existem para permitir ao comando da empresa controlar os recursos da companhia e não para facilitar a vida de ninguém. É por isso que esses sistemas corporativos costumam (quase sempre) ter sucesso em sua implantação, pois apesar de serem enfiados goela abaixo dos gestores das áreas não se metem nos detalhes e minúcias das mesmas. Mas bem, mais uma vez, essa é so a minha opinião e nem é foco aqui.

Vamos ver alguns exemplos reais?

Caso A – O grande varejista

Imagine um grande varejista, com Centros de Distribuição que recebem produtos em lote (arroz, feijão, cerveja, bolachas, azeite, cerveja… espera, já falei cerveja, né?) e precisa distribuir esses produtos nos supermercados para podermos comprá-los. Imagine ainda que esse mesmo varejista tem oito (sete? nove?) sistemas diferentes cuidando da vários aspectos dessa operação, um fazendo o planejamento das rotas dos caminhões, outro fazendo a programação de separação dos produtos, um terceiro calculando os impostos, mais um para emitir a DANFE… e por aí vai. Esses sistemas não podem ser alterados ou customizados, tem responsáveis diferentes e geram de 7 a 13 documentos diferentes que precisam ser entregues, em papel, aos motoristas de cada caminhão no momento do carregamento. E para completar, um parque de várias impressoras cospem esses papéis fora de ordem, aos montes. Qual a solução adotada? Contratar 70 (sim, isso mesmo, setenta) pessoas para ficar separando os papeis. Imaginou tudo isso? Pois reza a lenda que não é imaginação.

Caso B – A grande multinacional

Enquanto isso, em uma grande multinacional que tem plantas fabris gigantescas, o departamento de projetos é responsável pela gestão de obras de vários tipos e operações logísticas terceirizadas. Sendo assim, fazem o controle de várias contratações com complexidades de todos os niveis. É claro que uma multinacional desse porte tem um ERP, obrigado por perguntar. E é claro que esse ERP só se preocupa com dois pontos: se os impostos foram calculados corretamente e como fazer para demorar o máximo possível para pagar os fornecedores (por quê dinheiro mais tempo no caixa sempre é bom, camarada, obrigado de novo por perguntar). Os gerentes de projeto criaram, então, elaboradas planilhas que são entregues para serem preenchidas pelos fornecedores, em papel, para provar que eles devem ser pagos. E que devem ser assinadas por três pessoas diferentes, com os devidos carimbos. Vamos resumir: eu usei as palavras controle, papel, assinatura e carimbo juntas, todas no parágrafo anterior, sim, você não entendeu errado.

Como isso acontece, não me pergunte. É uma surpresa para mim também como a padaria da esquina pode pensar em controlar algo em papel e ainda por cima obrigar as pessoas a carimbarem seus nomes quando estamos nos aproximando da terceira década do século XXI, quanto mais uma multinacional.

Pois bem, você está ficando cansado, eu também, e já deve estar se perguntando algo como “espere um pouco, achei que estávamos falando de RPA”! E sim, estamos, por que RPA é uma das melhores soluções para os casos A e B, ambos os quais tive a oportunidade de presenciar.

Como assim?

No primeiro caso, usaríamos um robô para interceptar as impressões dos documentos antes que elas ocorressem, sem que os sistemas percebam. O robô então leria cada documento e separaria os conjuntos que vão para cada caminhão, seguindo uma regra de negócio complexa ou mesmo usando machine learning. Então, não satisfeito, enviaria por e-mail para a transportadora um dia antes e deixaria que ela mesma fizesse a impressão. Resultado: nenhuma linha de código seria alterada, 70 pessoas deixariam de fazer um trabalho imbecil e zero papel seria impresso na empresa.

No segundo caso, um sistema de workflow (se você é meu colega na DataEasy tem obrigação de saber qual, se não é fale comigo, vai ser um prazer te contar) poderia ser usado para criar e encaminhar as planilhas para os fornecedores, que responderiam eletronicamente, todo mundo assinaria também eletronicamente, e ao final do processo um robô leria cada relatório e acessaria o ERP, preenchendo os campos necessários e tomando as ações devidas. Nenhum papel seria impresso, nenhuma informação perdida e ninguém precisaria ficar copiando dados de um lugar para o outro. E todos os carimbos seriam queimados em uma grande fogueira, em uma festa fantástica, regada a muita cerveja. Artesanal.

Pois bem, nada disso acima é verdade. Ainda.

No primeiro caso, você que é da DataEasy pode se orgulhar, pois fomos os únicos a entregar uma Prova de Conceito operacional, real, funcionando. No segundo, estamos negociando o fechamento do projeto. Ah, e você não sabia que a DataEasy já fazia RPA, não é? Pois é.

Para falar mesmo a verdade, o Caso A, do Varejista, não é exatamente RPA. Nenhum sistema foi acessado, apenas interceptamos as informações e um robô as tratou. O robô não precisaria ter CPF para funcionar. Sendo assim, isso é DPA e não RPA. DPA, de (D)igital (P)rocess (A)utomation, ou Automação Digital de Processos, que é como chamamos o processo de automação quando o mesmo não envolve robôs assumindo a função de pessoas reais.

Mas, bem, essa já é uma outra história.

Fonte: Linkedin

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