Carreira & Educação

O mito da democracia racial no Brasil




Por Thiago Guarnieri Roveri
HR Business Partner

Tenho percebido um movimento genuíno e consistente de algumas organizações no Brasil e no mundo, que estão buscando maneiras para enfrentar questões relacionadas a discriminação e o preconceito. É importante dizer que este “enfrentamento da situação” não tem caráter impositivo, determinista (“é assim e pronto”), mas a maneira que tem se demonstrado eficiente é a abertura ao diálogo, a proposta de trazer informação e, por consequência, a educação de seus colaboradores.

Esse movimento ganha corpo e atinge diferentes realidades quando elucidamos a situação com dados, fatos e informações. Nesse contexto, se desejamos genuinamente promover mudanças frente a diversidade racial nas organizações, é imprescindível discutirmos o tema levando em consideração o nosso legado histórico, especificamente o processo de colonização portuguesa que passamos. A raiz da nossa desigualdade étnica, no espectro socioeconômico, se relaciona diretamente ao método de colonização patriarcalista e autocrático, que foi justificado e romantizado pelo preceito de “democracia racial”. Somos reconhecidos e aclamados mundialmente (pela Unesco, inclusive) como um país que lidou maravilhosamente bem com a mistura entre diferentes culturas: europeus, indígenas e negros estão convivendo “em harmonia”. Será mesmo? harmonia em quais circunstâncias e para quem? E se estivéssemos, por hipótese, convivendo pacificadoramente, tal “harmonia” é suficiente? Eu, como aliado e ciente dos meus privilégios, busco elucidar o tema para justamente não ter apenas ciência do desafio, mas ser parte da solução.

A questão da miscigenação (processo gerado a partir da mistura entre diferentes etnias) é uma realidade no Brasil, mas o fato de nos reconhecermos como uma sociedade miscigenada não nos torna uma sociedade justa, ou ausente de discriminação! Isso é um viés cognitivo cultural e inconsciente que recai sobre a maneira em que cada um de nós enxerga essa situação, e que temos que enfrentar de maneira urgente e verdadeira, nos reconhecendo como parte do problema. O mito da “democracia racial” no Brasil ganhou força nacional e mundial com Gilberto Freyre, que aos meus olhos romantizou a colonização portuguesa e fomentou a ideia de que a maneira patriarcal “senhor-escravo” frente aos negros e indígenas foi amorosa, honrosa, necessária e motivo de orgulho para o Brasil.

Nós temos uma dívida centenária com o nosso passado. E só mudamos o nosso presente quando entendermos e discutirmos este passado com propriedade, e refletirmos de que maneira o nosso comportamento individual e coletivo se reflete nele: neste passado. É imprescindível sairmos do senso comum, e pararmos de terceirizar uma realidade que ainda está enraizada na maneira em que cada brasileiro enxerga a mistura de etnias no Brasil. Só assim teremos insumo e legitimidade para enfrentar esse desafio e promovermos mudanças estruturantes e legítimas na sociedade, e por consequência nas organizações. O espaço ao diálogo está sendo construído. Vamos aproveitá-lo! Precisamos de informação, embasamento, para juntos, termos um Brasil verdadeiramente diverso. Em frente! #diversidaderacial #historiadobrasil #omitodademocraciaracial #gilbertofreyre

Fonte: Linkedin

Continua após a publicidade..