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Os 5 melhores filmes de terror disponíveis na Netflix




As expectativas raramente são benéficas quando se trata de cinema. Há, sempre, que se deixar levar por uma obra para que ela tenha a oportunidade de provar seu valor. Preconceber julgamentos antes de ter contato real com o objeto pode ser um gesto que venha a desmerecer ou enaltecer o que, a partir de uma visão neutra, não passaria de merecedor de opiniões medianas, mornas.

O cinema de gênero vem exatamente ao encontro das expectativas, abraçando-as com carinho. Isso porque o funcionamento interno de um filme que venha a se encaixar nessa definição é uma leitura específica do seu gênero. Mantém-se uma estrutura narrativa base, reafirma-se convenções tradicionais e, ao seu modo, cada filme fica livre justamente para subverter o que é preestabelecido para si: eis o surgimento das quebras de expectativas. Tais filmes criam suas próprias galáxias, mas sempre dentro de um universo corajoso, este que enfrenta as expectativas. E, mesmo que possam expandir esse universo ao subverter convenções e gestos tradicionais, jamais uma produção de gênero criará o seu próprio cosmo. Um filme de gênero real – raiz – está muito mais preocupado em fazer jus ao seu universo do que posar com alguma arrogância e se dizer mais do que é.

Filmes de terror encaixam-se exatamente em um universo próprio, consolidado. Ao longo dos últimos anos, tais filmes vêm recobrando espaço com competência absoluta. São, enfim, filmes que fazem jus ao pertencimento desse gênero que formam a lista a seguir. E detalhe: o garimpo se deu à procura daqueles menos assistidos e que, de fato, valem a pena. Portanto, houve uma fuga dos clássicos (que estão escassos na Netflix) e de filmes muito comentados. Mas, ao final… não foi possível deixar de citar outros vários que estão no catálogo.

Seguem os escolhidos:

5. Verônica – Jogo Sobrenatural


Verônica é um terror carregado de suspense que sabe muito bem onde está pisando. Ao contrário de investir em quebras de expectativas, o corroteirista e diretor Paco Plaza (da trilogia iniciada por [REC] – fica a dica), doa-se completamente à construção delas. Há, sem dúvidas, subversões de gênero, mas o filme está mais disposto a construir um horror crescente, sem descanso, típico do cinema espanhol – algo como faz o ótimo Um Contratempo (indicação fora do gênero do terror).

O trabalho cuidadoso e consciente de Plaza edifica bases sólidas para o filme de uma forma única: é um terror, de fato, que traz o sempre revisitado tema da possessão demoníaca, mas é claramente realizado com muito carinho e naturalidade. Pode ser perceptível que, nem tão em segundo plano, Verônica é sobre os “monstros” que despertam durante a adolescência.

4. Jogo Perigoso

Baseado em obra de Stephen King e premiado em festivais de terror, especialmente pela atuação de Carla Gugino (a Olivia Crain da ótima série A Maldição da Residência Hill – nova dica), esse filme dirigido por Mike Flanagan (de Hush – A Morte Ouve – outra dica) acompanha Jessie e sua tentativa de apimentar seu casamento em uma casa remota (olha uma convenção). Inesperadamente, seu marido morre e ela, algemada ao estrado da cama, inicia uma luta para sobreviver.

Sabendo que se trata do mesmo diretor e corroteirista do citado Hush: A Morte Ouve, a impressão é a de que Jogo Perigoso reforça uma metáfora sobre o quanto é assustador estar em um mundo no qual perder qualquer sentido é motivo suficiente para se instalar o medo. Sendo as protagonistas de ambos os filmes mulheres, Flanagan demonstra empatia ao entender que o terror é um gênero de enorme poder metafórico, revelando o pavor da submissão – algo que, infelizmente, é recorrente em meios sociais devido ao machismo.

3. O Que Fazemos nas Sombras

Agora, digamos que a procura é por diversão, por risadas. A ideia é dormir, dormir feliz, sorridente e com tranquilidade.

Aí, a melhor opção é a coprodução entre a Nova Zelândia e os Estados Unidos O Que Fazemos nas Sombras. Uma comédia de terror (terrir) que referencia alguns dos principais vampiros da história do cinema, como o Drácula de Drácula de Bram Stoker e o Nosferatu do expressionismo alemão (dicas clássicas).

No filme, três vampiros dividem uma casa e encontram dificuldades humanas na convivência. Além das complexas decisões sobre o que vestir para permanecerem encaixados em padrões sociais atuais (após terem vivido tantos séculos), precisam organizar festas para conseguirem encontrar sangue humano e ter alguma renda para as despesas diárias.

E não para por aí! Tudo isso é filmado como um mockumentary (falso documentário, como A Bruxa de Blair e Atividade Paranormal – mais indicações) e, sem dúvida alguma, é dos melhores terrirs despretensiosos dos últimos anos.

2. The Nightmare

Chegamos a um documentário de fato. Mas será autêntico mesmo? Há controvérsias… A verdade é que, entre tantos exemplares de terror na Netflix, The Nightmare é um dos mais assustadores. Se por um lado isso se deve ao fato de ser justamente um documentário, por outro essa é, talvez, a sua única fraqueza. Isso porque o diretor Rodney Ascher não mergulha a fundo na problemática, a paralisia do sono. Ele explora as entrevistas como se caminhasse pela mente do espectador, buscando situações de tensão até mesmo no que há de mais comum.

E é exatamente isso que acaba por descortinar todo um terror adormecido, que faz com que se deseje dormir com as luzes acesas. Ver encenações de pesadelos não somente aflige, mas causa o essencial para que se sinta o horror: identificação. Se o espectador for uma pessoa empática e conseguir se colocar verdadeiramente no lugar de quem tem (ou teve) a paralisia do sono – como as que dão seus depoimentos para The Nightmare –… pronto.

Tudo bem… Como documentário, é falho por não procurar embasamento através de psiquiatras e profissionais da área sobre os relatos dos oito entrevistados – sendo a fundamentação praticamente zerada. De qualquer forma (e se for levado muito a sério), pode ser que um novo subgênero do terror esteja batendo na porta. E mesmo começando assim, imperfeito e inconsistente, é extremamente assustador.

1. Invasão Zumbi

Eis um filme que foi, de fato, muito comentado em sua estreia, mas que começou a cair no esquecimento rapidamente. Não por sua qualidade – é o mais premiado dessa lista –, mas talvez por misturar dois universos do cinema de gênero: terror e ação… levando tudo a uma esquisitice quântica.

Invasão Zumbi subverte o subgênero dos zumbis, o próprio terror e constrói e quebra em pedaços caricaturas de filmes de ação. E vai muito além: à medida que os zumbis se multiplicam e uma variedade de pessoas comuns os enfrenta, há uma alusão certeira e uma avaliação sobre a insensibilidade corporativa.

É um filmaço que tem poder de adrenalina e que pode chocar com suas quebras de expectativas.

Bônus Adam Sandler: Hotel Transilvânia 2

Não se trata de um filme de terror. Talvez o mais próximo que Adam Sandler chegou de um terror tenha sido Cada um Tem a Gêmea que Merece ou The Ridiculous 6 (indicações para quem tem “estômago” forte). Mas, por outro lado, é uma animação que traz monstros clássicos como protagonistas. Nesse caso, forçar a barra para encaixar Hotel Transilvânia 2 (o primeiro e o terceiro não estão disponíveis na Netflix, mas ficam de dicas também) nesse bônus pode até chegar perto de ser justificável.

A animação é dirigida pela mente criativa de Genndy Tartakovsky, que criou O Laboratório de Dexter e Samurai Jack, além de ter ajudado na produção de As Meninas Superpoderosas e dirigido até episódios de Pokémon.

Em Hotel Transilvânia 2, Sandler é o dublador original do Drácula e faz um trabalho de voz fantástico que, por sinal, foi muito bem aproveitado pelo competentíssimo Alexandre Moreno na versão dublada brasileira.

13 menções honrosas clássicas (ou não)

  1. O Ataque dos Vermes Malditos, porque as criaturas subterrâneas são divertidíssimas e porque conta com Kevin Bacon (de Footlose: Ritmo Louco) inspirado e já reconhecido. Além disso, é um filme cultuado pelos fãs.
  2. A Bruxa, um dos filmes de terror mais bem avaliados do século. Mas esqueça os sustos, pois aqui o que vale é o clima criado pelo roteirista e diretor Robert Eggers (em seu primeiro longa-metragem).
  3. O Babadook, porque terror que envolve crianças é quase sempre uma fórmula mágica para uma mínima estranheza. Aqui, a roteirista e diretora Jennifer Kent (também em seu longa de estreia) vai além do que pode ser estranho e constrói um filme, no mínimo, competente.
  4. A Cidade dos Amaldiçoados, porque é dirigido por John Carpenter, um dos maiores mestres do gênero na história do cinema. Para alguns, é o seu filme menos significativo. E isso equivale a um grande filme de qualquer forma.
  5. Corrente do Mal, porque talvez seja um dos filmes de terror mais inventivos do século XXI e, ainda assim, sem jamais deixar de lado o respeito pelo passado do gênero. Inclusive, a trilha sonora e a movimentação de câmera em muito simula o clássico Halloween: A Noite do Terror, de Carpenter.
  6. O Grito, porque, mesmo sem a originalidade do asiático, esse remake é suficientemente competente.
  7. O Hospedeiro, porque, além de trazer muito do ótimo cinema asiático e dos monstros daquele continente, é dirigido com habilidade e muito bom gosto pelo premiado Joon-ho Bong (de Okja), um dos diretores sul-coreanos mais aclamados da atualidade.
  8. Jogos Mortais, porque é, para muitos, um filme que trouxe o terror de volta ao mainstream, graças ao seu diretor, o festejado James Wan (de Aquaman).
  9. Mama, porque é um trabalho minucioso até mesmo de jump scares. E abriu as portas para seu diretor, Andy Muschietti, dirigir It: A Coisa.
  10. A Marca da Pantera, porque é um dos maiores clássicos do gênero. Um clássico um tanto quanto esquecido… mas dirigido por Paul Schrader, roteirista de Touro Indomável, Taxi Driver: Motorista de Táxi e A Última Tentação de Cristo.
  11. A Noite dos Mortos-Vivos, porque é um remake minimamente aceitável de um clássico que fora capitaneado pelo mestre George A. Romero.
  12. Os Outros, porque é um filme cultuado e que tem a Nicole Kidman como protagonista. Além, claro, de ser muito bem dirigido e de ter um clima de tensão raro.
  13. O Sexto Sentido, porque é, provavelmente, o filme com o maior spoiler da história do cinema. Aquele filme que se você souber o final, dificilmente valerá tanto a pena, algo que é típico do seu realizador, M. Night Shyamalan (de Corpo Fechado, Fragmentado e Vidro).

Menções honrosas trashes (ou com muito sangue)

  1. O Albergue: Jovens enfiando-se em complicações bizarras na Europa oriental. Sangue e mais sangue para quem tem estômago forte.
  2. Anaconda: Porque a personagem de Jon Voight pisca um olho após ser regurgitada por uma cobra gigante. Um motivo melhor seria impossível para assistir a esse clássico do trash.
  3. A Babá: Litros e mais litros de sangue e muito respeito às convenções do gênero.
  4. Um Drink no Inferno: Divertido, bem dirigido por Robert Rodriguez (de Machete, ou seja…) e com George Clooney inspirado.
  5. Madrugada dos Mortos: Zack Snider (de Liga da Justiça) em seu primeiro longa-metragem como diretor. Na estética, é possível perceber claramente o alto contraste, as nuances sombrias e tudo o que ele, até hoje, carrega como assinatura.
  6. Piranha 3D: Por motivo de… piranhas. E porque tem uma cena que é uma carnificina mais do que brutal. Para quem gosta é um prato cheio (de corpos).
  7. Raw: Talvez uma pequena sinopse justifique esse (além de ele já ser cultuado em tão pouco tempo – foi finalizado em 2016): Uma adolescente inocente, estudando para ser veterinária, desenvolve desejo por carne humana.
  8. O Segredo da Cabana: Uma mistura de terror adolescente com ficção científica e monstros clássicos, além de muito sangue em seus segundo e terceiro atos. É um filme que merece atenção.

Porque tubarões inteligentes são essenciais: Do Fundo do Mar

Ficam, então, as indicações e o espaço dos comentários para acréscimos e tudo o que desejarem. Sem dúvida, como sempre ao fazer uma lista, foi dolorido, mas tenho certeza que vocês conseguirão complementar e enriquecer tudo o que está aí.

Bons (ou ruins?) filmes para nós!

Fonte: Canaltech

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