Ciência & Tecnologia

Aplicativo para “punir” chefe e professor é sucesso no Canadá




Criado no Canadá, o aplicativo Beat the Boss (Bata no Chefe, em português) foi desenvolvido para descontar a raiva do chefe. Mas a segunda versão, também disponível para iOS, substitui o cenário do escritório pela sala de aula, e o chefe, por um professor.

O sucesso do jogo no Brasil não surpreende. Uma pesquisa feita em 34 países pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgada em 2014, apontou o País como o líder no ranking de violência nas escolas. Na enquete, 12,5% dos professores ouvidos no Brasil disseram ser vítimas de agressões verbais ou intimidação de alunos pelo menos uma vez por semana.

Para a doutora em educação e professora do curso de Psicologia da Unisinos, Simone Bicca Charczuk, a violência precisa ser compreendida como um fenômeno de múltiplas causas. “Pensar que um jogo, de forma isolada, é responsável por incitar a violência é uma conclusão simplista e que tira a nossa responsabilidade frente à produção desse fenômeno”, diz. A professora do departamento de psicologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coordenadora do Laboratório de Análise e Prevenção da Violência, Lúcia Williams, também acredita que o jogo por si só não vai tornar a criança ou o jovem violento na escola.

Contudo, Lúcia afirma que o acesso a esse tipo de conteúdo violento pode deixá-los mais suscetíveis, já que crianças e adolescentes são seres em formação. “Se a família é estruturada e carinhosa, pode ser que o jogo se torne mais uma brincadeira e ela não reproduza aquilo na vida real. O grande risco é com crianças que não têm supervisão dos pais ou que já vivem situações de violência em casa”, afirma Lúcia.

Proibir não é o caminho
Muitos pais se perguntam o que devem fazer ao perceber que o filho está jogando games violentos como o Beat the Boss 2. Simone acredita que, mais do que a idade, é importante levar em consideração a relação da criança ou do jovem com o jogo e avaliar se ela consegue compreender que se trata de uma brincadeira. “Várias teorias da psicologia convergem para a compreensão do brincar como espaço para elaboração de conflitos. Nesse sentido, podemos pensar o jogo violento como um espaço para lidar com a violência de modo simbólico e não ter que exercê-la na realidade.”

Simone afirma que proibir não é o caminho, pois essa necessidade de expressão da violência poderia acabar encontrando outros canais de comunicação. “Talvez uma criança que consiga lidar dessa forma com o jogo possa bater simbolicamente no seu professor e não ter a necessidade de fazer isso de fato na escola.”

Lúcia concorda que os pais devem ficar atentos e defende que evitem o contato dos filhos com este tipo de jogo pelo menos até os 18 anos, já que, até essa idade, o indivíduo está em importante fase de formação. Se os pais perceberem que a criança ou o jovem está jogando games violentos, sua dica é conversar e discutir a situação com calma. “Deve-se levar a criança a pensar sobre o tema e, se mesmo assim ela continuar jogando, colocar limites de uso”, afirma Lúcia.

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