Ciência & Tecnologia

Invenção apresentada em escola é usada para tentar limpar Oceano Pacífico




A invenção apresentada por um estudante holandês em uma feira de ciências será usada para tentar limpar as águas do Oceano Pacífico.

Boyan Slat tem pouco mais de 20 anos e, em 2011, quando tinha apenas 16, teve uma ideia quando mergulhava na Grécia e viu mais sacos plásticos do que peixes.

Depois do choque no mar da Grécia, ele começou a desenvolver uma ideia que apresentou como um projeto de ciências.

O projeto, apresentado na feira de ciências da escola onde estudava, consiste de uma série de barreiras flutuantes, ancoradas no leito do mar. Primeiro elas capturariam e concentrariam os detritos flutuantes. O plástico se moveria ao longo das barreiras no sentido de uma plataforma, onde seria, então, extraído de forma eficiente.

A corrente oceânica passaria por baixo das barreiras, levando toda a vida marinha flutuante com ela. Não haveria emissões nem redes para a vida marinha se enroscar. O plástico coletado no oceano seria reciclado e transformado em produtos ou em óleo.

O primeiro passo para colocar este projeto em prática é criar um mapa para avaliar a posição exata do lixo. E isto é exatamente o que está fazendo uma frota de 30 barcos, cuja missão é percorrer as águas do Oceano Pacífico, entre o Havaí e a costa oeste dos Estados Unidos.

Esta frota deve chegar a San Francisco no dia 23 de agosto.

Choque e descaso

Slat contou que além do choque depois do mergulho na Grécia, onde viu mais sacos plásticos do que peixes, ele ficou ainda mais chocado ao notar que não havia uma solução aparente.

“Todo mundo me disse: ‘Ah, não tem nada que você possa fazer com os plásticos depois que eles chegam aos oceanos’, e eu me perguntei se isso era verdade.”

Entre os últimos 30 e 40 anos, milhões de toneladas de plástico entraram nos oceanos. A produção mundial de plástico é de 288 milhões de toneladas por ano, das quais 10% acabam no oceano. A maioria – 80% – é proveniente de fontes terrestres.

O lixo é arrastado por ralos e esgotos e acaba nos rios – assim, aquele canudo de plástico ou cigarro que você jogou no chão podem acabar no mar.

O plástico é transportado por correntes para cinco sistemas de água rotativos, chamados de giros, nos grandes oceanos, sendo o mais famoso a enorme Mancha de Lixo do Pacífico, entre o Havaí e a Califórnia.

A concentração de plástico nestas áreas é alta e elas chegam a ser chamadas de sopa de plástico. A região abrange uma área duas vezes o tamanho do Texas. Além disso, o plástico não fica no mesmo lugar. Tudo isso faz com que a limpeza seja um grande desafio.

Inspiração

Slat afirma que a inspiração surgiu de uma pergunta: por que ao invés de perseguir os detritos não aproveitamos as forças das correntes e fazemos com que o lixo venha até nós?

A partir daí, quando ainda estava na escola, ele desenvolveu o projeto das barreiras flutuantes ancoradas no leito do mar.

Este projeto de ciências do Ensino Médio foi premiado como Melhor Projeto Técnico da Universidade de Tecnologia Delft. Diferente da maioria dos adolescentes, Slat se empenhou muito mais depois do prêmio para tocar este projeto.

Quando Slat começou a estudar Engenharia Aeroespacial na Universidade de Delft, a ideia de limpar os oceanos seguia com ele. Ele criou uma fundação chamada (Limpeza de Oceano, em tradução literal) e explicou no evento TEDx seu conceito de como os oceanos poderiam se limpar.

Seis meses depois de entrar na faculdade, decidiu trancar o curso para tentar tornar seu projeto uma realidade.

Todo o dinheiro que ele tinha era 200 euros (R$ 630). Os meses seguintes foram usados em busca de patrocínio.

“Foi muito desanimador porque ninguém estava interessado”, diz ele. “Eu lembro de um dia entrar em contato com 300 empresas para patrocínio – apenas uma respondeu, o que, também, resultou em nada.”

Mudança brusca

Mas então, em 26 de março de 2013, meses depois de ser publicada na internet, a fala de Slat no TEDx se tornou viral.

“Foi inacreditável”, diz ele. “De repente, tivemos centenas de milhares de pessoas clicando em nosso site todos os dias. Eu recebia cerca de 1.500 e-mails por dia de pessoas se voluntariando para ajudar.”

Ele montou uma plataforma de financiamento coletivo que captou US$ 80 mil em 15 dias.

De acordo com o Programa de Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas há, em média, 13 mil peças de plástico flutuantes por quilômetro quadrado de oceano. Muitas dessas partículas acabam sendo ingeridas acidentalmente pelos animais marinhos, que podem morrer de fome já que o plástico enche seus estômagos.

Albatrozes são particularmente vulneráveis porque se alimentam de ovos de peixe-voador, que estão ligados a objetos flutuantes. Tartarugas tendem a ser vítimas de sacos plásticos que, quando imersos na água, são parecidos com água-viva.

Conhecimento e críticas

O entusiasmo de Slat contagiou o público – mas, junto com as ofertas de ajuda e doações, vieram as críticas. Não daria certo, disseram alguns. Outros argumentaram que seria melhor coletar lixo de praias, onde os resíduos chegam levados pelas ondas.

Um problema é que o plástico não está apenas flutuando na superfície, mas é encontrado em toda a extensão de água, mesmo em sedimentos no fundo do oceano.

“Você pode ir a um lugar nunca explorado antes, nos confins da Terra, e percebe que o lixo chegou primeiro”, disse à BBC a pesquisadora marinha Kerry Howell, da Universidade de Plymouth, na Grã-Bretanha.

Para Richard Thompson, também da Universidade de Plymouth, a prioridade seria evitar que o lixo chegue ao oceano.

“Se tivesse dinheiro para investir na busca de uma solução, empregaria 95% para conseguir encontrar uma forma de evitar que o plástico chegue ao oceano. (…) É como tentar secar o chão do banheiro com um trapo enquanto deixamos as torneiras da banheira completamente abertas”, afirmou.

Slat apresentou um relatório de viabilidade de 530 páginas, cuja capa foi feita de plástico reciclado. O relatório, baseado em diversos testes e simulações de computadores e assinado por 70 cientistas e engenheiros, respondeu a muitas das dúvidas que foram levantadas.

As críticas, no entanto, não parecem desanimar Slat, que trabalha 15 horas por dia.

“Se você quer fazer algo, faça o mais rápido possível.”

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