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Os 10 melhores filmes originais da Netflix lançados até 2018




2018 foi excepcional para a Netflix. Além de alguns filmes entre os melhores do ano – de acordo com listas de várias mídias especializadas e de críticos (inclusive a minha – onde coloco Lazzaro Felice e Roma entre os 10 da temporada), a empresa conseguiu nada menos do que 10 indicações ao Oscar 2019 somente com o citado Roma, fora a enxurrada de prêmios anteriores.

Assim sendo, resolvemos, aqui no Canaltech, fazer uma retrospectiva dos filmes originais da Netflix, produzidos ou coproduzidos pela plataforma de streaming, finalizando com uma lista de, novamente, 10. Mas são tantas obras que realmente valem a pena que escolher somente uma dezena de filmes é uma situação bem complicada e talvez injusta.

Consciente de que nenhuma lista é unânime – algo impossível de se alcançar –, percorri os filmes procurando traçar uma diversidade de gêneros, indo do romance à ficção científica, passando por dramas, comédias, documentários abrangentes e mais íntimos… até resultar na lista que segue mais abaixo.

Acreditem: Não foi fácil. E, sem dúvida, pode ter um ou mais filmes que você nem colocaria em uma lista de 50 melhores. É assim que funciona mesmo. Todos temos formações diferentes (seja social, seja política, seja emocional, seja de vida mesmo). A diversidade de interpretações e pensamentos constrói o que é o Cinema. Mas, a propósito, quais são os 10 melhores para você? Deixe aí nos comentários e vamos formando essa espécie de corrente. Lembrando que são filmes lançados pela Netflix até o final de 2018. Indicações são sempre muito bem-vindas!

A lista então:

10. Aniquilação


Aniquilação é um filme que rendeu muitas discussões quando foi lançado – e ainda rende. Sendo o segundo filme dirigido por Alex Garland (o primeiro foi o elogiado e também debatido Ex_Machina: Instinto Artificial), ele (o filme) parece atestar que o seu diretor não quer ter uma carreira que passe despercebida (seja tematicamente ou por competência). Por outro lado, Aniquilação não é um filme fácil de discutir. É provável que tenha quase uma infinidade de significados diferentes entre os milhões de espectadores que a Netflix pode alcançar. Evolução, autodestruição… tudo é sintetizado em uma ficção científica que cumpre bem uma função do gênero, de aliar a realidade a uma imensa metáfora que parece intocável a olhos nus. O pior – ou melhor no caso – é que o filme ressalta o quanto os corpos humanos são frágeis e o quanto pode ser difícil confiar neles.

9. Ícaro

O melhor do documentário investigativo e com um envolvimento arriscado do cineasta Bryan Fogel, que, com seu trabalho duplo, é levado a Grigory Rodchenkov, chefe do laboratório antidoping russo. Mas Fogel, que não percebe a tempo (ou percebe?), passa a se envolver diretamente, além de ser, de dentro, um cronista do maior escândalo de doping do esporte, conforme os detalhes vão sendo revelados. A história passa de uma experiência pessoal para um thriller geopolítico em questão de cenas. Urina contaminada, morte inexplicável e ouro olímpico fazem parte de um documentário para se assistir com os olhos grudados na tela.

8. Divinas

Se o cinema tem o poder de causar uma incrível mistura de sentimentos em pouco tempo, Divinas reflete demais esse poder. A partir de atuações fantásticas, especialmente de Oulaya Amamra (intérprete de Dounia), a diretora e corroteirista Houda Benyamina constrói praticamente um tratado sobre amizade. A identificação com os personagens surge naturalmente em meio às emoções bem colocadas e politizadas, transformando o subúrbio parisiense em uma espécie de lugar-comum a tudo, a todos… e a quem está à procura de um filme que alie leveza com profundidade.

7. Cuba e o Cameraman

Jon Alpert, documentarista e jornalista americano que já concorreu ao Oscar de curta-metragem por China’s Unnatural Disaster: The Tears of Sichuan Province (2009) e Redenção (2013) filmou, em suas várias passagens por Cuba – durante 45 anos –, muito mais do que um retrato social e econômico daquele país. Perpassando momentos dos mais relevantes da história da ilha caribenha, cada consequência advinda do período de pós-revolução exposta por Alpert dá norte ao que muito se aproxima do cinéma vérité – estilo de documentário que combina improvisação com o uso da câmera para desvendar a verdade ou destacar assuntos escondidos por trás da realidade crua. Cuba e o Cameraman é daqueles filmes necessários para quem precisa ou quer saber mais sobre um país tão comentado sem conhecimento de causa. Aliás, é um filme imprescindível para quem gosta de documentários, para quem gosta de Cinema.

6. Mais uma Chance

Por mais que o argumento da infertilidade já tenha sido discutido algumas vezes, a diretora Tamara Jenkins (do excelente A Família Savage) foge das questões mais pessoais, mais humanas, e adentra o mundo quase documental das inseguranças sobre o procedimento de se ter um filho nessa circunstância e após os 40 anos de idade, passando pelos métodos e pelo investimento financeiro. Com atuações maiores que o próprio filme (que já é excelente), Kathryn Hahn (de Capitão Fantástico) e Paul Giamatti (de O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro) fazem com que suas personagens ganhem uma dimensão extrafilme e se revelem como alguém que o espectador, por algum acaso, pode conhecer pessoalmente. É um drama angustiante, questionador de escolhas, sobre frustração e, retornando justamente ao que parecia evitar – e por isso tornando-se mais forte –, humano.

5. Shirkers – O Filme Roubado

Um misterioso evento traumático na carreira conduz a documentarista Sandi Tan, de Singapura, na construção de Shirkers, um filme intimamente conceitual sobre valores pessoais, empatia e amadurecimento. Partindo de uma história filmada em 1992, Tan transforma suas memórias e o relato que assombrou boa parte da sua vida em uma narrativa completamente imersiva. Sua narração de entonação vocal certeira e a montagem visualmente criativa conseguem fisgar o espectador e conduzir cada passo da história como se a próxima cena fosse mais do que imperdível. Chegar ao final de Shirkers é quase como sentir a satisfação de Tan em ter, enfim, solucionado a própria vida.

4. Beasts of No Nation

O primeiro filme original da Netflix continua sendo um dos mais badalados da empresa. Não é por menos. Dirigido por Cary Joji Fukunaga (do ótimo Jane Eyre), Beasts of No Nation é um estudo de personagem que, em paralelo, reflete muito de um mundo socialmente controverso e hipócrita. Ao acompanhar a trajetória do pequeno Agu (Abraham Attah), Fukunaga não só constrói a vida daquela criança, mas destrói, valendo-se da transformação causada pelo meio. Do menino que brincava com a imaginação através da carcaça de uma televisão a um veterano de guerra que, aos 10 anos de idade, já carrega o peso de um trauma. Além da atuação convincente do pequeno Attah, Idris Elba é mais do que convincente no papel do Comandante, um sujeito que mescla carisma e dominação, recaindo em fraquezas e canalhices que o tornam um dos personagens mais complexos entre as produções da Netflix.

“Sol, por que está brilhando neste mundo? Eu estou esperando para pegar você com as minhas mãos e te espremer tanto que não poderás brilhar mais. Assim, tudo será escuro e ninguém terá que ver todas as coisas terríveis que estão acontecendo aqui.”, dessa citação, extraída do próprio filme (que é adaptado por Fukunaga do romance homônimo escrito pelo nigeriano Uzodinma Iweala), um resumo do sentimento pós-filme pode ser extraído. É um filme forte, sofrido, mas necessário em dias atravessados por discursos meritocráticos.

3. Roma

O único da lista que tive a oportunidade de escrever a crítica. Roma é um filme para pertencer a todos. A impessoalidade de sua estética quase cromada, iluminada de maneira perfeccionista, faz surgir uma diversidade de interpretações enorme. Cuarón, além de ter feito seu filme mais pessoal, fez nascer uma obra que atinge em cheio conflitos sociais e humanitários. Com Roma, é possível entender que, de fato, as escolhas só existem quando existem as chances de escolher.

Leia também: Crítica | Roma: para que todos possam voar

2. Lazzaro Felice

Escrito e dirigido pela jovem italiana de 36 anos de idade Alice Rohrwacher (que já tem na bagagem o Grande Prêmio do Júri em Cannes por As Maravilhas), Lazzaro Felice é um acontecimento em 2018. Longe de causar burburinho ou ser utilizado em alguma campanha de mercado (como o foi o igualmente recente Bird Box), o filme é genuinamente puro no seu modo de lidar com o mundo contemporâneo e as bizarras relações de trabalho e escravidão moderna. Ao mesmo tempo em que parte desse princípio de pureza – da direção de arte ao comportamento do personagem título –, Lazzaro Felice também é perturbador ao deixar vazar, em suas entrelinhas, o quão desumana pode ser a humanidade, o que é reforçado pelo lirismo de sua mise-en-scène (em uma síntese já bem resumida: tudo aquilo que aparece nas cenas e a forma com a qual cada detalhe é montado e posicionado). A atuação de Adriano Tardiolo (o Lazzaro) exala uma bondade, um desconhecimento de qualquer mal, que as adversidades impostas pelo roteiro são desconcertantes. Lazzaro Felice é daqueles filmes para guardar no coração, na mente e na alma. Uma obra-prima longe do foco de mercado do catálogo da Netflix.

1. Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom


Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom é daqueles raros filmes que têm a força de fazer o espectador ter uma relação muito próxima através de algo muito distante. Assim, é possível que o sentimento de patriotismo para com a Ucrânia se estabeleça já nos primeiros 15 minutos. Aliado a esse fato, o documentário também tem coração o suficiente para causar reflexões que vão muito além da luta por liberdade que acompanha o subtítulo: a luta é por ser humano, por todos aqueles que querem, mais do que liberdade, a mais honesta felicidade para si e para suas famílias. O preço em Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom é alto, é doloroso, mas, simultaneamente, representa a esperança por mudanças. Fica, no mínimo, a mensagem real e atemporal de que é preciso lutar de qualquer forma, porque aqueles que detêm o poder de maneira egoísta, egocêntrica e enganosa não irão desistir de boa vontade. Esse filme, dirigido por Evgeny Afineevsky e que concorreu ao Oscar de Melhor Documentário em 2016, já figura entre os melhores do século XXI. E assim deverá permanecer por muito… muito tempo.

Bônus Adam Sandler: Os Meyerowitz – Família não se Escolhe

Repleto de diálogos realistas e, ao mesmo tempo, estranhos, Os Meyerowitz – Família não se Escolhe é de uma precisão cirúrgica na concepção da relação entre um pai e seus filhos. Muito bem alicerçado nas atuações de Dustin Hoffmann (Harold), Ben Stiller (Matthew) e Adam Sandler (Danny), o diretor e roteirista Noah Baumbach (já indicado ao Oscar pelo roteiro de A Lula e a Baleia, em 2006) fundamenta um filme cheio de humanidade, capaz de causar confusão, felicidade, acessos de raiva… sempre de uma maneira muito genuína e por meio da criação de sintonia entre filme e espectador. Os Meyerowitz – Família não se Escolhe é, também, uma prova dupla: para os fãs e para os não-adeptos da carreira de Adam Sandler. Aqui, eles podem encontrar o ator em uma das suas atuações mais relevantes (ao lado de Reine Sobre Mim e Embriagado de Amor), tanto que o ator, merecidamente, foi ovacionado no Festival de Cannes. Apesar do humor meio amargo do personagem coincidir com muito do que Sandler já fez, há detalhes que o levam muito além, são camadas e mais camadas de um homem que jamais desistiu de ser feliz, mas, mesmo assim, sente-se fracassado.

Menções honrosas

  1. Jim & Andy: The Great Beyond – Featuring a Very Special, Contractually Obligated Mention of Tony Clifton: para quem gosta de Jim Carrey ou, simplesmente, de um bom documentário;
  2. O Outro Lado do Vento: para os amantes do Cinema clássico, especialmente daqueles que nutrem alguma paixão por Orson Welles;
  3. O Peixe Grande & Begônia: para quem gosta de uma boa e reflexiva animação, estilo Studio Ghibli;
  4. Amanda Knox: para quem gosta de um bom documentário sobre crimes, condenações e afins;
  5. A Babá: para quem gosta de um trash descarado e bem produzido.

Foi uma dor tirar filmes da lista, mas tenho certeza que você vai conseguir complementar e enriquecer tudo o que está aí.

Bons (ou ruins?) filmes para nós!

Fonte: Canaltech

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