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Retrospectiva 2018 | Os grandes destaques da ciência e da astronomia




2018 foi um ano agitado para o “mundão” da ciência, em especial para a astronomia e os avanços da exploração espacial. Empresas privadas entrando na onda cada vez com mais força, com as agências estatais não deixando a peteca cair e anunciando novidades que nos maravilharam ao longo deste ano que chega ao fim.

Separamos, então, uma lista com as notícias científicas que mais se destacaram em 2018, na ordem cronológica para você fazer, junto com a gente, essa retrospectiva bacana.

Macacas clonadas com sucesso

Em janeiro, cientistas chineses conseguiram clonar macacos pela primeira vez usando a mesma técnica que fez a ovelha Dolly nascer na década de 1990. As duas filhotes clonadas, fêmeas, representaram um novo marco histórico na ciência, pois é muito mais complexo clonar um primata do que ovelhas. Com isso, demos mais um passo rumo à possibilidade científica (deixando questões éticas de lado) de se clonar seres humanos.

As duas macaquinhas clonadas (Foto: Chinese Academy of Sciences)

SpaceX lança Falcon Heavy com um carro da Tesla ao espaço

Então, no mês seguinte, Elon Musk conseguiu o feito de enviar ao espaço o seu novo e poderosíssimo foguete Falcon Heavy, levando consigo um Tesla Roadster. No interior do veículo, um traje espacial apelidado de Starman fez as vezes de um tripulante. O Falcon Heavy é capaz de levar ao espaço cargas extremamente pesadas, além de astronautas, e tudo isso com um custo inferior ao do Space Launch System (SLS) — outro foguete para lá de potente que a NASA está construindo. Mas como o SLS não deve ficar pronto até o ano de 2020, o Falcon Heavy da SpaceX pode ser usado nas próximas missões. Musk ainda afirma que o Heavy pode lançar objetos para além da órbita de Plutão.

Tesla Roadster e seu Starman no espaço (Foto: SpaceX)

Morre Stephen Hawking

Já o mês de março nos deixou com o sabor amargo de termos perdido uma das mentes mais brilhantes da ciência moderna: no dia 14, o gênio Stephen Hawking faleceu aos 76 anos, depois de décadas vivendo com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). Médicos, à época do diagnóstico, disseram que ele viveria apenas até os 30 anos de idade, mas o físico teórico, mesmo fisicamente extremamente debilitado e já incapaz de se movimentar até mesmo para falar, conseguiu contar com a tecnologia para driblar a doença, publicando 14 livros durante sua passagem pela Terra.

Agradecemos por tudo, gênio!

Telescópio espacial TESS é lançado

Em abril, a NASA lançou com sucesso o telescópio espacial TESS, que é o sucessor do Kepler no que diz respeito à “caça” por exoplanetas, já que já era sabido que o Kepler iria “morrer” neste ano. O TESS é equipado com quatro câmeras especiais com visão ampla de 85% do céu, e é capaz de estudar 20 milhões de estrelas.

Arte mostra o TESS no espaço (Imagem: NASA)

Manipulando memórias (em lesmas, ao menos)

Cientistas conseguiram, em junho, manipular com sucesso memórias em lesmas, abrindo caminho para a possibilidade de se criar algum tipo de medicamento capaz de fazer o mesmo em pessoas. Nos testes, os pesquisadores apagaram, de maneira seletiva, algumas lembranças sinápticas de longo prazo no animal. Quem sabe, graças a este marco, em um futuro próximo não sejamos capazes de tomar um “remedinho” para apagar lembranças traumáticas que ativem ansiedades e estresses pós-traumáticos sem impactar outras memórias, não é mesmo?

Moléculas orgânicas em Marte

No mesmo mês, o rover Curiosity, depois de quase seis anos estudando a cratera Gale, enfim descobriu que moléculas orgânicas são abundantes nas rochas marcianas, enquanto moléculas mais simples, como o metano, surgem sazonalmente na fina atmosfera de Marte. Compostos orgânicos são fundamentais para a existência de vida aqui na Terra e, então, a descoberta já ficou para a história da incessante busca por indícios de vida (atual ou antiga) no Planeta Vermelho.

Rover Opportunity em apuros

Também em junho, ficamos sabendo de uma intensa tempestade de poeira recobrindo Marte e, com isso, impedindo que o rover Opportunity seguisse alimentando suas baterias solares. Como a tempestade demorou demais para se dissipar, e foi intensa o suficiente para “calar” o robô por vários meses, esse pode ter sido o “prego no caixão” do robô, que está explorando o terreno marciano desde 2004. A NASA ainda não declarou a morte oficial do Opportunity, até porque, meses depois, o rover recebeu de novo os primeiros raios de luz solar e poderia voltar a se comunicar conosco. Mas, com um sinal de comunicação que se mostrou um alarme falso, a NASA se prepara para dar adeus ao guerreiro Opportunity em breve.

Visão de Marte antes e durante a tempestade que pode ter acabado com a “vida” do Opportunity

Marte nos holofotes, desta vez com água líquida em lago subterrâneo

E em julho, pesquisadores da agência espacial italiana anunciaram a descoberta de um reservatório constante de água líquida em um lago subterrâneo de Marte, que fica a 1,5km da superfície congelada de uma das calotas polares do planeta. Com isso, a possibilidade de descobrirmos a existência de vida (ainda que microbiana) por lá aumentou ainda mais.

Sonda para “tocar” o Sol

E uma sonda chamada Parker Solar Probe foi lançada pela NASA em agosto rumo ao Sol. O objetivo era chegar o mais perto possível do nosso astro, batendo todos os recordes anteriores, com a missão sendo desvendar segredos do Sol, estudando especialmente a coroa solar — muito mais quente do que a superfície do Sol. E, agora no final do ano, a Parker nos presenteou com a primeira foto registrada dentro da atmosfera solar.

A foto que a sonda Parker tirou de dentro da atmosfera solar (Foto: NASA)

A “treta” do buraco na Soyuz

Já no comecinho de setembro, um vazamento de oxigênio na Estação Espacial Internacional causou uma polêmica cujos desdobramentos talvez ficarão para 2019: é que encontraram um buraco, inicialmente sob a suspeita de ter sido causado por um meteorito) na cápsula russa Soyuz, acoplada à ISS. O pequeno furo de cerca de 2 milímetros foi fechado com um material selante pelos astronautas que ali estavam no momento, e logo depois começou uma investigação preliminar para descobrir o que havia, de fato, causado o buraco. A Rússia até chegou a acusar a NASA de sabotagem, que, por sua vez, negou veementemente a acusação — o que deixou um climão enorme no ar. Em dezembro, uma dupla de cosmonautas recém-chegada à ISS fez uma caminhada espacial para inspecionar a nave, que retornou à Terra no mesmo mês.

O pequeno buraco que rende uma grande polêmica

Rata bimaternal tem ninhada saudável

Mais um feito da ciência chinesa aconteceu em outubro: depois de gerarem uma ninhada de ratos a partir de duas mães, sem nenhum macho envolvido, os cientistas conseguiram fazer com que uma filhote fêmea desse cruzamento tivesse sua própria ninhada saudável. A rata bimaternal (com duas mães) era saudável o suficiente para tal, enquanto os machos acabaram morrendo logo após o nascimento. A pesquisa visa, no futuro, o desenvolvimento de soluções para que casais do mesmo sexo possam reproduzir filhos saudáveis.

A ratinha bimaternal com seus filhotes (Foto: LEYUN WANG)

Adeus, Kepler!

No mesmo mês, demos adeus ao telescópio espacial Kepler, lançado em 2009 pela NASA e ficando conhecido como “o caçador de exoplanetas”. Já era sabido que seu combustível não duraria por mais muito tempo, com sua “morte” sendo, então, uma tragédia anunciada. Com ele, a agência espacial dos EUA conseguiu descobrir mais de 2.600 planetas orbitando outras estrelas além do Sol e, graças ao Kepler, conseguimos saber que entre 20% e 50% das estrelas da Via Láctea têm planetas potencialmente rochosos nas zonas habitáveis de suas órbitas. O legado do Kepler agora passa para as “mãos” do TESS, lançado em abril.

Alguns números da história do Kepler (Imagem: NASA)

Falha em foguete russo e pouso de emergência de astronautas

Também em outubro, a agência espacial russa (Roscosmos) se viu envolvida em mais uma polêmica: depois do buraco na cápsula Soyuz acoplada à ISS, desta vez o problema foi uma falha no lançamento de um foguete Soyuz, que levava consigo três tripulantes à ISS. O trio conseguiu realizar manobras emergenciais e voltar em segurança à Terra, mas o “causo” esquentou ainda mais a “torta de climão” entre EUA e Rússia. Mas tudo acabou bem: em dezembro, um novo Soyuz conseguiu, com sucesso, levar uma outra tripulação à ISS.

Missão BepiColombo para estudar Mercúrio

A BepiColombo, a primeira missão conjunta entre a agência espacial europeia (ESA) e a agência aeroespacial do Japão (JAXA), foi lançada em outubro rumo a Mercúrio. O lançamento, na verdade, enviou três espaçonaves carregando dois orbitadores (um de cada agência), cujos instrumentos capturarão imagens e farão medições sobre este que é o primeiro, o menor e o mais desconhecido planeta do Sistema Solar. A sonda chegará por lá em dezembro de 2025, sendo a segunda missão enviada pela humanidade para o planetinha.

Arte mostra a BepiColombo perto de Mercúrio (Imagem: ESA)

Mais uma sonda em Marte

Aí, em novembro, mais uma sonda foi enviada pela NASA para Marte: a InSight estudará o interior do planeta, equipada com um sismógrafo para desvendar o fenômeno dos “marsquakes” — equivalentes aos terremotos de nosso planeta. Logo depois de chegar lá, a InSight gravou, pela primeira vez na história, o som dos ventos de Marte.

A sonda InSight estudará o interior de Marte (Imagem: NASA)

Redefinição do quilo

E o mês de novembro nos trouxe um outro marco histórico na ciência: o da redefinição do quilograma. Por 129 anos, o valor do quilograma foi definido com base em um artefato físico, que é um pedaço de platina-irídio armazenado em um cofre em Paris. Este artefato ficou conhecido como o protótipo internacional do quilograma, mas possíveis contaminações acabaram alterando seu peso e, então, o sistema métrico ficou ameaçado por conta disso. A solução do Bureau Internacional de Pesos e Medidas, então, foi redefinir o que dita o quilograma: a partir disso, o kg passou a ser definido usando uma constante da natureza, com o cálculo para definir o que é um quilograma usando como base a constante de Planck — a menor quantidade de energia possível. Outras três unidades foram redefinidas, por sinal: o ampere, o Kelvin e o mol.

Pousando no lado afastado da Lua

A agência espacial chinesa (CNSA) lançou em dezembro a sonda Chang’e 4 rumo ao lado afastado da Lua. Este será o primeiro pouso de uma sonda humana no hemisfério lunar que não pode ser visto da Terra, com o pouso acontecendo por volta do dia 1ª de janeiro. O objetivo dos chineses é estudar o solo lunar deste outro lado do satélite natural, analisando, também, a possibilidade de cultivar vegetais por lá.

Arte mostra a Chang’e 4 no lado afastado da Lua (Imagem: CNSA)

Voyager 2 entrando no espaço interestelar

Encerrando a retrospectiva com as notícias científicas mais importantes de 2018, está o novo feito da sonda Voyager 2, lançada em 1977. Em dezembro, foi confirmado que ela se tornou o segundo objeto fabricado pelo homem a entrar no espaço interestelar, depois de sua sonda-irmã Voyager 1 ter feito isso há alguns anos. A Voyager 2 saiu da heliosfera, que é a “bolha” protetora de partículas e campos magnéticos criados pelo Sol, atravessando a heliopausa (a borda externa da heliosfera). No entanto, sair da heliosfera não é sinônimo de sair do Sistema Solar: o limite oficial de nosso sistema é considerado além da borda externa da Nuvem de Oort, que abriga um montão de pequenos objetos que ainda estão sob alguma influência da gravidade solar. E como a Nuvem de Oort é imensa, estima-se que levará cerca de 300 anos para que as Voyagers alcancem a borda externa da região, possivelmente levando 30 mil anos para saírem totalmente dali e, aí sim, abandonando de vez o Sistema Solar.

Alguns dos feitos da Voyager 2 (Imagem: NASA)

Fonte: Canaltech

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