Ciência & Tecnologia

Use o fracasso como medalha de honra,diz professor americano




Presidente da Timeflash, presidente do Banco Riverbank e professor de empreendedorismo da Wharton School, Peter Kash é um dos principais investidores de empresas de saúde e tecnologia da última década. O americano está no Brasil para uma breve passagem durante a qual fará uma palestra não sobre os sucessos e os negócios bem-sucedidos, mas sobre o fracasso.

Em entrevista ao Terra, Kash falou sobre a sua carreira, cuja trajetória também será abordada na apresentação que fará na tarde desta quinta-feira no YouPix, evento de tecnologia e internet que ocorre em São Paulo até sábado.

Kash revelou que teve um começo de carreira muito humilde e que fracassou várias vezes. Mas sempre deu a volta por cima, seguindo ensinamento de um ex-chefe. “Ele só contratava gerentes que tinham fracassado em algum ponto na vida. Pois, uma vez que eles sentiram o gosto do fracasso, eles não vão querer mais sentir de novo”, diz Kash.

O professor cita como exemplo duas personalidades americanas: Thomas Edison – inventor da lâmpada elétrica depois de nove mil testes sem sucesso – e o ex-jogador de basquete Michael Jordan. Peter Kash lembra de um comercial de TV em que Jordan diz que quando lembra do basquete não lembra dos títulos e dos grandes jogos, mas dos cinco mil arremessos que errou.

“Nos Estados Unidos, o fracasso é uma medalha de honra. Use ele como uma medalha de honra”, afirma o professor, que também é autor de dois livros sobre o tema, Make Your Own Luck e Restart.

Caminho através do fracasso
Peter Kash, doutor em educação pela Yeshiva University e possui MBA em Finanças pela Pace University, dá os caminhos para uma pessoa “sair do buraco”, caso se encontre em uma situação difícil.

“Primeiro, admita o fracasso. As pessoas devem admitir, ‘OK, fracassamos’. Esse é o passo mais difícil, pois a maioria das pessoas não reconhece quando falham”, explica o professor. “Não tem problema dar cinco passos para trás para dar 20 para frente. O fracasso é uma jornada para o sucesso”.

Ele também ensina que a rejeição é parte do processo e que toda pessoa deve agradecer quando é rejeitada, pois em um futuro o “não” poderá se tornar em “sim”. “Se eu abraçar a rejeição, talvez eu possa usá-la como ferramenta para me tornar mais forte”, diz o autor que afirma ter sido rejeitado várias vezes. Ele fez, por exemplo, quatro a cinco vezes para fechar um negócio mesmo após uma resposta negativa.

O próximo passo para melhorar a situação é, ao contrário do que ensinam ao fazer um plano de negócios indo do início a outra etapa, é preciso começar na segunda etapa para depois criar o projeto. “Eu digo aos meus alunos, quando você faz um plano de negócios faça do “B” para o “A” e não do “A” para o “B”. Visualize o futuro, veja uma imagem maior do quadro em dez anos”, indica o palestrante ao lembrar que em 80% dos restaurantes nos Estados Unidos fecham nos primeiros três anos de operações por falta de planejamento.

Por fim a última etapa do processo é adição de um quinto “P” no sistema de marketing os “quatro Ps” “Nas aulas de MBA de Marketing no Brasil eles ensinam os 4 Ps: preço, produto, promoção e lugar. Agora eu acredito que tem um quinto P, “probe” (do inglês, sondagem). Faça sondagens. Tenha um retorno de seu cliente. A maioria dos empreendedores tem medo, como um homem que sai com sua mulher muito bonita para ir ao shopping”, brinca o executivo.

Brasil e a cultura do fracasso
Questionado sobre como o Brasil pode mudar de mentalidade, ao apoiar empresas e empreendedores que uma vez fracassaram, Peter Kash cita o filosofo grego Sócrates para mudar a mentalidade do brasileiro. “Sócrates criou três regras para a sociedade grega. Primeiro, veja como vocês tratam seu membro mais fraco. Depois, imagine-se na posição de outro. E por fim, sempre existe uma possibilidade no fracasso”, afirma o professor, que cita o próprio exemplo de fracasso no começo de sua carreira. “Quando eu conheci minha esposa eu era tão pobre que não podia pagar uma pizza e um cinema para ela, tinha que escolher um ou outro. Eu me casei com ela com apenas US$ 3 mil no banco”.

Peter Kash, que atualmente trabalha na companhia Time Flash, uma espécie de cápsula do tempo que permite gravar vídeos e enviá-los para uma pessoa no futuro via iPhone ou celular com Android, afirma que acredita no Brasil, tanto que possui sócios por aqui e pretende ampliar seus negócios no País.

“Eu adoro o Brasil, toda vez que venho aqui sou bem tratado. Em qualquer lugar que eu vou me oferecem um xícara de café ou água. Isso não existe em nenhum lugar do mundo. Acredito que com todo esse petróleo e gás que vocês têm, em breve vão se tornar a maior economia do mundo”, diz Kash que citou como exemplo o caso de uma secretária brasileira que o atendeu mesmo sem falar inglês.

“Se fosse em outro lugar do mundo, ela pediria para ligar depois. Mas ela me colocou na linha com o chefe dela na mesma hora. E dei uma boa recomendação à ela. Vocês brasileiros ainda não valorizam isso, mas para nós americanos cada pessoa vale. Talvez essa seja a lição mais importante. Um empreendedor não pode ter ego. Ele tem que tratar todo mundo igual”, afirma. Ele lembra que uma secretária da rede varejista Home Depot possui US$ 12 milhões em ações da empresa e uma massagista possui US$ 10 milhões em ações do Google.

Para ele, com essas ações mesmo um ex-bilionário como Eike Batista pode voltar à riqueza. “Se você olhar nos EUA, das 400 famílias mais ricas do país 80% quase chegaram a pobreza. E tem tantos outros exemplos, como equipes de futebol e atletas que foram ao fundo do poço e voltaram.”

Empreendedorismo
Peter Kash também foi abordado sobre seus vários anos como investidor e como ele conseguiu descobrir empresas de sucesso em meio ao fracasso, com sua passagem pelo Riverbank, um dos principais investidores de tecnologia dos Estados Unidos.

“Para descobrir uma startup, é simples. Acorde de manhã e saia para a rua. É isso, não tem segredo, a não ser olhar para o novo e ver uma série de oportunidades”, diz. Ele cita uma série de produtos e serviços de empreendedorismo social, como alerta e alimentação para idosos e até espelho para ver “o ponto cego” do motorista, produtos que não existem no Brasil mas podem se tornar uma oportunidade.

Ele finaliza dizendo que para ser empreendedor, não é necessário criar algo, mas sim comprar. “Você pode comprar um produto fora, uma licença. Sai muito mais barato do que criar algo do zero”.

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