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Cientistas conseguem recriar voz de múmia de mais de 3.000 mil anos; ouça!




Cientistas conseguem recriar voz de múmia de mais de 3.000 mil anos; ouça! - 1

Quando falamos sobre vida após a morte num sentido físico, normalmente o que nos vem em mente são aqueles filmes onde zumbis ou múmias retornam à vida para matar todos os que estão próximos, mas a ciência conseguiu fazer algo até então inimaginável: dar “voz” a alguém morto há milhares de anos.

Isso foi possível porque pesquisadores da Universidade de Londres Royal Holloway, da Universidade de York e do Museu de Leeds desenvolveram um artefato capaz de fazer com que uma múmia egípcia de um sacerdote que morreu há mais de 3000 anos conseguisse emitir novamente um som por suas cordas vocais.

No caso, quem “ganhou voz” depois de 3000 anos foi a múmia de Nesyamun, que viveu no período do Faraó Ramsés XI, entre os anos de 1099 AC e 1069 AC. Quando vivo, o sacerdote pregava na cidade de Tebas (cidade que fica 800 km ao sul do Delta do Nilo e que durante cerca de 500 anos foi a capital do Império Novo do Egito — não confundir cidade-estado de Tebas, que fica na Grécia e que teve papel importante durante a Guerra do Peloponeso).


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Para conseguir fazer com que a múmia “falasse”, os pesquisadores usaram uma impressora 3D para criar uma caixa vocal com as mesmas dimensões exatas do trato vocal de Nesyamun, e então utilizaram esse equipamento para conseguir sintetizar um som de vogal surgido da garganta da múmia, que soaria igual à voz do sacerdote quando estava vivo — e você pode ouvir como é essa voz no vídeo abaixo.

Em artigo publicado na revista Scientific Reports nesta quinta (23), a co-autora do projeto, Joann Fletcher (professora de arqueologia da Universidade de York), afirma que essa técnica de recriação de voz é uma oportunidade única para se escutar a voz de pessoas que morreram há centenas e milhares de anos — desde, claro, que o corpo delas esteja preservado, como é o caso da múmia de Nesyamun.

Já John Schofield, também professor de arqueologia da Universidade de York, revelou à BBC que era o desejo do sacerdote ter sua voz ouvida depois de morto, já que esse tipo de coisa fazia parte do sistema de crenças da época, e um pedido do tipo estava até mesmo inscrito na tampa do sarcófago dele.

Falando com os mortos

Mas como os cientistas conseguiram produzir um som da garganta de uma múmia de 3.000 anos de idade? Para entender isso, primeiro precisamos saber como funciona nossa voz: o som que emitimos é produzido pela vibração das cordas vocais que ficam na laringe, mas essa vibração só se torna um som real após passar pelo trato vocal, que é uma espécie de “caixa acústica” que ajuda a transformar a vibração das cordas no som encorpado de nossa voz, em um funcionamento de vibração similar ao das cordas de um violão.

Assim, para se produzir um som que fosse igual ao da voz do sacerdote, foi necessário analisar toda a estrutura de sua garganta para se conseguir a medida exato do trato vocal dele, criando assim um modelo com o uso de uma impressora 3D.

Cientistas conseguem recriar voz de múmia de mais de 3.000 mil anos; ouça! - 2
Modelo em 3D do trato vocal de Nesyamun, aqui separado em duas metades (Imagem: Scientific Reports)

A partir daí, eles conseguiram “emular” o movimento das cordas vocais usando uma técnica de geração de som por laringe artificial (um método muito comum utilizado em aparelhos sintetizadores de fala) e então esse som, ao passar pelo trato vocal feito com as exatas mesmas medidas que Nesyamun possuiu em vida, permitiu que fosse possível se conseguir uma amostra sonora do sacerdote.

Mas, claro, isso não é algo passível de ser feito com qualquer cadáver: para que essa técnica funcione, o tecido mole do trato vocal do cadáver esteja praticamente intacto, o que só é possível normalmente nos casos de pessoas que morreram há pouco tempo ou em casos raros como o de Nesyamun, em que o processo de mumificação garantiu que não houvesse praticamente nenhuma deterioração no tecido.

Para os autores do estudo, o próximo passo agora será juntar essa técnica com modelos computadorizados para gerar mais do que apenas um único som e conseguir interligar uma sequência de fonemas para que o morto consiga dizer palavras e até mesmo frases inteiras. Um feito inédito para a ciência!

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Fonte: Canaltech

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