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IA consegue prever se você terá aneurismas cerebrais; mas é seguro usá-la?




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Está rolando mundo afora uma febre em torno do exames de sequenciamento de genoma, inclusive com venda de kits acessíveis, para descoberta das particularidades do DNA e promessas de que os resultados podem ajudar na prevenção de algumas doenças. Ainda nessa seara de produtos, já é possível rastrear seu cérebro com a detecção antecipada de aneurismas. usando a inteligência artificial de uma ferramenta chamada EIRL — que leva o nome da deusa nórdica Eir, conhecida por suas habilidades de cura.

Mas a coisa não é tão simples e promissora quanto parece. Existem riscos envolvendo essas análise, tais como os poucos estudos sobre os resultados, potenciais riscos de ataques hackers e falhas algorítmicas.

Prevendo aneurismas

Fundada no Japão, A EIRL é capaz de prever se aneurismas cerebrais já existem e é resultado de pesquisas da LPixel, uma das maiores empresas do país em inteligência artificial voltada à área da saúde, com sede em Tóquio.


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Funciona assim: após uma sessão de ressonância magnética, as imagens são carregadas na nuvem e o algoritmo inicia sua análise em busca de anormalidades. Cada exame é também verificado por um radiologista, seguido por um neurocirurgião. Após 10 dias, é entregue para o paciente o relatório final.

O algoritmo da EIRL foi desenvolvido com base em dados extraídos de mais de 1.000 imagens com aneurismas cerebrais confirmados, em parceria com quatro universidades japonesas, incluindo a Universidade de Tóquio e a Universidade de Osaka. Dados de um estudo de 2019, da LPixel e de suas universidades parceiras, descobriram que a EIRL tinha uma alta sensibilidade de acerto, entre 91 e 93%, para aneurismas cerebrais.

Segundo o gerente de projetos da LPixel, Mariko Takahashi, o EIRL difere dos dispositivos assistidos por computador, pois há um componente de aprendizado: “O EIRL se torna mais preciso quanto mais é usado”. Segundo o executivo, o programa detectou casos de aneurismas que requerem atenção médica imediata, mesmo que os pacientes não apresentassem sintomas.

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Exame cerebral que será analisado pelo EIRL pode prever aneurismas cerebrais (Fonte: EIRL)

Dada a sua eficácia, o algoritmo foi aprovado pela Agência Japonesa de Dispositivos Médicos e Farmacêuticos (PMDA), na categoria de software, em setembro. Ele é inteiramente baseado em pacientes japoneses, mas pode ser generalizado para outras populações, de acordo com Takahashi.

Embora pesquisas mostrem que a anatomia dos vasos cerebrais de japoneses pode variar um pouco em relação a outros grupos étnicos, o algorítimo pode ser ajustado com mais imagens para aprender mais (machine learning) e atender mais populações pelo mundo.

Vale a pena?

A resposta para essa pergunta é complicada e muito pessoal. Por exemplo, nos EUA e no Canadá, há um esforço para reduzir testes desnecessários, o que inclui a limitação aos que são mais baratos e efetivamente mostraram reduzir a probabilidade de doenças, como câncer de mama e de cólon.

Atualmente, nos EUA, Canadá e Reino Unido, não existe um programa de triagem recomendado para toda a população voltado especificamente a aneurismas cerebrais, e o American College of Radiology recomenda que as ressonâncias magnéticas de cabeça e pescoço sejam limitadas a situações em que existam sintomas sugerindo uma patologia, como tumores, ou em casos em que possa haver metástase cerebral de outro câncer, como o de mama.

Existem perigos para o excesso de exposição, principalmente, quando se trata do cérebro, ainda mais em testes desnecessários e invasivos. Quando você procura por anormalidades no órgão, pode encontrar coisas que não esperava descobrir — por exemplo, um “incidentaloma”, que é uma lesão que não é necessariamente prejudicial ou pode ser apenas uma variação normal da anatomia humana.

Essa descoberta pode ocorrer em até um terço dos pacientes saudáveis e os danos envolvidos na investigação destes, como o risco de infecção ao obter uma amostra, podem superar os seus benefícios.

No entanto, aqueles com alto risco de aneurisma, com histórico familiar, podem se beneficiar com a triagem. No Japão, os aneurismas cerebrais são mais comuns em comparação com populações de outros países, uma questão que também pode ser levanatda pelo fato de mais pessoas optarem por serem rastreadas.

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Análise dos resultados pelo software EIRL (Fonte: EIRL)

Outra particularidade japonesa é que a triagem por ressonância magnética no país é mais acessível. Por exemplo, lá, uma ressonância magnética de cabeça custa de US$ 200 a US$ 300, o que é cerca de 50% a 75% mais barata do que na América do Norte.

Sobre essas questões, o Dr. Eric Topol, médico e autor do livro Deep Medicine: Artificial Intelligence in Healthcare, afirma: “Não há dúvida de que a IA ajudará na precisão da interpretação da imagem do cérebro (significando a fusão de máquina e do neurorradiologista), mas existem desvantagens, como a falta de estudos prospectivos no ambiente real do mundo clínico; potencial para malware e falhas algorítmicas e muito mais”.

“Pessoalmente, não vejo o benefício de usar a tecnologia de IA para ‘triagem’ de aneurismas cerebrais no momento, pois não há dados ou evidências para apoiar as vantagens, pelo menos em pacientes sem sintomas relevantes”, afirma Topol.

Mais opções no mercado

Apesar de novo, o EIRL já tem concorrentes, como uma startup coreana chamada Deepnoid, que está desenvolvendo uma farramenta bem parecida. Além disso, a  GE Healthcare está usando tomografias computadorizadas para detectar aneurismas. Concorrentes na Bélgica e na China também usam IA para detectar tumores cerebrais.

A LPixel espera que no ano que vem ocorra a aprovação do EIRL pela Food and Drug Administration (FDA), agência federal americana similar à Anvisa. Em busca da certificação, a empresa trabalha para garantir que atenda a regulamentação em conformidade com a HIPPA, lei americana para seguros de saúde, além de oferecer para seus pacientes privacidade, eficácia e segurança.

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Fonte: Canaltech

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