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Rússia desliga boa parte da internet do país em teste de monitoramento




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Na segunda-feira (23), a Rússia desligou a internet de uma boa parte dos cidadãos do país para testar o controverso programa RuNet, que irá desmembrar a Rússia da rede mundial de computadores.

Desenvolvido para que o governo russo possa ter um maior controle sobre o tráfego de dados digitais do país e, assim, conseguir se proteger melhor de ciberataques, a maior crítica para o RuNet é que ele também dá ao governo acesso total a todas as informações de acesso de qualquer cidadão do país, e pode ser usado para encontrar e perseguir opositores do governo Putin.

O teste desta segunda-feira deverá avaliar se, com o uso da ferramenta, será possível interceptar dados enviados pela rede e, a partir deles, descobrir a identidade de quem os enviou, bloqueando o acesso dessa pessoa à internet. Essa é a explicação dada por um documento oficial sobre o teste redigido pelo Ministério de Desenvolvimento Digital e Meios de Comunicação de Massa da Rússia, que afirmava inicialmente que o teste deveria ocorrer no dia 19 de dezembro, mas que ele havia sido reagendado para o dia 23.


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Apesar desse documento, que foi repassado para oficiais do governo russo no dia 5 de dezembro, não ter sido publicado oficialmente, ele acabou sendo postado na última quarta-feira (18) em um famoso canal de TI no Telegram, e dias depois foi confirmado como sendo real por Andrei Polyakov, porta-voz da Rostelecom, a maior companhia de telefonia da Rússia.

A permissão para a construção da RuNet, que permite que o governo do país filtre tudo o que pode ou não ser acessado na internet por seus cidadãos, foi aprovada em abril, quando então iniciou-se o desenvolvimento desta ferramenta. Desde então, diversos grupos de direitos humanos e do consumidor tem lutado pela derrubada desta lei, notando que todo e qualquer bloqueio efetuado será algo feito diretamente entre o governo do país e as operadoras de internet, e sem qualquer tipo de transparência. Isso quer dizer que a população do país não irá nunca saber os motivos de um conteúdo ter sido bloqueado.

De acordo com o governo Putin, o principal motivo para desenvolver a RuNet é o de segurança nacional. Com uma ferramenta que permita ao país ter acesso a todos os dados que circulam por sua internet, seria possível identificar rapidamente uma ameaça à soberania nacional (como um ataque hacker visando os sistemas das companhias geradoras de energia elétrica com o intuito de deixar o país no escuro) e então separar toda a rede das companhias elétricas de todo o resto da internet, impedindo assim que o ataque seja bem sucedido.

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Mas, como é possível ver no documento que fala sobre os objetivos do teste desta segunda, a RuNet também tem o poder de identificar exatamente quem é o remetente daqueles dados, e ao mesmo tempo que ela pode ser usada para identificar o autor de um ataque ciberterrorista, também pode ser usada para identificar de qual computador foi enviado uma crítica anônima ao governo Putin — o que é extremamente perigoso em um país onde, diariamente, opositores do regime “somem” depois de serem visitados pela polícia e até mesmo críticos que vivem em outros países são encontrado mortos, vítimas de envenenamento.

Além disso, o sucesso do teste russo pode ter implicações mundiais: caso o país seja bem sucedido em separar os acessos domésticos de todo o resto da internet, outros países podem se sentir compelidos a seguir pelo mesmo caminho, fragmentando o acesso no nível local e acabando assim com a ideia de uma rede de computadores livre e mundial que desde sempre foi o objetivo maior de existência da internet.

Outra preocupação é que esse tipo de separação irá permitir que os hackers russos influenciem o restante do mundo sem qualquer medo de serem pegos, já que ao separar a internet do resto do mundo, a Rússia pode bloquear facilmente qualquer tentativa de detecção estrangeira de qualquer atividade online proveniente do país. Segundo o dDepartamento de Justiça dos EUA, hackers ligados ao governo russo estiveram por trás de manipulações recentes nas eleições presidenciai dos Estados Unidos, do Brasil e no referendo sobre o Brexit no Reino Unido, e há um receio de que, com uma maior proteção, esses hackers passem a atacar diretamente governos, acadêmicos e até mesmo bases militares de países que se mostrem contrários às ideias de Putin.

Fonte: Canaltech

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