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Chineses donos do Grindr tiveram acesso a dados de usuários por meses




Chineses donos do Grindr tiveram acesso a dados de usuários por meses - 1

Em março, o Canaltech noticiou a possível venda do Grindr, app de relacionamentos voltado para o público gay que hoje é propriedade da companhia chinesa Kunlun Tech. Na ocasião, preocupações foram levantadas pelo Comitê de Investimento Estrangeiro dos EUA (CFIUS) de que a empresa, que obteve acesso ao banco de dados de usuários do aplicativo, poderia fazer mau uso dessas informações sigilosas.

Ontem (27), a agência de notícias Reuters publicou reportagem mostrando que o assunto ainda segue em discussão, mas que o “causo” é bem mais longo do que parecia inicialmente: de acordo com oito fontes — todos ex-empregados que trabalharam no app —, após tomar o controle total do Grindr em janeiro de 2018, a Kunlun Tech começou um processo de “aprimoramento do app”, pedindo a seus engenheiros e desenvolvedores que identificassem pontos onde o Grindr pudesse ser melhorado. No meio dessa pesquisa, a empresa chinesa obteve o dito acesso à base de dados.

Não foram encontradas evidências de mau uso das informações, segundo a Reuters, mas a empresa tomou, conhecidamente, a decisão de dar esse acesso aos seus engenheiros em Beijing, onde é sediada, o que provou ser uma manobra equivocada que trouxe a atenção do CFIUS e subsequentes ordens de venda do app — o que ainda não aconteceu. Em março, a Kunlun Tech já estava procurando investidores americanos para promover a venda. Entretanto, a nota da Reuters mostra que, “por baixo dos panos”, a empresa chinesa segue tentando salvar seu negócio.


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“O CFIUS Opera sob a presunção de que, seja por meios ilegais ou legais, as agências de inteligência chinesas poderiam prontamente acessar informações armazenadas por empresas privadas chinesas se quisessem”, disse Rod Hunter, um advogado do escritório Baker & McKenzie LLP e que já trabalhou como gerente de revisão de processos do CFIUS durante a administração do ex-presidente George W. Bush.

Segundo ele, o medo com a aquisição é o de que empresas e governo chineses tenham como determinar se o Grindr é utilizado, por exemplo, por oficiais do governo americano ou membros do braço militar estadunidense. Em posicionamento oficial, o Ministério de Relações Exteriores da China disse que estava ciente da situação com o Grindr e pediu que os Estados Unidos permitissem a competição justa de mercado e que não polemizasse percalços econômicos.

“O governo chinês sempre encoraja empresas do país a conduzirem cooperações econômicas e comerciais no estrangeiro de acordo com normas internacionais e leis locais”, diz o comunicado.

A Kunlun Tech promoveu a aquisição do Grindr em duas ocasiões: em 2016, a empresa adquiriu 60% do aplicativo, completando os outros 40% em janeiro de 2018. Essa segunda aquisição formalizou a saída do então CEO e fundador do Grindr, Joel Simkhai. Nesta mesma época, processos de desenvolvimento do aplicativo migraram de West Hollywood, onde era a sede do app quando em mãos americanas, para Beijing.

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O Grindr tem mais de 4 milhões de usuários diários ativos, mas gerenciamento do app por empresa chinesa causou preocupações com mau uso de dados privados

Pouco a pouco, funcionários e terceirizados do ocidente foram demitidos ou pediram demissão, até que tudo culminou na transferência da maior parte dos processos para Beijing. Alguns remanescentes americanos, na época, levantaram preocupações sobre uso de dados e privacidade de usuários, mas o novo gerenciamento disse que não havia causa para preocupações.

Adicionando suspeitas, a Kunlun Tech começou a separar o Grindr de si, meio que formando uma nova empresa, transferindo funcionários para ela e até alugando espaço corporativo (que viria a ser descartado meses depois). Um painel de análise do CFIUS pediu que a Kunlun Tech, que também é dona do AppLovin’ e de parte do navegador Opera, vendesse o Grindr de volta para uma empresa ou investidor americano.

Em março, a empresa divulgou sua busca por investidores. Mas uma das fontes da Reuters disse que a propriedade do Grindr pelos chineses vinha sendo defendida por eles até semana passada. Agora, a posição oficial é a de que a Kunlun Tech vai vender o aplicativo até junho de 2020.

O Grindr tem cerca de 4,5 milhões de usuários ativos diários.

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Fonte: Canaltech

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