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Exame do Butantan detecta leptospirose no início da doença




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Pesquisadores do Instituto Butantan trabalham em um novo exame para o diagnóstico de casos de leptospirose, durante a fase inicial, usando a proteína quimérica rChi2. Os resultados iniciais são promissores e podem ajudar o Brasil a controlar esta doença transmitida pela urina de ratos, diretamente relacionada com enchentes e comunidades em situações precárias.

Durante os testes iniciais do Butantan, foi possível detectar a infecção da leptospirose em mais de 70% dos pacientes que tinham obtido resultados falsos negativos nos primeiros dias de sintomas. Em outras palavras, o exame é mais preciso que outras alternativas disponíveis ao menos na fase inicial, conforme indica o estudo publicado na revista Tropical Medicine and Infectious Disease.

Como funciona o exame?

Para diagnosticar a leptospirose, o teste do Butantan utiliza uma proteína quimérica recombinante, construída de forma sintética, apellidada de rChi2. Esta é composta por fragmentos de 10 proteínas encontradas na bactéria que causa a doença.


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A proteína melhora os diagnósticos sorológicos do tipo ELISA, ou seja, aqueles que avaliam a presença de anticorpos no soro (sangue) de pacientes através da reação com antígenos.

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Novo teste do Butantan consegue identificar casos de leptospirose nos primeiros dias de sintomas (Imagem: DCStudio/Freepik)

Basicamente, se o “sangue” do paciente contiver anticorpos contra a leptospirose, eles vão se ligar a essa proteína quimérica do Butantan, dando um resultado positivo no exame. Segundo os cientistas, a estratégia consegue captar a doença até nos estágios mais iniciais, ou seja, nos primeiros dias de sintomas.

Outra vantagem do teste é que ele mostrou ter 99% de especificidade, não apresentando reação cruzada com outras doenças infecciosas, como dengue e HIV, por exemplo.

Resultados em menos tempo

“No diagnóstico convencional, chamado de MAT, o soro do paciente é colocado em contato com Leptospiras [bactérias] vivas que se aglutinam na presença de anticorpos [resultado positivo]”, explica Luis Guilherme Virgílio Fernandes, biotecnólogo e o primeiro autor do estudo, em nota.

“O problema é que demora mais de 10 dias para o indivíduo produzir esses anticorpos aglutinantes, dificultando a identificação precoce da doença”, explica Fernandes. Este tempo pode ser longo demais. Além disso, são poucos os laboratórios que realizam este tipo de exame.

Teste rápido do Butantan?

No futuro, a mesma equipe liderada pela pesquisadora Ana Lucia Tabet Oller Nascimento pretende transformar o exame em um teste rápido para a leptospirose, igual aos disponíveis em farmácias para testar a covid-19. Só que, nesse caso, em vez de secreção nasal ou saliva, a amostra precisaria ser de urina ou de sangue.

Leptospirose no Brasil

Segundo o Ministério da Saúde, na fase inicial, a leptospirose provoca sintomas inespecíficos — febre, dor muscular e vômitos — e pode ser confundida com diferentes doenças, como dengue, influenza (gripe), malária, toxoplasmose ou mesmo febre tifóide. Dessa forma, métodos rápidos e precisos de diagnósticos são fundamentais, ainda mais no país.

Para dimensionar o problema, em 2023, foram registrados oficialmente 2,7 mil casos de leptospirose no Brasil, incluindo 236 mortes. O estado de São Paulo lidera em óbitos, com 69. Embora os números já sejam considerados altos, eles ainda podem aumentar com as atualizações no sistema que podem ocorrer ainda neste primeiro semestre.

Lembrando que, quando há o diagnóstico precoce da infecção provocada pela bactéria Leptospira, as chances de sucesso do tratamento aumentam significativamente. Isso evitaria os quadros de hemorragia pulmonar, uma das possíveis complicações da infecção, marcada pela alta letalidade. Esta é uma possibilidade que o novo exame do Butantan poderá fornecer, se for confirmada a sua efetividade e chegar ao mercado de forma acessível.

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Fonte: Canaltech

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