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Crítica | Cópias, novo filme de Keanu Reeves, é um sci-fi vazio e confuso




Crítica | Cópias, novo filme de Keanu Reeves, é um sci-fi vazio e confuso - 1

Cópias – De Volta à Vida é um filme no mínimo curioso. A trama, protagonizada por Keanu Reeves na pele do neurocientista Will Foster, busca flertar com a ficção científica, dilemas éticos e questões morais. Contudo, esbarra em um roteiro tão raso quanto os investimentos em efeitos especiais que o longa pede.

Foster é um pai de uma uma família de três filhos que se muda para uma cidade latina, ambientada em Porto Rico, onde ele fez experimentos para uma empresa de biomedicina. O grande ponto de ficção científica gira em torno da tentativa de clonar a consciência humana dentro de uma máquina humanoide, cujo desenho é quase que completamente copiado de Eu, Robô.

Dilema ético?

Em um momento no qual há Black Mirror, ou até mesmo Homo Deus, livro de Yuval Harari, ambos que tocam no ponto do ser humano imortalizado em uma máquina, Cópias nem mesmo começa a engatinhar no dilema ético em torno do tema. Contudo, tenta de forma pífia o tempo todo.


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Foster está para lá da 300ª tentativa de criar um algoritmo capaz de passar todos os dados coletados de pessoas mortas e colocar em seu protótipo de androide. Ao comentar a falha com sua esposa, também médica, ela pergunta pela primeira vez no filme: “Mas isso não é antiético?”. Sério, depois de trezentas vezes, é agora que o debate começa?

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Android tem cérebro capaz de receber informações de outra pessoa (Foto: Divulgação/Paris Filmes)

O filme começa em uma toada até que boa, apresentando o conceito simples: uma máquina faz o download da mente da pessoa, outra precisa baixar os arquivos para o robô. Simples assim. O grande desafio da vida de Foster.

Contudo, a sua jornada é interrompida, como mostra o trailer, por conta de um acidente que lhe toma toda a família. Aqui, até poderia haver um tom de mistério, mas juntar os pontos é extremamente fácil.

Foster é capaz de clonar a mente de uma pessoa morta, como o acidente que lhe acontece com a família. Junte esses pontos com o nome do filme, Cópias – De Volta à Vida, e bem, não é preciso dizer o que acontece.

O neurocientista conta com a ajuda de Ed (Thomas Middleditch, de Silicon Valley), que embarca na loucura de Foster entre um resmungo e outro. Ele poderia ser a ponte da discussão ética que nunca acontece, sendo que o personagem coloca o próprio pescoço em risco sem um grande motivo aparente.

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Foster perde sua família em acidente de carro (Foto: Divulgação/ Paris Filmes)

 

Toda a trama é pouco crível e monótona com pontos que nem mesmo adicionam ao enredo. Soma-se a isso a tentativa dos roteiristas de explicarem os inexplicáveis com palavras difíceis como “quântico”, “mesencéfalo” e afins, sem que isso seja realmente relevante para o expectador.

Contra isso, deixa várias arestas em aberto. Por exemplo, como Foster consegue reproduzir em seu próprio porão um experimento que falha em um moderno laboratório?

Clichê latino

O grande vilão da trama é interpretado por John Ortiz (Bumblebee), que faz o chefe da empresa de biomedicina de Porto Rico. O ator nasceu no país e, curiosamente, faz um dos vilões mais caricatos, para não dizer racistas. de um longa atual.

Veja bem, nos olhos dos diretores, para o filme ser perto de crível em uma trama com ações moralmente duvidosas de uma empresa, é preciso que isso aconteça em um país de terceiro mundo, onde as leis são obtusas e as pessoas fazem qualquer coisa por dinheiro.

O filme em momento algum ambienta a companhia no país, nem sequer cita porque raios ele se passa na América Central. É possível perceber que o longa acontece em Porto Rico somente lá para metade, quando Foster é interrogado por policiais que perguntam se ele fala espanhol. Diante da negativa, eles ainda dizem: “Perdão pelo meu inglês ruim”, e começam o interrogatório. Foi preciso respirar fundo.

O desfecho ainda traz uma mistura de máfia, em uma sequência de ação sem motivos e recheada de bateção de cabeças, com personagens se mostrando verdadeiros assassinos em série, novamente, sem motivo aparente. Praticamente nada faz sentido nesse momento.

Stop CGI Motion

Cópias é um filme de ficção científica feito com US$ 30 milhões, orçamento baixo para produções do gênero. Isso acontece principalmente por conta do tratamento gráfico digital, o que é claramente renegado a segundo plano aqui.

A começar pela falta de carisma nas criações. Se o androide é basicamente copiado de Eu, Robô, toda interface que Foster usa para controlar seu computador é visivelmente uma mistura de Minority Report, com o Jarvis de Homem de Ferro.

Interessante é que o neurocientista veste um headset de realidade mista, usado para controlar uma espécie de holograma com o qual dá os comandos da máquina. O estranho é que outros personagens, sem este capacete, também olham para o mesmo holograma, sugerindo que os diretores não têm a mínima ideia de como um aparelho desses funcionam. Mas está na moda, deve ficar bom em um filme futurista.

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Neurocientista usa óculos para interagir com máquinas (Foto: Divulgação/Paris Filmes)

 

Apesar das derrapadas, o design do aparelho é bem feito e convence, trazendo uma bonita interface para o filme.

Contudo, o investimento feito no desenho dos hologramas faltou para a animação do robô. O androide é, de longe, o ponto mais baixo do longa. Ele aparece em poucos momentos da trama, geralmente sentado e parado. Contudo, é peça chave para o final, quando Cópias se transforma em um gênero de ação. Aqui, fica claríssimo que faltou verba para a produção.

Embora feito em computação gráfica, a falta de frames nos movimentos é tão visível que beira ao stop motion. Em algumas cenas, foi difícil não lembrar o clássico robô ED-209 de Robocop, aquele que não consegue descer escadas. Sim, a movimentação é bem parecida aqui.

Sem carisma, totalmente genérico, era melhor que o longa abraçasse a sua essência de filme B, mas se mantém sério diante da bizarrice.

Vale o ingresso?

Infelizmente, Cópias é um filme difícil de se engolir até mesmo para um momento relaxado, em que você não quer uma trama muito profunda. Cheio de incoerências, ele traz uma trama muito óbvia até a metade e desemboca em um desfecho sem pé nem cabeça, quase que em um deus ex machina.

As atuações são medianas, sendo que os diálogos fracos estragam qualquer escopo de emoção que os dilemas e debates podem trazer. O componente latino também pode ser um fator de afastamento desta película. Assim sendo, a recomendação é de economizar seu rico dinheirinho no cinema.

Cópias – De Volta à Vida conta com a direção de Jeffrey Nachmanoff (roteirista de O Dia Depois de Amanhã) e distribuição pela Paris Filmes.

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Fonte: Canaltech

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