Notícias

Em tempos de inteligência artificial, a genialidade está ao lado da alucinação

Publicidade



Roger Finger (*)

 

A inteligência artificial é, em essência, uma força ambivalente. Seu poder encanta e preocupa. O realismo de um vídeo gerado por IA é o mesmo que sustenta um deepfake. A sociedade vive um paradoxo: essa tecnologia amplia horizontes, mas exige vigilância constante. Ela democratiza a produção de conteúdo, impulsiona a inovação e acelera processos antes restritos a especialistas.

 

A mesma tecnologia que empodera também fragiliza. O caso das eleições legislativas de Buenos Aires, em 2025, escancara o lado sombrio desse avanço. Na véspera da votação, vídeos falsos circularam nas redes sociais com declaração do ex-presidente Mauricio Macri em apoio ao adversário e o anúncio da retirada da própria candidata. As peças geradas por IA exibiam sincronização labial e voz realista. O conteúdo confundiu eleitores e desestabilizou o processo democrático. O tribunal eleitoral classificou o episódio como tentativa de fraude digital — mas sua resposta foi tímida diante da velocidade e do alcance da manipulação.

 

A sofisticação das manipulações visuais é apenas uma parte do problema. O outro lado é mais sutil: a complacência das pessoas. A IA tem um traço de personalidade desconfiável. Ela foi projetada para agradar, fornecer respostas convincentes e nunca admitir ignorância. Nesse contexto, o fenômeno chamado de “alucinação” ocorre quando a IA inventa dados com a mesma fluência e firmeza com que comunica verdades.

 

A justiça americana também já experimentou essa realidade. Em um caso que se tornou notório, advogados de um escritório de Nova York apresentaram petição judicial em processo contra uma empresa de aviação. O documento citava casos anteriores para sustentar a argumentação. O problema é que mais de seis deles jamais existiram. Foram inteiramente fabricados por meio um de chatbot de inteligência artificial. A descoberta resultou em sanção de US$ 5.000 e uma lição dolorosa.

 

O universo da música é outro a vivenciar esse impacto. Uma faixa viral criada por IA imitou as vozes de dois astros do pop internacional e acumulou centenas de milhares de reproduções antes de ser removida das principais plataformas por violação de direitos autorais. Para identificar esse tipo de produção, uma das líderes globais em streaming de música lançou, em junho de 2025, o primeiro sistema de identificação automática de músicas geradas por IA. A plataforma agora aplica selos em álbuns e faixas sintéticas, permitindo que usuários saibam quando estão diante de conteúdo desse tipo. Os números, inclusive, impressionam: cerca de 18% das músicas enviadas diariamente ao streaming são criadas por IA, o que corresponde a mais de 20 mil faixas por dia.

O mesmo grito ecoa entre artistas visuais, que têm seus estilos, obras e até nomes usados no treinamento de modelos sem qualquer autorização ou compensação. No campo textual, as referências bibliográficas se tornaram um ponto sensível. Mesmo versões avançadas de ferramentas de IA podem inventar livros ou artigos para justificar suas afirmações. A solução passa pela adoção de práticas rigorosas de verificação. Ferramentas como o Deepware Scanner auxiliam na detecção de conteúdo manipulado. Buscas cruzadas revelam inconsistências em informações suspeitas. O ceticismo torna-se competência essencial na era da IA generativa.

 

A inteligência artificial nos obriga a fazer perguntas novas. Não sobre o que ela é capaz de produzir, mas sobre o que nós escolhemos fazer com esse poder. As ferramentas estão aí, acessíveis, velozes e eficientes. Mas seus efeitos dependem menos do código e mais do contexto. A tecnologia não erra sozinha. Somos nós que decidimos quando confiar, o que compartilhar e como usar.

 

Num cenário em que imagens falam com vozes que nunca existiram e textos soam convincentes mesmo quando estão errados, a pressa vira armadilha. Confiar cegamente em qualquer conteúdo, por mais bem produzido que pareça, é uma falha comum. A inteligência artificial abre portas para um progresso notável e indiscutível, mas a melhor forma de usar essa tecnologia é com a consciência de suas falhas. É ter a certeza de que a palavra final, o juízo de valor e a responsabilidade ética cabem totalmente a nós, sem exceção.

 

(*) Roger Finger é head de Inovação da Positivo Tecnologia.

Sobre a Positivo Tecnologia: A Positivo Tecnologia é uma empresa brasileira de tecnologia que desenvolve, fabrica e comercializa computadores, celulares, tablets, dispositivos para casas e escritórios inteligentes, servidores e demais soluções para infraestrutura de TI, além de máquinas de pagamento e tecnologias educacionais. Também oferece serviços gerenciados de TI. O conjunto de produtos e serviços é voltado para consumidores finais, empresas, condomínios residenciais, escolas e instituições públicas. A Companhia foi fundada em 1989, possui sede administrativa em Curitiba (PR), fábricas em Ilhéus (BA) e Manaus (AM), além de presença na Argentina, Quênia, Ruanda, China e Taiwan. O portfólio de marcas e negócios é composto por Positivo, Positivo Casa Inteligente, Positivo Servers & Solutions, PositivoSEG, Positivo as a Service, Positivo S+, VAIO, Infinix e Educacional – Ecossistema de Tecnologia e Inovação. Informações adicionais podem ser obtidas em  www.positivotecnologia.com.br. Para saber as últimas notícias sobre a Positivo Tecnologia, visite Sala de Imprensa, assim como os perfis da Companhia no LinkedIn, Facebook e Instagram.