Empreendedorismo

Como a ex-monitora recreativa da Disney superou a depressão com consultoria sobre gestão de humor




Divulgação

 

Defensora do lema “dá para falar sério sem ser sério”, é assim que a paulistana Maryana Rodrigues, 33 anos, convence as grandes empresas como ifood, Loggi, Movile, Tim, Zoom, Oracle, Grupo Morena Rosa, OLX, de que o humor pode ser um grande aliado na conquista de resultados. Em suas mais de 20 apresentações que realiza mês a mês pelo Brasil, ela demostra, usando o exemplo da sua trajetória profissional, que é preciso rir e ter mais leveza na difícil relação “líderes e liderados” e que, mesmo sob pressão, é possível manter o equilíbrio necessário entre saúde social, emocional e física.

Cansada de ver amigos e muitos profissionais adoecerem no ambiente de trabalho, e passar “batido” pelo RH das empresas – justo no lugar em que se passa a maior parte da vida -, Maryana, com y, inspira a liderança jovem e mostra que, autoconhecimento, comunicação, criatividade e influência positiva são a engrenagem e o combustível que nutri uma empresa de sucesso, sendo espelho para atrair e reter talentos.

Maryana não esconde suas grandes inspirações na vida. Além dos avós a quem é devota, seus pais fizeram toda diferença na sua educação e no desenvolvimento de seu caráter. O pai, empreendedor, é exemplo de força e de amor pelo trabalho, a personificação fiel do ditado “Deus ajuda a quem cedo madruga”. A mãe, professora, sempre foi engajada em projetos sociais atuando como voluntária. Ambos sempre fizeram as pessoas sorrirem, e talvez essa tenha sido a semente plantada em seu quintal e floriria anos depois.

Dona de um estilo único, e de uma licença poética peculiar, nem sempre Maryana dominou a oratória. Ainda criança, foi uma menina muito tímida. Hoje, não se apresenta sem sua poderosa capa, que desbanca e desconcerta o executivo mais sério e ranzinza. “Foi uma maneira que encontrei de quebrar padrões e cutucar os olhos acostumados às mesmas roupas sérias e ditas “sociais” para palestrar. As pessoas gostam, mas em um primeiro momento não entendem, ficam “cabreiras”, mas depois caem no riso.”, ressalta.

Nascida e criada em Osasco, na Grande São Paulo, é formada em Educação Física. Ganhou uma bolsa para jogar futebol nos Estados Unidos. No entanto, o desejo de ser uma profissional consagrada dos campos foi ficando para trás. Machucou o tornozelo e acabou perdendo o benefício. Porém, a sorte novamente lhe sorriu, e meses depois, foi contratada para trabalhar como instrutora recreativa nos parques da Disney. E assim ficou por oito anos até conseguir pagar os estudos.

Antes, ainda no Brasil, atuou como personal trainer e, em 2013, chegou a ser sócia de uma startup que fomentava a troca de tempo como moeda principal, e outra que atuava na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. “Percebi que tinha facilidade em fazer as pessoas rirem, e finalmente entendi que é no riso que nos comunicamos melhor, lideramos melhor e inovamos. Acredito que ser informal, quebra as barreiras da conexão. E se não fizesse algo para impedir o crescimento da chatice dos adultos, eu seria cúmplice, para o resto da vida, de um mundo cinza e sem risadas sinceras”, diz a empresária, ou melhor, a “humorologista”, como gosta de ser lembrada.

Nem sempre sua vida foi gargalhada.

Mas, quem a vê não imagina as dificuldades e desafios que teve que superar até chegar aqui. Quase ficou cega pela transmissão de bactérias expelidas nas fezes de gatos, chamadas de toxoplasmose. Portadora de um sorriso largo e contagiante, Maryana sofreu bullying, ainda na infância, sendo rejeitada nas escolas que passou pelo seu jeito diferente de ser. Neste período da adolescência, sofreu exclusão na escola. Isso a levou a ingerir altas doses de cortisol, hormônio que causa estresse. Aos 16 anos, teve a Síndrome de Burnout, um distúrbio emocional que atinge muitas pessoas no mundo e pode levar a outras complicações.

Em 2017, por uma mudança de emprego, conheceu a depressão, juntando-se aos mais de 11,5 milhões de brasileiros, 5,8% da população brasileira. “Foi um ano muito difícil, não sabia o que era e nem como lidar com isso. Recusei vários remédios e ajuda profissional. Então, decidi fazer um curso sobre ação e felicidade, cujo patrono é o Dalai Lama. Foram oito semanas de aprendizados, como empatia, perseverança e o poder da calma. Foi aí que tive a certeza que deveria falar sobre esse assunto para o RH das empresas”, relembra.

Maryana não se deixou abalar pelo lado negativo das dificuldades. Ao ser chamada para palestrar e treinar, ao invés de falar sobre depressão e síndrome do pânico, falava sobre o poder do riso. Em suas palestras, faz questão de deixar claro a diferença entre seriedade e bom desempenho, além de contribuir para que a liderança consiga resolver problemas com rapidez e inteligência, pois, um cérebro “alegre” reage e produz mais ocitocina.

Foi para o Vale do Silício, na Califórnia, buscar conhecimento no Google e se atualizou sobre o tema inteligência emocional. Retornou ao Brasil, e com apenas R$ 10 mil no bolso, fundou a Humor Lab e, após quatro meses no mercado, já vendeu mais de meio milhão em palestras, eventos e treinamentos. O propósito? Ajudar as pessoas a serem quem são de verdade, proporcionado às empresas bem-estar e leveza com humor.

“Busquei fundamentos teóricos para entrar nas empresas. Não pensei em criar um exército de piadistas de plantão, pedir para que abracem árvores, mas sim, levar uma sensação de bem-estar positivo, um olhar mais otimista para os problemas diários, afinal eles são inevitáveis. Percebi que muitas pessoas seguem trabalhando doentes, não representam os números de afastados do RH, por isso insisto em levar conteúdo de autoconhecimento”, pontua.

A gestão do riso nas empresas melhora conflitos, reduz a ansiedade, intensifica os esforços para a resolução de problemas, melhora a produtividade e o trabalho em equipe se torna mais prazeroso.

Perguntada se ainda tem sonhos a realizar, ao que responde: “escrever um livro e fazer uma palestra em um estádio de futebol lotado. Já me imaginei entrando em um deles com uma capa que brilha”, finaliza.

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