Carreira & Educação

Pesquisa indica que tema da educação atrai mais interesse de leitores




Educação é um tema que desperta o interesse da maioria dos brasileiros. De acordo com pesquisa inédita da Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca) realizada pelo Instituto Datafolha, 80% dos entrevistados disseram ter muito interesse em reportagens de educação. A porcentagem supera temas como saúde (78%) e política (23%). Apenas 4% informaram não ter nenhuma atração por matérias dessa editoria.

A pesquisa foi apresentada nessa terça-feira (7), no 2º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação. Ao todo, foram ouvidas 2.084 pessoas de todas as classes sociais e idade acima de 16 anos durante os dias 12 e 16 de junho, em 129 municípios de todas as regiões do país. A margem de erro é de 2 pontos para mais ou para menos.

Ministro da Educação no Congresso Internacional de Jornalismo de Educação
O ministro da Educação, Rossieli Soares, participou do Congresso Internacional de Jornalismo de Educação – André Nery/MEC
Entre os entrevistados, a TV aberta é a fonte mais frequente de informação sobre educação, apontada por 52% do total de entrevistados e por 55% daqueles que disseram ter muito interesse no tema. As redes sociais aparecem em segundo lugar, com 29% do total e 31% dos muito interessados em educação, seguidas pela rádio, com 24% do total e 26% dos mais interessados no tema.

Temas em educação

Informações sobre escolas do lugar onde se vive lideram o ranking de interesse dos entrevistados (34%), seguido por temas que têm relação com filhos, netos e outras crianças com as quais se convive (21%). Em terceiro lugar estão as novas metodologias de ensino, uso de tecnologias nas escolas e propostas pedagógicas inovadoras (9%).

Em relação às técnicas narrativas, os entrevistados mostraram preferência por reportagens com depoimentos de pessoas que vivem o cotidiano das escolas (37%), seguida por matérias com vídeos (33%) e várias notícias curtas e resumidas sobre o mesmo assunto (29%).

A pesquisa mostra ainda diferenças nas respostas quando se leva em consideração a escolarização dos entrevistados. Enquanto pessoas mais escolarizadas preferem temas políticos e técnicos, pessoas menos escolarizadas e mais dependentes de serviços públicos buscam mais pautas locais.

Compreensão difícil

Apesar de mostrar interesse em reportagens em educação, outra pesquisa apresentada também hoje pela Jeduca mostra que a população tem, muitas vezes, dificuldade em compreender determinados temas e há tendência dos entrevistados perderem o interesse se sentirem que o tema está longe da vida deles.

Os resultados mostram que termos comuns no debate educacional como “interdisciplinar” (que trata da relação entre duas ou mais disciplinas ou ramos de conhecimento) e “base nacional” (referente à Base Nacional Comum Curricular, documento que estabelece o conteúdo mínimo que deve ser ensinado em todas as escolas brasileiras) se mostraram de difícil compreensão mesmo para o público altamente leitor. Os entrevistados, sobretudo os que já haviam deixado a escola há alguns anos, mostraram ainda dificuldade com termos como ensino médio, perguntando a que idade escolar o período se refere.

A pesquisa qualitativa foi feita em parceria com a Rede Conhecimento Social, que conduziu duas oficinas de discussão em São Paulo. As oficinas foram realizadas nos dias 15 e 17 de maio, com um grupo de nove participantes ditos com alta fluência, com até pós-graduação concluída e maior frequência de leitura, e um grupo de dez pessoas tidas como com baixa fluência, com até ensino médio completo e menor frequência de leitura.

“Declarações de intenções”

“Há uma maneira otimista e uma realista de olhar os resultados e as duas estão corretas. O otimismo mostra que as pessoas declaram interesse em educação. Mas acho que temos que ser realistas também de dizer que essa, talvez, seja uma declaração de intenções e não exatamente algo que as pessoas estejam consumindo”, diz o presidente da Jeduca, Antônio Gois.

Segundo Gois, os resultados deixam um alerta para os jornalistas. “A pesquisa qualitativa mostra que parte dos leitores não está entendendo o que estamos falando porque talvez estejamos escrevendo muito para grupos mais iniciados de educadores e talvez não estejamos chegando em um público mais geral”.

O professor da Universidade de São Paulo (USP), Eugênio Bucci, que participou da mesa de apresentação das pesquisas, defendeu o fortalecimento de uma comunicação pública tendo como modelo experiências como a BBC do Reino Unido e a Deutsche Welle, da Alemanha. “Existe um enxugamento das empresas jornalísticas [privadas] e isso já está comprometendo, não apenas a educação, mas outros campos”, diz. Bucci acrescenta: “Essas entidades [com apoio público] podem contribuir muito com a qualidade da cobertura de temas de interesse publico. Isso pode ser um caminho”.

O 2º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação, cujo principal foco é eleições, ocorre até essa terça-feira (7) em São Paulo.

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