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Como viagens espaciais e a microgravidade podem afetar a atividade das células?




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O ambiente espacial é bastante diferente do terrestre, e não há dúvidas de que a longa permanência fora de nosso planeta afeta os organismos vivos de diversas maneiras. Agora, pesquisadores da Georgetown University Medical Center, nos Estados em parceria com a NASA, investigam como o ambiente espacial afeta a atividade das células. Se um dia quisermos chegar a Marte, é preciso garantir a saúde e segurança de toda a tripulação antes.

Nas análises da equipe norte-americana com camundongos e humanos que viajaram ao espaço, foi possível identificar alterações na produção de energia de uma célula de forma negativa, em específico: a mitocôndria, que pode ficar disfuncional. Vale lembrar que são as mitocôndrias, através da respiração, que liberam energia para o corpo, que será armazenada em moléculas de ATP (adenosina trifosfato).

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Pesquisas investigam como viagens espaciais podem modificar o funcionamento de uma célula (Imagem: Reprodução/ Dennis P/ Pixabay )

Publicadas na revista científica Cell, as descobertas são parte de um extenso multidisciplinar de pesquisas para examinar os efeitos da viagem ao espaço para a saúde. A partir desses resultados inciais, cientistas terão que investigar formas de barrar (ou contornar) essas mudanças metabólicas para que, um dia, longas viagens espaciais se tornem realidade.


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Como o espaço afeta as células animais?

“Os esforços de pesquisa do meu grupo se concentraram em tecido muscular de camundongos que foram enviados ao espaço e foram comparados com análises de outros cientistas que estudaram diferentes tecidos de camundongos”, comenta Evagelia C. Laiakis, PhD, professora associada de oncologia em Georgetown. “Embora cada um de nós tenha estudado tecidos diferentes, todos chegamos à mesma conclusão: que a função mitocondrial foi afetada adversamente pelas viagens espaciais”, explica a professora Laiakis.

Além de estudar os efeitos das viagens espaciais na função celular em camundongos, os cientistas correlacionaram os resultados com amostras obtidas de 59 astronautas ao longo dos anos. Entre essas amostras humanas, também foi possível analisar as diferenças entre um astronauta e o seu irmão gêmeo (que nunca foi ao espaço).

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Células do corpo humano são afetadas pela microgravidade e produzem menos (Imagem: Reprodução/ Tumisu/ Pixabay )

Comparando todos os dados levantados, a equipe de Laiakis foi capaz de determinar que as viagens espaciais desencadearam, de forma geral, os seguintes efeitos metabólicos: as células isoladas foram impactadas em um grau mais alto do que órgãos inteiros; as alterações no fígado foram mais perceptíveis do que em outros órgãos; a função mitocondrial foi a principal afetada; ocorreram mudanças no ciclo circadiano (ciclo biológico) e nas funções olfativas.

Diante dessas evidências recém-descobertas, a professora comenta que o lançamento da SpaceX, no início deste mês, deve representar uma nova etapa nas pesquisas metabólicas. “A partir disso, e de outros empreendimentos planejados para a Lua e, eventualmente, Marte, esperamos aprender muito mais sobre os efeitos que o voo espacial pode ter no metabolismo e como mitigar potencialmente os efeitos adversos para futuros viajantes espaciais”, pontua Laiakis.

Plantas modificam sua produção

Pesquisas anteriores da Agência Espacial Europeia (ESA) já investigaram, também de forma inicial, como as células vegetais se comportam em condições espaciais e, de maneira geral, conseguem se adaptar, mesmo com algumas alterações no ciclo biológico e, em casos mais raros, aparecimento de problemas como aberrações cromossômicas. Segundo o pesquisador Stefano Mancuso e autor do livro Revolução das Plantas, a microgravidade seria uma fonte de estresse significativo, mas não limitador para os vegetais.

“Em geral, a microgravidade, bem como as condições de gravidade superiores à terrestre (hipergravidade), é fonte de estresse significativo para as plantas. No entanto, ao contrário de outros fatores estressantes como seca, temperaturas extremas, salinidade, anóxia (falta de oxigênio) e muitos outros com os quais o mundo vegetal se deparou durante sua evolução, a ausência de gravidade é algo novo para qualquer organismo terrestre”, pontua Mancuso, em Revolução das Plantas.

Todo esse ineditismo também vale para camundongos e humanos. Por isso, cada vez mais essas modificações, causadas pela gravidade, devem ganhar foco nas pesquisas especiais durante os próximos anos e, não, necessariamente trarão resultados negativos. Afinal, “a fisiologia dos organismos, o metabolismo, a estrutura, a maneira como eles se comunicam, a própria forma de todo o ser vivo, tudo é plasmado por essa força [a gravidade]”, completa o pesquisador, enquanto pondera sobre os possíveis ganhos que essas condições podem trazer.

Para conferir o artigo, publicado na revista científica Cell, clique aqui.

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Fonte: Canaltech

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