Comportamento

Portadores de ansiedade levam até 16 anos para buscar ajuda




Segundo o médico psiquiatra Cyro Masci, o problema pode ter consequências ainda piores com o atraso no reconhecimento da doença e demora em procurar a ajuda de um profissional. De acordo com o especialista, pesquisa da Universidade de Harvard constatou que pessoas com quadro agudo e graves de ansiedade levam algo em torno de 7 anos para buscar auxílio médico. Quando os quadros são mais leves, o tempo é ainda maior. A demora pode chegar a 16 anos.

“O fundamental é que a ansiedade seja reconhecida e receba atenção profissional adequada o mais cedo possível, tanto pelo potencial das complicações futuras, como depressão, dores crônicas ou abuso de substâncias químicas, quanto pelas decisões pessoais e profissionais equivocadas que podem levar a consequências indesejadas”, alerta Cyro Masci, especialista em psiquiatria que trabalha com ansiedade, síndrome do pânico, fadiga e burnout há mais de 20 anos.

Masci lembra que a ansiedade, para ser considerada um transtorno, deve atrapalhar de modo significativo as atividades do dia a dia. Mas, segundo o médico, mesmo quadros mais brandos merecem atenção. “O problema afeta a capacidade de julgamento e tomada de decisões”, diz ele e exemplifica: “Pessoas ansiosas percebem com mais velocidade mudanças nas expressões faciais de parentes, amigos e colegas, porém, costumam ser bem menos precisos na interpretação dessas alterações, tirando conclusões apressadas e reagindo de modo inadequado”, explica.

Isso, segundo Cyro Masci, pode gerar tensão e mal-entendidos nas relações sociais ou de trabalho. “O problema pode ser resumido na própria essência da ansiedade”, afirma.

Mas o que é ansiedade?

“O que chamamos de ansiedade é a tomada de consciência de que nosso cérebro ativou as áreas responsáveis pelo que a neurociência chama de ‘Resposta a Ameaças’. Como qualquer ser vivo, possuímos sistemas de defesa que detectam perigos e colocam nosso corpo em condições de enfrentamento”, ensina o médico psiquiatra.

“O problema é que as áreas responsáveis por esse sistema de defesa podem se desregular, e aí o meio ambiente passa a ser interpretado de modo incorreto. É como um avião que está com seus sensores desregulados, informando aos pilotos dados sobre a velocidade, o vento ou a altitude de modo incorreto. As chances de ocorrer um erro e até um acidente aumentam muito”, alerta Cyro.

Estilo de vida X ansiedade

O especialista afirma que o estilo de vida pode afetar a ansiedade. E um dos principais vilões é a cafeína “Apesar do nome, este estimulante químico não está apenas no café. Está presente também em chás e refrigerantes, especialmente os de cola”, avisa Masci.

Calma. Não há necessidade de suspender totalmente a ingestão dos produtos, mas sim, aumentar o intervalo de ingestão entre as doses dessas bebidas. “Assim, o organismo terá uma chance de se recuperar, eliminando a cafeína “. Um dos conselhos do psiquiatra é não ingerir a cafeína depois das 16h, 17h, caso tenha problemas de sono, para que seu organismo se recupere da dose de estimulante ingerida.

Rir é uma ótima saída

Estímulos alarmantes, como o próprio nome indica, induzem as regiões do cérebro relacionadas à ansiedade. Um bom exemplo são os filmes com violência gratuita. “Fuja deles. Um trabalho que se tornou clássico demonstrou que pessoas com doença crônica melhoram ao assistir filmes bem-humorados, como uma comédia ou um desenho animado. Rir anula a sensação de perigo. Procure assistir a esse tipo de filme no lugar dos violentos e assustadores”, recomenda Cyro Masci.

Existem ainda outros tipos de estímulos que podem facilitar a ansiedade. “Redes sociais, jornal, revista, televisão tentam sequestrar sua atenção com notícias alarmantes e previsões catastróficas, já que nosso cérebro é naturalmente propenso a prestar atenção a sinais de perigo no meio ambiente. A recomendação é essa: selecione criteriosamente aquilo que vai ‘entrar na sua cabeça’, fazendo um jejum de catástrofes”, orienta o médico psiquiatra.

Psiquiatria Integrativa

Além de medidas que auxiliam a relaxar, como praticar meditação, evitar o sedentarismo ou buscar distração em músicas, o Cyro Masci lembra que, quanto mais cedo for iniciado o tratamento da ansiedade, melhores serão os resultados.

E para quem prefere evitar medicação alopática, o médico psiquiatra indica a Psiquiatria Integrativa. “Não se trata de uma especialidade médica, mas a integração entre a medicina convencional e abordagens não convencionais. Essa abordagem busca utilizar diversas medidas não alopáticas para modular e normalizar a atividade do cérebro relacionada à ansiedade, como medicação ‘homeopatizada’ ou fitoterapia.”

O importante, insiste Masci, é que o tratamento seja eficaz, seguro e iniciado o mais cedo possível. “O maior inimigo da ansiedade é o preconceito, seja ele com dificuldades emocionais ou em reconhecer a necessidade de buscar ajuda e auxílio profissional efetivo”, finaliza Cyro Masci.

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