A interação do cérebro com outras partes do corpo sempre surpreendeu a ciência, como é o caso do microbioma intestinal, por exemplo. No entanto, um novo estudo publicado na revista científica Journal of Dentistry apontou uma nova relação para ficarmos de olho, levando em consideração que a falta de higiene oral pode resultar em abscessos e, consequentemente, em danos cerebrais.
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Para chegar a essa inusitada descoberta, o grupo de cientistas analisou o histórico médico de 87 pacientes diagnosticados com abscessos decorrentes de doença periodontal, que ocorre nos tecidos de sustentação dos dentes. A ideia foi analisar a associação entre esses abscessos e as bactérias que atingem a cavidade oral, conhecidas por causar infecções.
A partir dessa análise, os cientistas perceberam que 52 desses pacientes tinham cerca de três vezes mais chances de ter bactérias orais presentes em suas amostras, além de taxas significativamente mais altas de Streptococcus anginosus, uma bactéria que pode causar faringite, e que pode ser encontrada em abscessos dentários.
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Periodontite e cognição
É conhecido pela comunidade científica que as bactérias envolvidas na periodontite podem acarretar doenças de ordem sistêmica, tendo relação com diabetes e até mesmo doenças cardiovasculares, como endocardite bacteriana. Aparentemente, problemas de declínio cognitivo e demência integram a lista.
Para entender melhor, de acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, os abcessos (de modo geral) podem ser definidos como “coleções de material purulento (pus) que, embora normalmente decorram de infecções bacterianas, podem, em alguns casos, não representar infecções, mas serem manifestação de outras doenças.” Ou seja, são ricos em bactérias que podem viajar pela corrente sanguínea.
No estudo, os pesquisadores dizem que as descobertas sugerem que a cavidade oral pode ser considerada uma fonte de infecção em casos de abscessos, mas nenhuma causa clara foi identificada quanto a relação de doenças bacterianas na boca e inflamação no cérebro que leve ao declínio cognitivo— pelo menos por enquanto. Com isso, futuros estudos são necessários para entender melhor essa relação.
“Embora muitas causas potenciais de abscessos cerebrais sejam reconhecidas, a origem da infecção muitas vezes permanece clinicamente não identificada. No entanto, ainda é surpreendente encontrar com frequência bactérias que ocorrem por via oral em inflamações cerebrais de origem inexplicada. Isso destaca a importância de usar métodos mais sensíveis para avaliar a cavidade oral como uma fonte potencial de bactérias em pacientes com quadro de inflamação no cérebro. Também destaca a importância de melhorar os cuidados dentários e a higiene oral em geral”, conclui o estudo.
A inflamação, quando ocorre no encéfalo, pode resultar em cefaleia, rigidez e dor no pescoço, ombros ou costas, vômitos, mudanças no estado mental, sonolência, confusão, desatenção, irritabilidade, processos mentais lentos, redução da capacidade de resposta, possível coma, convulsões, febre e até alterações na visão, perda da função/sensação muscular e movimento reduzido.
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Fonte: Canaltech
