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Lúpulo tem ação antiviral contra chikungunya e oropouche




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Quando se fala em lúpulo, qual a primeira coisa que vêm à sua cabeça? Se você pensou em cerveja, acertou. O cereal é o responsável por dar o sabor amargo à bebida, e, aparentemente, esse amargor só satisfaz os seres humanos. O mesmo não acontece com os vírus tropicais chikungunya e oropouche, segundo uma nova pesquisa.

Conduzido pela pós-doutoranda búlgara Tsvetelina Mandova, sob orientação do professor brasileiro Fernando Batista da Costa, da faculdade de ciências farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, o estudo revela que substâncias bioativas do lúpulo possuem ação contra os vírus, e o melhor: sem apresentar toxicidade.

Os cientistas encontraram nos acilfloroglucinois, componentes que derivam do metabolismo do lúpulo, um potencial elevado contra esses vírus. O destaque vai para os alfa e beta ácidos, justamente as substâncias que conferem o amargor característico da cerveja.


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Lúpulo contra chikungunya

Segundo a pesquisadora búlgara, estudar o lúpulo não é uma ideia que surgiu por acaso. A escolha tem suas estratégias baseadas em usar uma planta regional comum, de amplo conhecimento da indústria, para extrair dela componentes capazes de neutralizar os vírus de arboviroses endêmicas.

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Lúpulo, que dá amargor à cerveja, é eficaz contra chikungunya em estudos (Imagem: Markus Spiske/Unsplash)

No experimento, foram utilizadas células Vero, ou seja, um modelo feito de células de mamíferos muito utilizado em pesquisas de virologia. Os pesquisadores observaram que todos os compostos do lúpulo testados no estudo (exceto a mistura de alfa e beta ácidos) tiveram ação inibitória sobre o vírus, impedindo que as doenças se proliferassem.

No caso da inibição do vírus chikungunya, o componente que teve maior potencial virucida foi a fração com beta ácido na concentração de 125 µg/mL. O mesmo componente também mostrou grande capacidade de inativação do vírus oropouche.

Mecanismo de ação

Ainda não foram definidos os mecanismos que efetivamente inativam os vírus em ambos os casos, mas os pesquisadores já traçaram suas hipóteses. De acordo com Mandova, para inativação do vírus chikungunya, o lúpulo possui afinidade química com gorduras (lipofilicidade). Além disso, a estrutura química dos acilfloroglucinois pode interagir com algumas proteínas do vírus.

“O fato de uma molécula ter afinidade com a membrana pode afetar diferentes proteínas virais e inibir a replicação do vírus, resultando em um efeito antiviral”, afirma a pesquisadora para o Jornal da USP.

A segunda hipótese é que a planta possui uma enzima chamada quinase C, capaz de inibir o vírus.

Lúpulo vai virar remédio?

Por enquanto, a pesquisa ainda é preliminar. Muito embora os resultados sejam promissores contra as duas arboviroses citadas no estudo, ainda é cedo para pensar em remédio. “O caminho é longo e repleto de muitos obstáculos a serem superados”, lembra Mandova. Mais pesquisas ainda são necessárias até lá.

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Fonte: Canaltech

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