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Cor da água nos rios da Amazônia pode indicar risco de malária




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Fatores ambientais, como a coloração das águas dos rios da Amazônia, apontam para áreas em que o risco de surtos de malária é maior, segundo pesquisa desenvolvida pelo Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia). Quanto mais escuras e pretas forem, como são as do Rio Negro, maior tende a ser a incidência da doença.

No estudo, que contou também com a participação de pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento, foi possível conectar a cor das águas dos rios com os ambientes mais adequados para a proliferação do mosquito Anopheles darlingi, o transmissor da malária.

Aumento no risco de malária

“No Brasil, a malária está concentrada na região amazônica e os rios desempenham um papel importante no ciclo de vida da doença, uma vez que o vetor se reproduz em ambientes aquáticos”, lembram os autores do estudo publicado na revista Malaria Journal.


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Inclusive, a situação epidemiológica atual não está controlada nesta região — onde está englobado nosso país, mas também a Venezuela e a Colômbia. Em 2021, 80% dos casos da doença nas Américas tiveram como epicentro este local.

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Casos de malária aumentam na Amazônia em cidades próximas aos rios com águas pretas (Imagem: Jcomp/Freepik)

Buscando explicar o porquê deste risco aumentado, os cientistas afirmam que é preciso pensar na relação entre diferentes fatores ambientais, como a vegetação, o clima, as chuvas e, mais recentemente, a coloração dos rios.

Para chegar a estas conclusões, foram analisados dados da incidência de malária coletados entre os anos de 2003 e 2019, provenientes de 50 municípios do estado do Amazonas, localizados às margens de algum rio com água preta, branca ou clara.

Os rios da Amazônia

Aqui, é importante explicar que, na Amazônia, os rios são divididos em três principais tipos com base na cor de suas águas:

  • Rios de águas brancas: estes transportam grande quantidade de sedimentos em suspensão e possuem pH próximo do neutro (perto de 7). Os mais conhecidos são os rios Juruá, Madeira, Purus e Solimões, com cores pouco turvas e barrentas;
  • Rios de águas claras: a coloração é esverdeada e/ou transparente, com um pequeno acúmulo de sedimentos dissolvidos. O pH é próximo do neutro, e o exemplo mais conhecido é o do Rio Tapajós;
  • Rios de águas pretas: a coloração mais escura é resultado das substâncias dissolvidas em suas águas. Normalmente, possuem pH ácido (menor que 7), carregam muita matéria orgânica e têm baixa concentração de sedimentos suspensos. O mais conhecido é o Rio Negro, com o ambiente mais favorável para surtos de malária.

Por que o risco aumenta?

No momento, pesquisadores da Fiocruz têm algumas hipóteses para justificar a conexão entre a malária e os rios de águas pretas. A ideia principal é que, por carregarem menos sedimentos e serem mais ácidas, são mais adequados para a proliferação dos mosquitos que transmitem a doença e impactam mais as cidades às suas margens.

Independente dos motivos, o mais importante em relação ao estudo é traçar os locais em que prioritariamente devem ser adotadas medidas para conter surtos de malária, como as cidades próximas ao Rio Negro. Ali, estas estratégias podem salvar vidas. Em paralelo, é preciso pensar em estratégias de vacinação.

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Fonte: Canaltech

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