Comportamento

Três em cada quatro Yanomami são crianças e jovens

.

Falar sobre a população indígena Yanomami é falar sobre infância e juventude. A relação pode não aparecer à primeira vista, mas um estudo lançado nesta quarta-feira (15) reforça o dado que três em cada quatro Yanomami são crianças, adolescentes ou jovens menores de 30 anos.

Uma geração indígena que é conhecida como “geração terra demarcada”, o que mostra os desafios históricos herdados por séculos de injustiça.

O relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) faz um retrato de como é nascer e crescer na maior terra indígena do Brasil, com mais de 9 milhões de hectares. São informações culturais importantes, como o hábito de não dar nomes para crianças de até dois ou três anos, por receio que elas não sobrevivam ou outras crenças. Um costume que vem se modificando, pela necessidade de registro, trazida pelos não indígenas.


Yanomamis convivem nos arredores da Casa de Saúde do Índio, onde está instalado Hospital de Campanha da FAB, que presta atendimento aos indígenas trazidos em situação de emergência para Boa Vista.
Yanomamis convivem nos arredores da Casa de Saúde do Índio, onde está instalado Hospital de Campanha da FAB, que presta atendimento aos indígenas trazidos em situação de emergência para Boa Vista.

Yanomamis convivem nos arredores da Casa de Saúde do Índio, em Boa Vista (RR). – Fernando Frazão/Agência Brasil

Infância Yanomami

No dia a dia, as crianças Yanomami raramente são castigadas fisicamente pelos adultos, porque elas ainda são muito novas para ter consciência sobre os primeiros erros, explica a antropóloga Ana Maria Machado.

“A gente tem muito a aprender com os Yanomami sobre a infância. A grande autonomia que as crianças têm e a livre circulação são pontos muito específicos da infância e do que é uma criança Yanomami. Elas circulam por todos os ambientes, não tem ambientes que sejam proibidos. Elas aprendem muito umas com as outras ou com os adultos e estão envolvidas numa vida de comunidade, que eu acho que é um ponto que a gente esqueceu muito, essa vida de comunidade.”

Mas a antropóloga alerta para registros recentes, entre janeiro e outubro de 2023, em que 53% dos óbitos foram de crianças na primeira infância.

“As crianças, em especial aquelas com idade de 0 a 5 anos, são sempre as mais impactadas nesses momentos de grande crise sanitária ou de grande desestruturação do serviço de saúde, como foi no período que teve a última grande invasão garimpeira, até o final de 2022 e início de 2023.”


Yanomamis convivem nos arredores da Casa de Saúde do Índio, onde está instalado Hospital de Campanha da FAB, que presta atendimento aos indígenas trazidos em situação de emergência para Boa Vista.
Yanomamis convivem nos arredores da Casa de Saúde do Índio, onde está instalado Hospital de Campanha da FAB, que presta atendimento aos indígenas trazidos em situação de emergência para Boa Vista.

Yanomamis convivem nos arredores da Casa de Saúde do Índio, em Boa Vista (RR). – Fernando Frazão/Agência Brasil

Interferência dos não indígenas

Uma geração marcada pela desnutrição, malária, doenças pulmonares e contaminação por mercúrio proveniente do garimpo ilegal, que afetaram a população de cerca de 31 mil pessoas nos estados de Roraima e Amazonas, explica Ana Maria Machado.

“Como diz um amigo Yanomami, onde tem garimpo tem malária e isso leva as famílias a ter uma maior dificuldade em fazer as roças. Também leva a um ciclo de fome e desnutrição que por outro lado se agrava, porque tem maior destruição da floresta. O garimpo também leva a um aumento de bebida alcoólica nas regiões, há uma desestruturação da juventude que muitas vezes é cooptada pelo garimpo.”

Para combater essa situação, o relatório do Unicef também lembrou ações tomadas pelo governo federal, que começaram com a Declaração da Emergência no território Yanomami, em janeiro de 2023; a criação permanente da Casa de Governo, em Roraima, no ano seguinte; e novas ações de Saúde e a retomada da Educação Escolar Indígena no Território.

 


Gabriel Corrêa – Repórter da Rádio Nacional , .

Fonte: Agencia brasil EBC..

Wed, 15 Oct 2025 13:32:00 -0300