Há algum tempo, os canais ESPN veiculavam uma vinheta provocando: eSport é esporte? O vídeo mostrava várias cenas de scrums de rúgbi, com grandalhões se empurrando enquanto um lado gritava “é”, e outro retrucava “não é”.
A analogia foi muito pertinente, porque de fato há dois “times” batalhando nesse “campo”. De um lado, os tradicionalistas acreditam que um esporte só pode ser considerado como tal se envolver um determinado grau de esforço físico combinado com habilidades específicas. Nessa turma, os mais radicais torcem o nariz até mesmo para as modalidades de motor, alegando que nas pistas quem faz a força é o carro ou a moto. Um argumento que já foi superado desde que Ayrton Senna, junto com Nuno Cobra, provou a importância da preparação física para quem está dentro de um cockpit.
De outro lado, temos os inovadores, que acreditam na constante atualização de conceitos, incluindo aqui os esportivos. Uma onda que chegou até os Jogos Olímpicos, que em sua última edição incorporaram modalidades como o surfe, o skate e a escalada, numa tentativa de estar mais próximo do público jovem. Nesse sentido, eSports seriam uma consequência lógica dos tempos modernos. No limite, veríamos em um futuro próximo medalhistas de ouro em Free Fire ou Rainbow Six Siege, por exemplo.
Se os eSports chegarão ao status de olímpicos, ainda não se sabe. Mas, para a ESPN, eles são sim um esporte. Com essa afirmação a emissora encerrava a chamada mencionada nas primeiras linhas e anunciava as transmissões de diversos campeonatos. De fato, quem quiser assistir as partidas pela TV vai encontrar múltiplas opções espalhadas na programação, com direito a narração com alguns dos medalhões da casa. E mais, há programas de debates sobre esse universo, uma versão digital dos consagrados shows de mesa redonda futebolísticos.
Se os canais esportivos contam com os eSports na grade de programação, não é diferente com as casas de apostas. Em sites com a Betway, as competições de League of Legends, CS:GO e Dota 2 aparecem na aba de esportes – a mesma onde estão modalidades como futebol, tênis e basquete. E as apostas em esports possuem uma ampla variedade de opções, com mais de dez torneios diferentes para cada jogo, entre nacionais e internacionais.
Os eSports também são comparáveis aos esportes em termos de competições. Um equipe começa disputando ligas regionais e, com o sucesso, vai subindo até se classificar para os grandes torneios mundiais. Há mercado de jogadores, com transferências nem sempre amigáveis, além de provocações e acusações que lembram o futebol brasileiro dos anos 80. Por falar nisso, alguns clubes tradicionais do Brasil, como o Flamengo, também têm equipes de esportes eletrônicos.
Mas o principal argumento dos tradicionalistas ainda persiste. Quanto esforço é necessário para ser um “atleta” nessa modalidade? Ficar sentado em uma cadeira ergonomicamente desenvolvida para a imobilidade, apertando botões, pode de alguma forma ser um esforço? Se o que importa é apenas a competição, o que impede de tornarem o Big Brother Brasil uma modalidade esportiva? Certamente já há transmissão na TV…
Com o devido respeito às “provas do líder” e afins, há muita diferença. Estudos científicos já comprovaram que os videogames podem desenvolver determinadas habilidades, não só físicas como mentais – rapidez de raciocínio, memória de curto e longo prazo e processamento de informações, por exemplo. Não há nenhum estudo sobre o BBB, mas aparentemente ele se afasta de qualquer benefício para o cérebro. Mas vamos entender se gostar de assistir, mesmo com boas estreias no cinema e no streaming.
Em conclusão, o esforço de um eSport pode não ser tão pronunciado no lado físico, mas certamente é indiscutível na parte mental. O conceito de que é preciso suar para ser um esporte está decididamente ultrapassado. O que se necessita é alguma exigência física (ainda que intelectual), uma disputa interessante e, principalmente, interesse do público em ver as partidas. E tudo isso os eSports têm para oferecer. É justo, portanto, que sejam considerados um esporte – talvez o mais moderno que exista.