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Crítica | A Duquesa traz personagens irritantes em comédia espirituosa

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Crítica | A Duquesa traz personagens irritantes em comédia espirituosa - 1

Comédias britânicas sempre trazem em sua essência um pingo de acidez, prezando por não necessariamente trazer personagens agradáveis, como em After Life, de Ricky Gervais, por exemplo. Isso aproxima as tramas da realidade, uma vez que ninguém consegue ser perfeito e carismático o tempo todo. No entanto, esses amargos da personalidade dessas pessoas criadas para a ficção não os tornam mau-caráter ou algo do tipo, pois cada um tem suas vivências, traumas, costumes e passado.

É exatamente isso o que acontece com a personagem Katherine na série A Duquesa. A mais nova estreia da Netflix é criada e protagonizada pela atriz e comediante Katherine Ryan, contando a história de uma mãe solo que decidiu ser o momento de ter mais um filho, agora que a pequena Olive (Katy Byrne) está a poucos anos de distância da pré-adolescência. A premissa da série é esquisita, mas com temática necessária, e o seu desenvolvimento consegue ser ainda mais estranho.

Atenção: esta crítica contém spoilers da série A Duquesa


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Crítica | A Duquesa traz personagens irritantes em comédia espirituosa - 2
Imagem: Divulgação/Netflix

Olive é fruto do relacionamento de Katherine com Shep (Rory Keenan), um ex-integrante de “boy band” que fez muito sucesso no Reino Unido e que hoje é um homem falido. O fato de a criança ter menos de 10 anos é um tanto quanto estranho por se tratar de uma série da atualidade e pelo fato de que as boy bands tiveram o seu auge entre os anos 1990 e 2000, o que nos leva a considerar que a linha do tempo não foi seguida corretamente de forma proposital.

Katherine não é uma personagem, digamos assim, amável. A sua relação com Olive é ótima e ela não esconde que adora ser mãe, moldando a personalidade da criança conforme a sua própria, o que acaba sendo admirável. Ambas são geniosas, espirituosas e não têm medo de falar o que pensam, fazendo com que as cenas entre mãe e filha sejam bastante carregadas de opiniões e questionamentos, trazendo diálogos eufóricos, rápidos e cansativos de acompanhar. Felizmente, são episódios curtos e que não deixam a experiência tão exaustiva.

Voltando à premissa de A Duquesa, Katherine quer muito ter outro bebê, com o aval de Olive, mas ela não quer que isso aconteça com o seu atual namorado, o dentista Evan. O rapaz está apaixonado e disposto a constituir uma família com Katherine, mas depois do relacionamento fracassado com Shep ela evita, a todo custo, ter uma vida com outro homem por receio de que isso atrapalhe a rotina com a filha. Com isso, Evan é constantemente afastado, mas nada que o faça desistir do objetivo de construir algo com elas.

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Imagem: Divulgação/Netflix

É quando Katherine decide que o ideal seria ter um novo filho com Shep, já que a genética teria “funcionado”, mas para isso seria preciso fazer uma inseminação artificial. A protagonista esconde constantemente de Olive o asco que sente pelo pai dela, mas na sua frente diz que ele é uma pessoa incrível, bem sucedida e uma ótima pessoa, tudo isso como proteção. É quando a série realmente começa a mostrar que é uma comédia, com diálogos bizarros e tentativas de inseminação improváveis de acontecer na vida real.

Em determinado momento da trama, Shep arranja uma namorada bem mais velha e milionária, disposta a ajudar ele e Katherine a terem mais um filho. Como a própria Katherine diz à Olive, o “sangue” masculino do ex-marido é doado a ela dentro de uma seringa todos os dias para que seja feita a tentativa de gravidez. Tudo isso com um vai-e-vem no relacionamento entre ela e Evan, ela e Olive, ela e a escola de Olive, debates sobre cirurgias plásticas, criação de filhos, além de vários erros e acertos que construíram a personalidade da comédia.

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Imagem: Divulgação/Netflix

Katherine é uma pessoa liberta de tabus, o que é possível ver na sua carreira de artista plástica e suas cerâmicas com corpos femininos, contando ainda personalidade forte e que pode ser irritante e admirável ao mesmo tempo. Por fim, na verdade, ela se mostra uma pessoa frágil que precisa de um escudo que a protege do mundo afora, como forma de unicamente proteger a filha. Inicialmente, a protagonista se torna mais odiável do que adorada, mas conforme as situações vão acontecendo uma identificação pode começar a surgir, junto à empatia. O estilo de Katherine, um tanto quanto peculiar, também favorecem para a construção da personagem de personalidade intensa, trazendo muitos brilhos, tiaras, lenços, plumas, entre outros detalhes.

A Duquesa não acerta muito na hora de entreter e muito menos no momento de fazer rir, uma vez que muitas cenas e situações forçadas acabam gerando desconforto e torcidas de nariz que dá vontade de apressar os minutos para acabar logo. Mas quem já está acostumado a humor de comédias como The Office, por exemplo, com momentos inapropriados, pode acabar capturando a essência que Katherine Ryan tentou transmitir. Por outro lado, também há os seus exageros, como uma piada feita com as aias da série The Handmaid’s Tale, que são estupradas por maridos de mulheres inférteis em uma história tão pesada que não deveria ser levada para a comédia em nenhum contexto.

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Imagem: Divulgação/Netflix

A lição final por trás de A Duquesa é desmistificar a crença de que não é possível criar bem um filho com um pai ausente ou que simplesmente não é a melhor pessoa do mundo. Katherine nunca abaixa a cabeça quando o assunto é a criação de Olive, justificando muitas de suas atitudes que por mais que possam parecer absurdas, fazem todo o sentido e se tornam características de uma mulher forte, independente e que, assim como todo mundo, também erra.

A série A Duquesa pode ser assistida na Netflix em seis episódios.

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Fonte: Canaltech

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