Estava tudo marcado. No dia 26 de outubro, o Camp Nou receberia um dos maiores clássicos do mundo, Barcelona x Real Madrid, em partida válida por La Liga. Mas, a nada recente polêmica política ganhou novos capítulos e foi das ruas para dentro dos campos. Diante disso, o ‘El Clássico’ foi adiado para dezembro, ainda sem data definida, embora os clubes tenham interesse em disputar a partida no dia 18.
O jogo é histórico. A briga política, também. E o reinício dela foi em 2017, quando aconteceram movimentações que organizaram um plebiscito tendo em vista a independência da Catalunha. Acontece que o governo da Espanha não aceitou, e mantém sua posição desde então.
A Catalunha é uma comunidade autônoma da Espanha, e além de ter idioma próprio (o catalão) ainda detém o maior PIB do país e a segunda maior população.
Tudo estava morno, até que na última segunda-feira, dia 14, nove líderes separatistas espanhóis, e outras três pessoas envolvidas nesse plebiscito, receberam penas de prisão que variam entre 9 e 13 anos, além de ter os direitos políticos caçados. Isso foi mais que o suficiente para levar milhares de catalães a protestarem pedindo por liberdade aos presos políticos.
Com cassetetes e bombas de gás, a repressão policial foi violenta. E a Espanha viu novamente aquela tensão de 2017 reascender. Como a manifestação aconteceu no aeroporto de El Prat, mais de cem voos foram cancelados só naquele dia.
Camp Nou: um dos centros da polêmica
E como isso afeta o futebol? Que o esporte também é política, a gente já sabe. Mas os resultados desse enfrentamento atingem em cheio o Barcelona, por ser da capital da Catalunha, e para além disso, alguns jogadores têm relações diretas com a região, como é o caso de Piqué e Sergi Roberto.
Apesar de ser muito improvável que em caso de independência o Barcelona deixe a La Liga, a tensão aumenta e os estádios acabam por virar um grande palco político. Dessa forma, em jogos realizados no Camp Nou, a população catalã encontra um refúgio para poder exaltar sua bandeira e principalmente, falar seu idioma.
A questão separatista não é unanimidade entre os catalães, no entanto, o plebiscito de 2017 teve 90% dos votos favoráveis para tornar a região independente. A posição do governo de Madri acabou por dar forças ao movimento, uma vez que não apenas considerou a questão ilegal como proibiu os cidadãos de votarem.
| Nesse final de semana, as ruas de Hong Kong foram tomadas por bandeiras da Catalunha em sinal de apoio dos manifestantes a luta catalã por independência – um direito democrático. pic.twitter.com/teGYC44hvs
— Insurgere! (@MidiaInsurgere) 20 de outubro de 2019
O que os clubes temem é que a violência chegue aos estádios. Por isso, o maior clássico da La Liga foi adiado com a esperança de que, até dezembro, ou os ânimos se acalmem ou toda a situação seja resolvida. Do ponto de vista político, a independência de uma região leva um tempo considerável e provavelmente o desenrolar diplomático não terá sido resolvido até o prazo, mas o que se espera é que a tensão ao menos, diminua.
Perspectivas
No mundo do futebol, os técnicos já declararam estar prontos para quando o confronto for marcado. Ernesto Valverde, do Barcelona, disse: “É preciso respeitar não só o calendário, mas também os torcedores”.
Indo de encontro, o treinador do Real Madrid, Zidane, declarou: “Sei que há muito debate, porque é lógico, mas a minha posição como treinador é esta, estar pronto para a data que as pessoas adequadas decidirem. Vamos nos adaptar e é melhor eu ficar calado”.
Por ora, a decisão é de que a partida ocorra no dia 18 de dezembro. Entretanto, é seguro dizer que as cenas do próximo capítulo são importantíssimas para o desfecho (ou não) de uma tensão política que pode afetar todo o meio esportivo. Embora o melhor fosse mesmo um futebol livre de manifestações violentas, onde cada um conseguisse defender seus direitos de forma pacífica.
Fonte: 90min