A derrota para o Fluminense, por 2 a 0 na noite de sábado, pode não ter sido o resultado esperado para os torcedores do Bahia. Mas é difícil imaginar que exista algum torcedor da equipe que não esteja orgulhoso de seu treinador, Roger Machado.
Ao enfrentar Marcão, seu antigo companheiro de Flu, Roger protagonizou um raro duelo entre dois técnicos negros na Série A. Não à toa, ambos vestiram uma camisa em alusão à causa, só que o debate foi ainda além. Se alongou, ainda bem. Minutos depois do jogo, a entrevista coletiva do comandante do Tricolor Baiano foi uma verdadeira aula. E não apenas de futebol.
Os comandantes! #FLUxBAH pic.twitter.com/BiqcafzITq
— Campeonato Brasileiro (@Brasileirao) October 12, 2019
Durante pouco mais de cinco minutos, Machado explicou passo a passo (e didaticamente) onde o racismo mais existe no país. Não à toa, onde menos é percebido também: o chamado “racismo estrutural”. O vídeo pode ser conferido aqui embaixo, postado pelo portal GloboEsporte:
O vídeo da entrevista de Roger Machado após Fluminense x Bahia:
“A bem da verdade é que dez milhões de indivíduos foram escravizados. Mais de 25 gerações. Passou pelo Brasil Colônia, passou pelo Império e só mascarou no Brasil República”
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A fala do técnico é histórica. Ainda mais em se tratando de um momento em que o Bahia tem apostado em acampar causas sociais em prol de minorias. Não há melhor nome para comandar o time neste momento. Sincronia perfeita.
Muitos falam que “Marcão e Roger são seres humanos, independente da cor da pele” e que chamar a atenção para o racismo seria forçar uma barra que, segundo estes, não existe. Não é bem assim. Sejamos humildes para entender o local de quem sente no dia a dia as diferenças. Quem se sente diferente sabe muito bem onde o calo aperta. E Roger Machado soube como ninguém tocar nesta ferida, com palavras fortes, politicamente engajadas e totalmente contextualizadas por quem se vê sempre em minoria, de geração em geração, em qualquer campo que esteja, como agora na área técnica do futebol brasileiro.
Existe o déficit e existe uma corrida contra o tempo, contra séculos de disparidade. Existe, sim, também a necessidade de buscar o senso de humanidade em todos nós. Se somos todos iguais, por que não dar a voz e ouvir quem se sente diferente?
Obrigado, professor, suas lições não foram em vão. A cada pessoa que te escuta e reflete, é uma vitória. Muito mais importante que os três pontos ao final de 90 minutos.
Fonte: 90min