Economia & Política

Criptomoedas não são tão descentralizadas como acreditam, diz governo dos EUA




Criptomoedas não são tão descentralizadas como acreditam, diz governo dos EUA - 1

Uma pesquisa patrocinada pelo governo dos Estados Unidos levanta questionamentos quanto à descentralização das criptomoedas. O estudo é da empresa especializada em segurança Trail Bits e encomendada pela agência de pesquisa e desenvolvimento do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DARPA, em inglês).

O estudo mostra que uma pequena parte dos participantes da rede pode controlar toda a blockchain. A Trail Bits explica que atualmente quatro empresas de mineração possuem mais de 51% do hashrate, o “poder computacional” do Bitcoin.

Cada um deles opera seu próprio protocolo centralizado e interage com a rede pública do Bitcoin por meio de um gateway. Sendo assim, existe um baixo número de membros controlando a maioria do poder computacional da rede, aponta o estudo.


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Um agente mal-intencionado com 51% do poder computacional de uma blockchain pode utilizar essa vantagem para bloquear as transações de outros usuários, enviar uma transação e, em seguida, revertê-la, para gastar em outra negociação. Essa vulnerabilidade, conhecida como gasto duplo, pode ser comparada a uma falsificação.

Pesquisadores descobriram outros pontos de fraquezas, um deles está relacionado à versão dos nós da rede que controlam o software por trás da principal criptomoeda. Um nó é um ponto de conexão virtual em que é possível armazenar, enviar e receber todos os tipos de dados e informações na blockchain.

“Dos nós do Bitcoin, 21% estavam executando uma versão antiga do cliente Bitcoin Core (sistema) que possui uma vulnerabilidade descoberta em 2021″, disse o estudo.

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A blockchain, que traduzida significa corrente de blocos, foi definida inicialmente pelo criador do Bitcoin como timechain “rede de tempo” (Imagem:Reprodução/envato/Prostock-studio)

O estudo destaca que as falhas encontradas estão na blockchain do Bitcoin, mas que a criptografia da principal criptomoeda é segura. Os pesquisadores explicaram que parte do tráfego de informações transmitido não é criptografado. Isso quer dizer que provedores de internet, operadores de pontos de acesso Wi-Fi ou governos, podem verificar e descartar qualquer informação que desejarem. “De todo o tráfego do Bitcoin, 60% passa por apenas três provedores de internet”, diz o relatório.

Os pesquisadores explicam no estudo que, apesar de existirem diferentes tipos de blockchains que são baseada em diferentes programações, no geral a “proposta de valor propagada é que elas podem operar com segurança sem nenhum controle centralizado”.

“Foi dado como certo que a blockchain é imutável e descentralizada, somente porque a comunidade fala isso”, comentou Dan Guido, CEO da Trail of Bits, empresa de segurança contratada pelo governo dos EUA.

Contudo, na prática, essas redes evoluíram de maneira a centralizar o poder nas mãos de certas pessoas ou empresas, especialmente os grandes grupos de mineração de criptomoedas, cujos equipamentos trabalham para ganhar moedas digitais.

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Ethereum atualmente utiliza o sistema proof of work para realizar o processo de mineração (Imagem:Reprodução/Envato-Weedezign_photo)

A equipe de Guido chama essas situações potenciais de “centralidades não intencionais”, eventos em que alguém ganha vantagem sobre o sistema descentralizado.

Estudo mostra que a Ethereum também possui vulnerabilidades. Os contratos inteligentes são amplamente reutilizados nos projetos baseados no protocolo da criptomoeda. Cerca de 90% dos smart contracts têm relação com outros já criados anteriormente, isso representa uma alta probabilidade de problemas e bugs.

Riscos são teóricos, diz especialista

Yan Pritzker, cofundador da Swan, empresa especializada em criptomoedas, disse em entrevista ao site NPR que vê os riscos como teóricos. “Se esse tipo de ataque é possível, por que não aconteceu?”, perguntou. Na prática, as coisas não são tão fáceis assim como o relatório mostra.

Pritzker destacou que o estudo foi encomendado por uma agência governamental, e que basicamente eles querem duas coisas, “controlar a moeda e construir sistemas melhores para controlar a moeda”.

Outro especialista que também falou ao site NPR foi Christian Catalini, fundador do MIT Cryptoeconomics Lab. Ele considerou o relatório útil, mas não muito preocupante. “Acho que algumas das preocupações são válidas, mas os riscos da maneira como foram relatados no estudo foram um pouco exagerados.” De fato as criptomoedas não são completamente descentralizadas, mas os desenvolvedores estão constantemente trabalhando para melhorá-las.

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Fonte: Canaltech

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