A ingestão de certos psicoativos pode acarretar sérias consequências para o desenvolvimento psico-social e neurológico dos jovens.
O consumo de drogas e álcool na adolescência com certeza é um dos maiores problemas de saúde pública na atualidade e com o passar dos anos, esse quadro vem se tornado mais complexo e delicado.
Contudo, esta é uma questão que pode (e deve) ser discutida pelas autoridades e pela própria sociedade, levando-se em conta diversas frentes bastante específicas, e não apenas sob olhar unidirecional.
Em São Paulo, o debate sobre o consumo de drogas e álcool na adolescência vem crescendo, mas necessariamente precisa incluir pautas quase nunca exploradas pelo poder público, sendo elas:
- As políticas que precisam ser desenvolvidas visando o enfrentamento e a prevenção;
- Quando e como intervir, visando sempre a recuperação do adolescente e o seu retorno ao convívio social de forma eficaz e contínua;
- A análise da perspectiva que os próprios usuários têm sobre o problema;
- A eficácia dos mecanismos para diagnóstico e tratamento, como os CAPS e as clínicas de recuperação para dependentes químicos e alcoólatras em São Paulo e outras regiões metropolitanas do país.
Um fato que não podemos negar é que o contato inevitável com drogas e álcool fazem parte da rotina social e que normalmente é durante a adolescência que acontecem as primeiras experiências com essas substâncias.
Assim, costuma-se associar esse tipo de atitude com as novas sensações obtidas a partir da juventude, além dos processos relacionados com a tentativa de se construir uma nova identidade social.
Isso normalmente está relacionado aos mecanismos de socialização fora do ambiente familiar, onde o adolescente sempre estará em busca de fazer parte de um grupo onde possa se encaixar.
Em um primeiro momento, toda essa dinâmica parece fazer parte do crescimento pessoal, mas quando o contato com uma substância psicoativa acontece nessa fase, é bem provável que a relação com a mesma venha a se desenvolver ao longo de toda sua vida.
O consumo de drogas e álcool na adolescência frequentemente evolui com o passar dos anos, se tornando abusivo de forma bastante acelerada, o que exige o uso em quantidades cada vez maiores, o desejo incontrolável e fatalmente leva o indivíduo à perda do controle.
Além disso, a ingestão de certos psicoativos pode acarretar sérias consequências para o desenvolvimento psico-social e neurológico desse jovem.
A utilização frequente dessas substâncias leva à perda de funções importantes para esta etapa da vida, como a capacidade de concentração, a falta de cuidados com a higiene, além de episódios de abuso que podem trazer danos físicos irreparáveis.
O consumo de drogas e álcool na adolescência e o contexto social do problema
Apesar do primeiro contato com drogas e álcool na adolescência ser encarado com certa “normalidade”, o abuso dessas substâncias em si, não está relacionado apenas com a faixa etária do indivíduo.
Não é difícil observar que atualmente no contexto social brasileiro, existe uma grande diferença entre as classes monetárias, onde os menos favorecidas quase sempre são taxados e marginalizados por conta de suas desigualdades e diferenças.
De fato, o Brasil é um país que reúne dentro de sua demografia, uma dinâmica populacional bastante particular, formada por diversas raças, orientações sexuais, situações econômicas e crenças religiosas.
Por conta disso, é importante conhecer o contexto social, traçando o perfil sócio-histórico de cada contingente populacional para se compreender os diferentes graus de vulnerabilidade e exposição desses adolescentes ao consumo de drogas e álcool.
Assim, ao se tratar da prevenção do uso dessas substâncias, é necessário contextualizar as ações para se saber com que tipo de jovem se está trabalhando, além das estratégias que podem ser utilizadas para isso.
Muitas vezes se associa a utilização de drogas lícitas e ilícitas ao fato de a juventude ser naturalmente um período problemático, mas essa concepção na maioria dos casos é equivocada.
Na verdade, o problema está muito mais relacionado com o fato de que por várias décadas os jovens estiveram à margem da sociedade, enfrentando situações precárias causadas pela falta de políticas públicas capazes de suprir suas necessidades básicas.
No contexto social brasileiro, essas condições podem ser facilmente observadas por conta da falta de acesso dos adolescentes aos programas de prevenção dos serviços de saúde, assim como na própria rede de educação.
Na legislação atual, esse tema segue pronunciado nas entrelinhas do tópico transversal “Saúde”, pois ainda é encarado pelas autoridades como uma questão de cunho sanitário.
A escola fica responsável por tomar a decisão de se aprofundar (ou não) no caso, e isso com certeza é um problema, uma vez que a instituição nem sempre está capacitada para lidar com esse tipo de abordagem.
Assim, chegamos à conclusão de que existe uma negligência histórica no Brasil, não somente em relação ao que é feito para combater o consumo de drogas e álcool na adolescência, mas também quanto ao respeito às diferenças culturais, de gênero e de classes, além de diversos temas que são extremamente importantes para a formação ética e social dos alunos.
Como mudar a situação dos jovens no Brasil?
Experiências que incentivam a participação de jovens na política, levando suas exigências em conta, têm se mostrado estratégias muito eficazes em outros países nesse sentido.
Contudo, a participação de adolescentes nos processos que envolvem decisões importantes para a sociedade, principalmente no que se diz respeito ao ambiente político, ainda está muito longe de ser o ideal.
As autoridades responsáveis precisam se atentar ao fato de que o consumo de drogas e álcool na adolescência é um assunto que precisa ser discutido com os jovens, pois somente eles estão aptos para interpretar os ambientes em que estão inseridos.
Somente dessa forma, eles passarão a ser considerados como pessoas capazes de formular soluções relevantes para a sociedade, e não mais como um problema social que precisa ser resolvido.
Assim como diversos paradigmas que assolam nosso país, essa com certeza é uma iniciativa que merece ser tratada com mais cuidado e certamente traria resultados positivos se fosse corretamente implantada.
Com isso, esperamos que os debates envolvendo o consumo de drogas e álcool na adolescência aconteçam de fato, e que cada vez mais os jovens possam ser inseridos nessas discussões a fim de se encontrar uma solução eficaz para o problema.