Brasil

Reitor: dificuldades dos bombeiros prejudicaram combate a incêndio




O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, afirmou na madrugada de segunda (3) que as dificuldades logísticas e estruturais dos bombeiros prejudicaram o combate ao incêndio no Museu Nacional. O incêndio no museu, vinculado à UFRJ, começou por volta das 19h30 de domingo (2) e ainda consumia o prédio à 1h30 de hoje.

Segundo o próprio comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Roberto Robadey, o combate ao incêndio foi prejudicado pela falta de água. Segundo Robadey, os bombeiros chegaram com um caminhão-tanque cheio de água, mas quando o reservatório se esgotou, tentou-se sem sucesso usar água dos hidrantes localizados ao redor do museu.

Como a água não tinha potência suficiente para ser lançada no fogo, os bombeiros tiveram que atrasar por vários minutos o combate às chamas até que novos caminhões e carros-pipa da Cedae chegassem ao local.

Segundo um funcionário da Cedae que estava no local, a água não chega com pressão suficiente aos hidrantes porque o museu se localiza em uma colina.

“Reconhecemos o trabalho valoroso do Corpo de Bombeiros, mas a forma de combate ao incêndio não foi da mesma proporção e escala do incêndio. Percebemos claramente que faltou uma logística e uma capacidade de infraestrutura”, disse Leher.

O reitor também reconheceu que, por ser um prédio centenário, a sede do museu não atendia totalmente às exigências contra incêndio.

“Essa é uma edificação muito antiga que foi concebida em um contexto em que não existia o uso de energia, muito menos o uso intensivo de energia como são as edificação acadêmicas, que têm laboratórios, área administrativa, informática. É um prédio que dispunha de brigada, nós temos um trabalho sistemático com o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil, de trabalhar com a brigada. Extintores estavam em dia. Obviamente, a universidade precisa de uma reforma estrutural e foi isso que buscamos com o BNDES {Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social}”, disse.

Recentemente, a universidade fechou com o BNDES um acordo para viabilizar mudanças estruturais no prédio histórico e a mudança de laboratórios e do setor administrativo para prédios anexos, a fim de minimizar o uso de energia elétrica no prédio, deixando-o apenas destinado a exposições. “A primeira parcela seria de R$ 21 milhões. Grande parte desses recursos estava destinada justamente para um sistema de prevenção de incêndio”, disse.

Restrição orçamentária

Segundo Leher, o museu sofreu com cortes no orçamento porque a UFRJ está sob restrição orçamentária, assim como outras universidades públicas brasileiras. “Num contexto como esse, todas as unidades [da universidade] são afetadas”.

O reitor informou que terá uma reunião na segunda-feira (3) com o ministro da Educação, Rossieli Soares, e cobrará do governo federal empenho para reconstruir o prédio e o acervo da instituição, que, segundo o próprio Museu Nacional, tem a maior coleção da América Latina.

“Para o país, é uma perda imensa. Aqui temos a nossa memória. Grande parte do processo de constituição da história moderna do Brasil passa pelo Museu Nacional. Este incêndio sangra o coração do país. A única forma que temos neste momento de trabalhar essa brutal perda é reconstruir. Creio que o Brasil tem que forjar um compromisso com a sociedade política, o governo federal, que tem meios para isso, para que haja orçamento, para que a universidade possa de fato reconstruir essa edificação e recuperar, dentro do que for possível, seu extraordinário acervo”, disse.

Acervo

De acordo com o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, ainda não é possível avaliar o quanto do acervo foi perdido, mas quando as chamas começaram, os professores e funcionários conseguiram retirar algumas coisas.

“O que aconteceu hoje afeta não apenas o museu ou a UFRJ. Afeta todos vocês. Tendo essa tragédia, nossa ação será avaliar o que realmente foi perdido e tentar recuperar o que puder ser recuperado. Não temos como avaliar com exatidão qual o percentual do material que foi retirada antes das chamas. Saiu um material, as pessoas lutaram, professores vieram de suas casas, todos em prol da instituição Museu Nacional”, disse Kellner.

Continua após a publicidade..