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Campus Party | Por que a produção de conhecimento científico deve ser pop?




Campus Party | Por que a produção de conhecimento científico deve ser pop? - 1

Com a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), a humanidade nunca discutiu tanto — ainda mais em amplitude global — formas de propagação de um vírus, etapas de teste para a liberação de uma vacina e conteúdos de artigos acadêmicos. Toda essa democratização sobre o saber científico só foi possível a partir de inúmeras notícias e infinitos posts nas redes sociais. Potencializando ainda mais esse debate, a Campus Party Digital Edition levantou esse tema em painel transmitido via live na quinta-feira (9).

Com a presença do doutor em virologia e pesquisador brasileiro Átila Iamarino e da professora de Ciências Rafaela Lima, o painel Democratização do acesso ao conhecimento científico discutiu a importância da ciência ser mais pop. Para além da teoria, ambos registram atividade intensa nas redes sociais. Lima conta com mais de 130 mil inscritos no canal do YouTube Mais Ciência, enquanto Iamarino acumula 2,9 milhões de inscritos no Nerdologia.

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Pesquisadores e youtubers debatem a importância da ciência ser pop (Imagem: reprodução/ Campus Party)

Antes da COVID-19

Mesmo que as discussões científicas só tenham se popularizado, na atual escala, por causa da pandemia da COVID-19, outras doenças, como o HIV nos anos 80, mostraram que a ciência poderia ser, sim, popular. “Em 2009, teve a gripe suína, que foi a última pandemia que não foi problemática e, por causa dela, deu para perceber muito que tinha uma demanda grande do público por informação técnica-científica, mas que fosse mais palatável para as pessoas”, comenta o microbiologista Iamarino, que já atuava como divulgador científico na época e, agora, está preparando um livro didático.


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Entre os desafios da produção de conteúdo sobre ciência para as redes sociais, naquele momento e até hoje, um dos principais continua a ser o nível de conhecimento dos usuários. É, por exemplo, o desconhecimento que permite muitas fake news fazerem sucesso e serem compartilhadas aos milhares em redes sociais, como o WhatsApp.

“No início da pandemia [do novo vírus], alguns estabelecimentos comerciais relataram um aumento nas vendas de sabonetes ditos antibactericidas. E a gente vê que falta um entendimento, claro, de que bactérias são diferentes de vírus”, conta a professora Lima sobre o que a motivou gravar um vídeo explicando as principais diferenças entre eles e as doenças que causam.

Conhecimento é liberdade

“O principal ganho de você entender um pouco melhor [as teorias], é se livrar do sensacionalismo e, muitas vezes, se livrar de um medo”, explica produtora de conteúdo no Canal Mais Ciência sobre um dos motivos que leva a proliferação de fake news. Ainda sobre a importância do acesso à ciência, ela afirma: “Isso liberta a pessoa de medos sobre remédios, sobre saúde, sobre alimentação. Ajuda a pessoa a não ser mais presa nesse sensacionalismo. É muito importante que ela descubra o caminho para buscar fontes sérias e ajudar as pessoas a serem menos presas às correntes de medo, que vêm de vários lados”.

Além desse ponto, Átila defende que a democratização da ciência permite que as pessoas, caso tenham interesse, possam aprender ainda mais sobre aquilo que recebem como informação. “Para mim, é também a liberdade de poder aprender sobre mais coisas do que a grande maioria das pessoas nunca pode na história da humanidade”, pontua o pesquisador sobre o acesso inédito ao conhecimento, onde os usuários conseguem consultar, por exemplo, um artigo científico que foi publicado na China, em tempo real.

“A educação pela internet, o conteúdo que a gente produz, hoje, é muito libertador para se escapar, um pouco, do conteúdo restrito que se tinha aqui [no Brasil] e para aprender por conta própria. Convivemos muito com pessoas que estão se auto-educando, buscando conteúdo por conta própria na internet. Indo além, aprendendo novas carreiras, tendo novas ideias”, lembra o youtuber que agrega mais de 480 mil usuários em um live sobre vacinas para o novo coronavírus.

Cadê os cientistas?

Independente das pessoas estarem curiosas e querendo entender mais sobre o coronavírus, porque essa é uma doença que afeta diretamente suas vidas e a economia, Átila faz um alerta: “As pessoas estão interessadas, mas elas só vão encontrar o que estiver nas redes sociais. Nós [os cientistas] que precisamos levar isso para dentro desses espaços”.

“Tão importante quanto o público reconhecer o valor da ciência, está fazendo muita falta a ciência reconhecer o papel da divulgação e a importância que um meio, como o YouTube, pode ter para informar as pessoas, para informar um público”, avisa o divulgador científico.

Sobre a importância da democratização do acesso ao conhecimento, Iamarino ainda completa: “Não busco convencer ninguém a virar cientista com o conteúdo que faço, nem acho que todo mundo precisa ser cientista, carregar a palavra da ciência para todo canto, mas entender a diferença que ela faz na nossa vida. Criar um respeito por essa produção de conteúdo e ver o papel que ela pode ter no dia a dia, acho fundamental”.

Quanto à valorização da ciência e do acesso do conhecimento, uma dessas inciativas é também a Campus Party que vai até sábado (11), totalmente online e gratuita. Para acompanhar os painéis e encontrar mais informações, confira o site oficial. E para ficar por dentro de todas as novidades do evento, é só ficar ligado no Canaltech!

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Fonte: Canaltech

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