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Call center usado por Apple, Uber e Amazon vigia espaço pessoal de funcionários




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Uma das principais empresas fornecedora de call centers do mundo, a Teleperformance está colocando em seus termos de contrato a capacidade de vigiar funcionários dentro de suas casas. Segundo a NBC News, a companhia, que atende grandes nomes da tecnologia como Apple, Uber e Amazon, está pressionando funcionários para que eles instalem câmeras em suas casas, o que pode resultar em violações de seus espaços e atividades pessoais.

Segundo seis trabalhadores que prestam serviços à empresa na Colômbia, o contrato, que começou a ser enviado em março deste ano, permite o monitoramento por câmeras com inteligência artificial capazes de fazer a análise de conversas por voz. O material, que também pode conter imagens e falas de membros da família do funcionário (incluindo menores de idade) é coletado e armazenado dentro dos servidores da companhia.

“O contrato permite a monitorização constante do que estamos fazendo, mas também nossa família”, afirmou uma funcionária que trabalha para a Apple, que falou sob condição de anonimato. “Eu acho realmente ruim. Não trabalhamos em um escritório. Eu trabalho em meu quarto. Eu não quero ter uma câmera no meu quarto”.


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Ela afirma que assinou o contrato com medo de perder seu emprego, e que seu supervisor afirmou que ela seria movida para outra conta caso não concordasse com o documento. No entanto, ela afirma que o equipamento de vigilância prometido pela empresa ainda não foi instalado.

Monitoramento digital em casa

Em seu site oficial, a Teleperformance promove a linha de produtos TP Cloud Campus, vendidos a mais de 19 países. Segundo a companhia, eles usam a inteligência artificial para garantir que trabalhadores estão cumprindo seus contratos e para evitar fraudes. Assim como outras companhias, a dona dos call centers também adotou um sistema de home office com a pandemia, que atualmente é adotado por 240 mil de seus 380 mil funcionários.

Segundo Veena Dubal, professora de direito do trabalho da Universidade da Califórnia, companhias encontram em softwares de monitoramento a capacidade de desempenhar funções que normalmente caberiam a gerentes. “Mas a realidade é que eles são muito mais intrusivos do que a vigilância conduzida por um chefe”, explica.

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Imagem: Reprodução/Satoshi Kambayashi

Através de um porta-voz, a companhia afirmou que está “procurando constantemente” maneiras de aprimorar as atividades de seus funcionários na Colômbia. Segundo a empresa, “a privacidade e o respeito” são fatores-chave em todas as suas atividades, e os contratos feitos respeitam leis de privacidade e têm o objetivo de otimizar o trabalho em home office para funcionários e clientes.

Consultada pela NBC News, a Apple afirma que proíbe que seus parceiros usem monitoramento por imagens e vídeos, e que uma auditoria conduzida na Teleperformance mostrou que ela não faz isso na Colômbia. Já a Uber afirma que requisitou a vigilância de alguns funcionários, especialmente aqueles que lidam com dados sensíveis, incluindo números de cartão de crédito e detalhes das viagens.

Um representante da empresa afirma que ela pede o monitoramento para garantir que somente funcionários contratados tenham acesso às informações e que não estão gravando as imagens de suas telas. A companhia também quer garantir que não há pessoas não autorizadas por perto, mas afirmou que não pede nenhuma vigilância adicional dos trabalhadores.

Resposta organizada

Em resposta aos termos impostos nos contratos da Teleperformance, alguns dos trabalhadores da empresa se organizaram e enviaram uma série de demandas ao sindicato Ultraclaro y TIC, que representa funcionários do setor da tecnologia da informação. Entre os pedidos estão a capacidade de se reunir sem medo de retaliações, vigilâncias menos intrusivas, processos disciplinares mais transparentes, intervalos de 30 segundos entre ligações e o pagamento dos equipamentos usados para trabalhar em casa, incluindo cadeira, mesa e conexão com a internet.

Um representante da companhia afirma que as demandas “não eram todas baseadas em práticas ou fatos”, e que vai se reunir com o sindicato para discuti-las. “Somos um negócio centrado nas pessoas, e vamos continuar agindo de boa-fé no que diz respeito a todas as negociações coletivas”, afirmou.

Enquanto países como a Colômbia têm históricos de lutas organizadas por sindicatos, as proteções pedidas pelos funcionários do país não são garantidas em todos os locais. Os Estados Unidos, por exemplo, não possuem leis específicas que protejam pessoas do nível de vigilância exigido nos contratos da Teleperformance, tampouco garantias de que isso não vai resultar em violações de suas privacidades.

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Fonte: Canaltech

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