Empreendedorismo

Mark Zuckerberg comprou Instagram por medo de ele ameaçar o Facebook




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“Caso eles cresçam em grande escala, isso pode acabar sendo disruptivo para nós”, afirma Mark Zuckerberg em um e-mail enviado em fevereiro de 2012 ao então diretor financeiro do Facebook, David Eberman. Eles discutiam a compra do Instagram, uma rede social ainda em seus primeiros anos mas que vinha ganhando espaço considerável no mundo mobile. O CEO via o sistema como uma ameaça, o que para ele, era motivo suficiente para justificar uma aquisição, inclusive, por um preço acima do valor do mercado.

“Existe um número finito de mecânicas sociais que podem ser inventadas. Quando alguém vence em alguma delas, é difícil que outras o superem sem fazer algo diferente”, segue Zuckerberg, em uma troca de e-mails revelada nesta quarta-feira (29) durante um painel sobre práticas anticompetitivas do congresso dos Estados Unidos. Em seu texto, o CEO do Facebook deixa clara sua intenção de trazer para dentro da própria estrutura os serviços que podem ser rivais — menos de uma hora depois, porém, ele retifica o que havia acabado de dizer: “não quis dar a entender que estamos os comprando para impedir que a competição conosco.”

Para os representantes do congresso americano, porém, a intenção já havia sido deixada bem clara. Os documentos, apresentados pelo deputado Jerry Nadler, do partido democrata, acompanharam a conclusão de que, quando não via meios de competir com um rival, o Facebook optava por compra-lo, justamente o tipo de prática anticompetitiva que levou não apenas Zuckerberg, mas outros CEOs de empresas de tecnologia como Amazon, Microsoft e Apple, à sabatina desta quarta.


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A possibilidade de impedir a concorrência também aparece nas palavras do próprio Eberman, que questiona Zuckerberg sobre o que a empresa estaria tentando alcançar com a, então, ainda possível compra do Instagram. O CFO pergunta diretamente ao criador do Facebook se a intenção seria neutralizar um possível competidor, e recebe resposta positiva, juntamente com a ideia de que a aquisição também integraria os recursos à própria plataforma — algo que, sabemos, jamais aconteceu além da unificação de logins e compartilhamento de soluções de publicidade, entre outros recursos adicionais.

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E-mails trocados entre Mark Zuckerberg e a diretoria do Facebook mostram visão do Instagram como ameaça e postura de comprar ativamente empresas que representem perigo ao modelo de negócios da rede social (Imagem: Reprodução/Felipe Demartini)

Além disso, de acordo com Nadler, ao retomar o assunto e deixar claro que não existia intenção anticompetitiva na aquisição do Instagram, Zuckerberg deixou clara sua ideia de que havia revelado demais e já imaginava que o acordo poderia causar problemas no futuro. As conversas seguiram e, em 5 de abril daquele ano, o CEO envia um novo e-mail afirmando que a compra da rede social rival estava em suas mãos. Quatro dias depois, o negócio era confirmado por US$ 1 bilhão.

Horas antes do anúncio ao público, um e-mail interno foi enviado por Zuckerberg à alta cúpula do Facebook para informar antecipadamente sobre o negócio. E, mais uma vez, o CEO fala no Instagram como uma ameaça à sua soberania, mas brinca mais de uma vez que, segundo ele, o lado bom das startups é que elas sempre podem ser compradas e que o mesmo poderia ser feito com qualquer empresa incipiente que se mostre competitiva.

Os documentos revelados pelo congresso americano reforçam ainda mais a ideia de que, na época, o Facebook se batia para atrair sua audiência da versão web para os celulares. Enquanto lidava, simultaneamente, com sua abertura de capital, a empresa sondava outros competidores móveis, como Pinterest e Foursquare, apesar de o Instagram ser o foco preferencial, já que recursos dos outros dois existiam ou estavam sendo desenvolvidos para a rede social azul.

O Google+, entretanto, nunca foi visto como uma ameaça, muito pelo contrário: Zuckerberg cita a rede como um “clone de m*rda do Facebook”, que estaria distraindo seus executivos enquanto Instagram e Pinterest criavam seus modelos de negócios próprios. No final das contas, o tempo mostrou que ele estava certo em suas escolhas.

Aprovação oficial

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Mark Zuckerberg durante sabatina do congresso americano, realizada remotamente devido à pandemia do coronavírus (Imagem: Reprodução/Felipe Demartini)

Zuckerberg se explicou ao comitê da câmera afirmando que era óbvio que o Instagram era um competidor no campo do compartilhamento de fotos, mas não o único. Ele cita outros nomes como VSCO Cam, PicPlz e Path como concorrentes nesse segmento, com a escolha tendo sido feita para expandir o alcance da plataforma. Vale a pena lembrar que, na época, a rede social era restrita apenas a usuários de iPhone, com a versão Android tendo sido lançada apenas dias antes do anúncio da compra.

O CEO também lembrou, ao painel do congresso, que a Comissão de Valores Mobiliários (FTC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, assim como órgãos regulatórios do Reino Unido, não se opuseram à compra, mesmo com a ideia de que o montante a ser pago era bem maior que o valor de mercado do Instagram. Zuckerberg também disse acreditar que as autoridades tinham os e-mails na época, o que não impediu que eles aprovassem a aquisição.

Na ocasião, as autoridades americanas deram aval positivo, mas com ressalvas, citando o fato de que não seria possível comprovar que o negócio seria danoso aos consumidores já que tanto Facebook quanto Instagram eram serviços gratuitos. Essa é uma relíquia da legislação da época, criada originalmente nos anos 1960, no qual a grande preocupação do governo quanto a grandes aquisições era a criação de monopólio que levasse a um aumento abusivo de preços. Uma mudança nessa concepção, inclusive, pode ser um dos reflexos da audiência realizada nesta quarta, de forma que negócios como estes sejam avaliados além do valor financeiro aparente.

Para David Cicciline, do partido democrata e líder do painel, as questões de monopólio, hoje, não estão mais ligadas apenas a poder financeiro como também à liberdade de escolha. E, segundo ele, foi por isso que os CEOs das big techs foram convidados a depor já que, na visão do congresso, não existe mais a ideia de que um usuário, caso não esteja satisfeito com um produto ou ache que ele o agride, sempre pode escolher por outro.

Apesar de ter reunido quatro empresas relativamente diferentes em seus campos de atuação, a ideia do governo dos EUA em relação a elas é similar: investigar até que ponto seu domínio sobre a tecnologia é usado para minar a concorrência em diversas frentes, desde a distribuição de conteúdo até atitudes diante dos rivais. Foram quase seis horas de sabatina, cujos resultados devem modificar políticas relacionadas ao controle antitruste e aumentar o escrutínio sobre as empresas do setor e suas futuras grandes aquisições.

 

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Fonte: Canaltech

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