Já pensou receber um transplante de medula óssea e isso começar a mudar quem você é? Imagina ainda que, gradualmente, você comece a virar outra pessoa, e seu DNA passa a ser substituído — algo até então considerado único — pelo do doador! Essa é a realidade de Chris Long, um funcionário público do estado de Nevada, nos Estados Unidos. Após receber um transplante de medula, coisas estranhas vêm acontecendo e o DNA de seu sêmen já é o mesmo do seu doador alemão — que o americano nunca conheceu.
A história toda começou depois que Long recebeu um transplante de medula óssea do europeu, há mais de quatro anos. Hoje, o impacto inesperado (e registrado) que teve em sua biologia pode afetar o futuro da ciência forense, mesmo que ainda precise de mais confirmações, estudos e explicações.
Com leucemia aguda, que é um tipo de câncer que impede o organismo de produzir sangue normalmente, Long se submeteu ao procedimento cirúrgico, realizado com sucesso. Graças à cirurgia, as células saudáveis de formação de sangue do doador substituíram, lentamente, as células com problemas de Long, permitindo que seu corpo voltasse a produzir sangue normalmente. E é isso que pode explicar o porquê de Long conter traços específicos do DNA de seu doador no seu organismo.
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A descoberta
Talvez, essa mudança aconteça em outros casos de doação de médula óssea, ainda não verificados. Mas o caso de Long só foi pontualmente descoberto porque o paciente trabalha com a ciência forense, investigando traços de DNA em crimes.
Na época da doação, Renee Romero, diretora do laboratório forense em que o paciente trabalhava, tinha uma teoria de que o transplante de medula óssea poderia afetar o DNA em outras partes do corpo. Por isso, começou a coletar amostras de DNA de Long antes e depois do procedimento, de várias partes do corpo, para que a equipe pudesse comparar as possíveis alterações.
Em algumas circunstâncias, os pesquisadores encontraram o DNA de Long e do doador misturados nas amostras, como quando testaram amostras de saliva coletadas da parte interior do lábio, da mucosa da bochecha e da língua. Já amostras de pelos no peito e fios de cabelo apontavam para o DNA exclusivo de Long.
O mais surpreendente, no entanto, aconteceu quatro anos após o procedimento de transfusão. Foi quando as amostras do sêmen de Long continham apenas o DNA de seu doador. “Achei incrível poder desaparecer e aparecer como outra pessoa”, comentou Long, talvez, sem entender os possíveis impactos desta mudança.
Explicações científicas?
Pesquisadores da área não entenderam os motivos que levaram à transformação do DNA do paciente. Para três especialistas em transplante de medula óssea, essa situação seria impossível e o procedimento não poderia resultar no quadro em que um transplantado produzisse sêmen contendo o DNA de seu doador.
Já Mehrdad Abedi, o médico que tratou Long na Universidade da Califórnia, alega que a mudança no DNA do sêmen aconteceu porque Long fez uma vasectomia logo após o nascimento do segundo filho. De qualquer forma, a situação inusitada levanta milhões de novas questões sobre o uso do DNA como evidência em processos judiciais.
Isso pode levar a falsas condenações, por exemplo. Atualmente, os cientistas forenses já precisam se preocupar com o DNA de pessoas inocentes que aparecem em algumas cenas de crime. Só que, nesses casos, os profissionais têm o DNA correto para rastrear.
Em um exercício hipotético, Long poderia cometer um crime sexual e, depois dos investigadores coletarem amostras de seu sêmen, descobririam que não seria ele o culpado, mas seu doador de medula, que seria processado e preso. Claro, caso só sejam observadas estas amostras de DNA.
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Fonte: Canaltech