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Ciência pode prever quando o ódio online será levado para a vida real




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Nos últimos seis anos, o físico Niel Johnson vem estudando comportamento online de vigaristas e possíveis terroristas. Suas conclusões sugerem que, em vez de monitorar o comportamento dos indivíduos, na esperança de achar pessoas que tenham potencial para recorrer à violência, os policiais receberiam maiores recompensas concentrando-se nos grupos aos quais essas pessoas pertencem.

Por meio de uma análise dinâmica de grupo, buscando especificamente ondas abruptas e exponenciais no crescimento de membros, a tecnologia poderia fornecer sinais de alerta para padrões de atitudes nocivas. Essa estratégia — baseada nos princípios da física que envolvem o estudo do comportamento coletivo — pode oferecer um método eficiente para detectar focos de atividade extremista antes que a violência seja colocada em prática.

O estudo do extremismo online foi motivado em parte pela vida pessoal do físico em questão. Johnson cresceu perto de Londres numa época em que o exército republicano irlandês lidava com bombas. Quando ele se mudou para os EUA, os tiroteios em massa começaram a ser manchetes com frequência, e o físico pensou que poderia usar sua formação científica para entender como e quando essa violência surge. Em 2014, Johnson decidiu colocar seus conhecimentos em prática. Como primeiro passo, ele reuniu um grupo de estudantes para ajudá-lo a rastrear grupos a favor do Estado Islâmico se comunicando no VKontakte — uma plataforma de mídia social parecida com o Facebook, baseada na Rússia, com mais de meio bilhão de usuários.


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Físico foca em grupos pró-Estado Islâmico

Os resultados de suas análises foram publicados na revista Science em junho de 2016, apenas alguns dias depois que um homem que havia jurado lealdade ao Estado Islâmico e atirou em 49 pessoas na boate Pulse, em Orlando, Flórida. Sua equipe analisou os registros online de cerca de 200 grupos pró-estado islâmico com mais de 100 mil membros.

Análise comportamental

Johnson acredita que as transformações nos grupos de pessoas que aproximam os indivíduos de um ato imprudente são semelhantes às transições que diferentes materiais sofrem ao mudar sua forma física, e usa como exemplo a coalhada de leite, que muda de líquido para sólido, ou a ebulição da água, que muda do estado líquido para gasoso. Aparentemente, o extremismo online e o leite coalhado obedecem às mesmas regras matemáticas e exibem o mesmo crescimento exponencial — e, portanto, incontrolável. O físico oberva que os seres humanos podem ser previsíveis.

“Há algo realmente agressivo no crescimento desses grupos. Os que se expandem dessa maneira distinta provavelmente têm mais chances de criar atividades ameaçadoras”, afirma o físico. A pesquisa de Johnson também oferece alguns insights: a maneira mais fácil de impedir que um grupo online se torne poderoso demais “é focar nos pequenos grupos e esmagá-los antes que fiquem grandes”.

Novos algoritmos de mídia social, projetados para reduzir as divisões sociais, aumentando a conectividade, podem criar o efeito oposto, constatou Johnson. Ele incentiva os administradores a promover a organização de grupos de usuários anti-ódio, que podem neutralizar grupos extremistas de maneira semelhante ao sistema imunológico humano.

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Físico analisa grupos de ódio na internet e seu potencial para trazer violência à vida real

O físico ainda compartilhou suas ideias com o FBI, e estabeleceu uma parceria com o The Lab DC — um grupo do governo da cidade de Washington, encarregado de usar ideias científicas para melhorar as políticas. “Estamos tentando trazer nossa pesquisa para o mundo real e combiná-la com atividades reais de ódio na área de Washington”, diz Johnson.

Ele admite que sua equipe de pesquisa está apenas nos primeiros estágios da aplicação de seus resultados à meta de frustrar grupos de ódio e terror. Embora a imagem deles da atividade extremista online ainda seja preliminar, o físico está confiante em sua abordagem sistemática. Sua estratégia também faz sentido para especialistas em segurança, como Seamus Hughes, vice-diretor do Programa de Extremismo da GW e ex-consultor de contraterrorismo do Senado dos EUA.

“Neil trata disso com uma visão completamente diferente do resto da comunidade de contraterrorismo”, diz Hughes. “Dada a rapidez com que o espaço online está crescendo e mudando, precisamos abordar a disseminação do extremismo do maior número de ângulos possível. As técnicas de Neil podem contribuir claramente com uma peça importante para esse quebra-cabeça”.

Johnson, enquanto isso, está coletando mais peças. O ódio e a violência surgem de várias formas, e ele está ampliando seu foco de organizações terroristas para incluir grupos de supremacia branca. O físico espera que as técnicas que ele e seus colegas estão desenvolvendo possam, à medida que se tornam mais avançadas, reduzir o número de incidentes.

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Fonte: Canaltech

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