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Como a era digital impactou os relacionamentos amorosos




Como a era digital impactou os relacionamentos amorosos - 1

Será que estamos preparados para todas as possibilidades de conexão trazidas pelas redes sociais e aplicativos de relacionamentos? É essa reflexão que dá início ao livro Relacionamentos Amorosos na Era Digital, escrito por Adriana Nunan e Maria Amélia Penido, doutoras em psicologia, ao lado de um time de colaboradores.

Basicamente, a ideia da obra – que é dividida em dez capítulos – é fortalecer os relacionamentos pessoais nos ambientes online e offline, e abordar como a tecnologia desempenha um papel fundamental nos relacionamentos afetivos, podendo influenciar de forma positiva a aproximação de pessoas ou impactar negativamente na criação de conflitos ou ansiedade em todo esse processo.

Um diferencial apontado pelo livro é que as interações virtuais são semelhantes às interações da vida real. As psicólogas apontam que esses dois ambientes permitem compartilhar emoções, conversar, fazer amizades e até mesmo fazer sexo. Além disso, relacionamentos que começam na internet podem se expandir para a vida fora dos computadores. Acontece que, embora tenha uma série de limitações (como possibilitar que as pessoas mintam sobre sua aparência física, ou sobre qualquer outra informação, ou a impossibilidade de contato físico), a internet é muito utilizada na busca por parceiros para relacionamentos amorosos.


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E justamente estudos sobre como as pessoas se comportam na internet estão sendo responsáveis pela criação de uma área nova, apelidada de cyberpsicologia. Em outras palavras, os pesquisadores da área estão começando a formular questões e a obter respostas em torno do impacto da internet na relação entre as pessoas.

A era dos aplicativos

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A era digital presenteou as pessoas com os aplicativos de relacionamentos, como Tinder, que hoje são muito utilizados

Não precisa disfarçar: nós sabemos que você tem ou já teve algum aplicativo de relacionamento instalado no seu celular. Esses apps vieram à tona graças a uma revolução tecnológica e a uma mudança comportamental da sociedade, que acabou tornando aceitável novas formas de conhecer parceiros românticos, de acordo com as autoras de Relacionamentos Amorosos na Era Digital. No finalzinho dos anos 1990, os primeiríssimos passos para esses o relacionamento digital foram as salas de bate-papo, onde as pessoas se conheciam a partir de apelidos, sem a utilização de fotos. Aí veio o Orkut em 2004 e, mais para o final daquela década, os usuários deixaram as comunidades e os scraps para aceitar de braços abertos as páginas e os memes no Facebook. Mais ou menos nessa época, os apps de relacionamento começaram a bombar.

“Sobre esse mercado, cabe mencionar que ele é bastante dominado pelo grupo Match.com, que é o dono do Par Perfeito, do Tinder, dentre aproximadamente 50 serviços. Nos últimos anos, a empresa praticamente triplicou seu valor de mercado”, o livro aponta. “Os relacionamentos amorosos na era digital foram impulsionados pelo desenvolvimento e a popularização dos aplicativos. Eles aumentam significativamente as possibilidades de se conhecer alguém com interesses em comum, expandindo o círculo natural de relacionamentos e as chances de encontrar um parceiro”, o livro conclui em seu segundo capítulo, intitulado Aplicativos de Relacionamentos: conhecendo o crush na era digital.

As psicólogas ainda apontam, no capítulo em questão, que existem seis motivações primárias para usar aplicativos de relacionamento: amor, sexo casual, facilidade de comunicação, validação do autovalor, emoção de excitação e tendência, e essas motivações diferem de acordo com a idade e o sexo das pessoas. Sendo assim, é possível concluir que se conhecer por aplicativos deixou de ser algo do qual as pessoas têm vergonha para se tornar então a nova realidade do início de muitos relacionamentos sérios.

Comunicação digital aproxima ou separa?

As psicólogas afirmam que pouco ainda se sabe sobre os impactos da era digital na comunicação entre casais. Entretanto, a obra literária menciona que um estudo recente apontou efeitos positivos da tecnologia em casais que estão na fase inicial do relacionamento. Casais em relacionamentos de longa distância ou que não moram juntos acabam utilizando serviços de mensagens instantâneas e redes sociais como um recurso de aproximação, integrando a rotina do casal e favorecendo a comunicação. “A utilização de mensagens de texto teria um impacto positivo por facilitar a interação do casal ao longo do dia, apesar da distância, e especula-se que a interação textual abriria espaço para a idealização do casal”, escrevem as psicólogas. O uso dessas tecnologias acaba favorecendo o rápido aprofundamento de vínculos.

Por outro lado, efeitos negativos também ocorrem, como a má interpretação das mensagens causada pela ausência da entonação de voz e expressões faciais na comunicação por texto. É aquela velha história: você digitou uma mensagem com um ponto final, a pessoa já acha que você está bravo e frio sendo que você achou que a mensagem estava normal, por exemplo. Isso pode acarretar em diversos problemas, como brigas virtuais com o casal discutindo por mensagens.

Mas e quando o casal já mora junto? A tecnologia pode afastar ao invés de aproximar? Bom, segundo o livro, a facilidade de acesso a outras formas de interação social e entretenimento proporcionada pelos telefones celulares faz com que a habilidade de estar totalmente presente na relação tem sido comprometida, afetando tanto a escuta quanto a fala dos casais. “Para uma comunicação efetiva e de qualidade, o casal precisa estar disposto a aprender estratégias tanto de comunicação quanto de escuta”.

Golpes amorosos na internet

Golpes amorosos não são um crime recente, mas a ascensão da internet fez com que tomassem proporções inimagináveis. A obra de Adriana e Maria Amélia conta que sites ou aplicativos de relacionamento, assim como redes sociais de modo geral, têm atraído um número cada vez maior de criminosos que se aproveitam do anonimato e do grande número de vítimas em potencial que a internet oferece. Isso porque, enquanto algumas pessoas preferem se relacionar ao vivo o quanto antes, outras não se importam em estabelecer relacionamentos virtuais com parceiros que estão distantes. “Como o golpe se estende por meses e o criminoso só começa a solicitar dinheiro muito tempo depois do primeiro contato, as vítimas têm dificuldade em perceber que estão sendo manipuladas”.

A comunicação entre a vítima e o criminoso tem início nos sites e aplicativos, mas rapidamente migra para aplicativos de mensagem de texto (como o WhatsApp), porque o objetivo é tirar a vítima o quanto antes de um ambiente seguro, levando em conta que muitos sites e aplicativos de namoro monitoram a atividade de criminosos e avisam outros usuários de problemas em potencial. Muitos dos criminosos pedem para manter a relação em segredo e, à medida que coletam informações, os golpistas ajustam o perfil falso para que ele se encaixe cada vez mais nas circunstâncias psicológicas, na história de vida e nos desejos da vítima.

Enquanto alguns golpistas preferem ir pedindo valores pequenos ao longo de vários meses para não levantar suspeitas, outros adotam a tática mais arriscada de pedir muito dinheiro rapidamente. “Nesses casos, o golpista frequentemente inventa uma situação de crise que precisa ser resolvida urgentemente e para a qual não tem dinheiro no momento”, explicam as psicólogas. O livro ainda enfatiza que a situação de crise vai piorando com o passar do tempo, mas o golpista sempre promete devolver o dinheiro à vítima assim que ele tiver acesso aos seus próprios bens. Com isso, a vítima continua enviando dinheiro, por acreditar que é o único jeito do problema ser resolvido para que possam “viver felizes para sempre”.

Manda nudes

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A ação de mandar uma mensagem ou uma foto picante para outra pessoa é chamada de sexting

Você sabia que a prática de mandar mensagens e fotos de cunho sexual (nesse caso, os famosos nudes) para outra pessoa tem nome? Pois é: sexting (sex + texting). Apesar de fazer parte de uma longa história de usos de mídia para a expressão romântica e sexual, esse hábito acabou se tornando uma verdadeira fonte de preocupação porque os conteúdos digitais podem ser facilmente disseminados para audiências maiores. “A preocupação com o sexting aumenta à medida que, atualmente, uma grande parcela da população de adolescentes e jovens adultos possuem celulares e as fotos de nudes se proliferam numa velocidade assustadora, gerando exposição e causando prejuízos de toda ordem”. Sendo assim, essa troca de imagens/mensagens de cunho sexual tem gerado até implicações jurídicas.

A obra literária traz à tona alguns dados em torno dessa prática: 73% de jovens entre 11 e 17 anos relatam que publicar e enviar fotos de si mesmo é perigoso, enquanto 10% relatam enviar nudes para alguém. 20% dentre mulheres de 20 anos relataram terem enviado nudes pelo menos uma vez na vida. Acontece que o sexting é mais prevalente em adultos que entre adolescentes, e mulheres têm mais probabilidade de enviar mensagens sensuais do que homens. Além disso, o sexting está associado a fatores psicológicos, sociais e a diversos comportamentos de risco sexual. Por sua vez, o livro também menciona que é mais habitual receber mensagens do que enviar, e que essa prática, muitas vezes, acontece em relacionamentos sérios, e ocorre mais em dispositivos móveis do que em computadores.

Os autores destacam, dentre as explicações e motivações para o sexting, a curiosidade sexual, as preliminares, o flerte sexual, satisfazer a fantasia do parceiro, manter-se conectado a um parceiro que está distante, vingança contra ex-parceiros sexuais ou, ainda, exploração sexual de outros. Além disso, encontraram associação do sexting à insegurança na vinculação afetiva, à ansiedade e possivelmente uma forma de relacionamento sexual sem intimidade, e destacaram como impactos psicológicos do sexting, a depressão e a baixa autoestima.

A era digital é uma amiga ou uma vilã dos relacionamentos?

Segundo o livro, a era digital trouxe muitas dúvidas e incertezas diante da melhor maneira de integrar a vida online com a vida offline, e um aspecto relevante apontado é a relação entre o uso social da internet e o aumento ou não da solidão no mundo contemporâneo. “Parece que o problema não é usar ou não a internet, mas sim como esse uso é feito. Pessoas com traços de personalidade extrovertida e que estão satisfeitas com sua vida tendem a usar a internet de forma que esta aumente sua qualidade de vida, para ampliar seu mundo real e para obter mais possibilidades de integração social. Já pessoas introvertidas, com problemas pessoais ou solitárias, tendem a usar a internet para fugir dos problemas da vida real. Esse uso está associado à depressão e maior solidão”.

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Fonte: Canaltech

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