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Como e em quanto tempo morreríamos se o Sol se tornasse uma supernova?




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Betelgeuse, uma das estrelas visíveis a olho nu mais brilhantes do céu, tem mostrado sinais de escurecimento. Seu brilho vem diminuindo e, por isso, muitos começam a suspeitar que essa supergigante vermelha estaria prestes a se tornar uma supernova – o que, na verdade, não vai acontecer tão cedo. O assunto chegou a circular nas redes sociais recentemente, e talvez alguns tenham se questionado: e se o Sol virasse uma supernova? O que aconteceria conosco?

Supernovas são os eventos explosivos mais brutos do universo. Uma explosão estelar do tipo libera, em apenas alguns segundos, a mesma quantidade de energia que o nosso Sol emitirá durante toda a sua vida útil de 10 a 12 bilhões de anos. Durante alguns dias, o brilho da estrela no processo de supernova pode aumentar 1 bilhão de vezes.

E, bem, caso uma estrela tão próxima de nós quanto o Sol virasse uma supernova, nós morreríamos em pouco tempo. Mas, ao contrário do que se imagina, o trágico fim da nossa civilização não aconteceria em uma onda de explosão, e tampouco seríamos engolidos pela radiação – nosso destino seria selado antes disso, por causa de uma partícula subatômica chamada “neutrino”.


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Estágios de uma supernova

Mas, antes, é preciso explicar o que é uma supernova e quais os seus estágios. Existem diferentes tipos de supernova, mas aquelas causadas pelo colapso do núcleo estelar só podem ocorrer quando uma estrela muitas vezes mais massiva que o nosso Sol fica sem combustível para queimar em seu núcleo.

Durante sua vida, as estrelas estão constantemente fazendo reações de fusão nuclear do hidrogênio para convertê-lo em hélio. Isso é parte da nucleossíntese estelar – o conjunto de reações nucleares onde estrelas fabricam elementos mais pesados. Durante essa parte da vida de uma estrela, a única coisa que impede o colapso do de seu interior devido à enorme força gravitacional é a pressão da radiação causada por essas reações. Quando a estrela queima todo o hidrogênio em seu núcleo, a pressão da radiação cai e a gravidade começa a predominar, causando a contração do núcleo. À medida que se contrai e sua temperatura passa de um limite crítico, a estrela começa a fundir o próximo elemento mais leve disponível, que é o hélio, para produzir carbono.

Nosso Sol também está destinado a passar por este processo de “morte”, daqui a alguns bilhões de anos, no qual ele se expandirá tanto que Mercúrio, Vênus e até mesmo a Terra serão “devorados”. Essa fusão de hélio durará centenas de milhões de anos antes que o Sol fique sem hélio e o núcleo se contraia e esquente novamente. Esse será o fim da linha para o Sistema Solar, pois o Sol não tem massa suficiente para chegar ao próximo estágio, de uma supernova, e começar a fusão de carbono.

Em vez de explodir como uma supernova, o Sol virará uma “bola de cristal” daqui a mais de 10 bilhões de anos. Quando a fusão do hélio acabar, nossa estrela será envolta por uma nebulosa, resfriando-se gradualmente, até se transformar em uma anã branca, estado no qual permanecerá por mais ou menos 5 bilhões de anos. Nesse meio-tempo, o que restar do Sol será reduzido a orbes cada vez menores de gás e, à medida em que esses orbes forem encolhendo, os íons de carbono em seu interior serão “espremidos” até se cogelarem, formando, então, uma estrutura cristalina final.

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Imagem de uma supernova. Vemos os anéis externos causados por ejeções anteriores, muito antes da explosão final (Imagem: ESO/L. CALÇADA)

Em uma estrela muito mais massiva do que o Sol, contudo, após algumas centenas de milhares de anos trabalhando na fusão de hélio, a contração do núcleo permitirá a fusão do carbono, e as coisas mudarão muito rapidamente depois disso. O resultado pode ser a produção de elementos como oxigênio, neônio e magnésio, mas leva centenas de anos para isso ser concluído. Quando o carbono se torna escasso no núcleo, ele se contrai e aquece novamente, levando à fusão de neônio, o que dura cerca de um ano. Em seguida, vem a fusão de oxigênio durante alguns meses e depois a fusão de silício, que dura menos de um dia.

Na fase final da queima do silício, as temperaturas do núcleo podem chegar a 3 bilhões de Kelvin. Estamos no momento crítico, quando o núcleo fica sem silício. Mais uma vez, a pressão cai, mas desta vez não há mais o que fazer. Os elementos produzidos a partir da fusão de silício – tais como cobalto, níquel e ferro – são mais estáveis que os elementos mais pesados com os quais eles se fundem. Uma vez que nada mais é capaz de resistir ao colapso gravitacional, o núcleo implode.

Uma reação de fusão descontrolada ocorre, produzindo basicamente um núcleo atômico gigante feito de nêutrons, enquanto as camadas externas têm uma quantidade enorme de energia injetada nelas. A reação de fusão em si dura apenas cerca de 10 segundos, produzindo uma mistura de fótons, energia cinética explosiva do material, e os neutrinos.

Qualquer um desses três elementos da reação, sozinho, é capaz de varrer qualquer vida planetária ao redor da estrela, mas qual chega primeiro?

As partículas fatais

O neutrino é uma partícula subatômica sem carga elétrica que quase não interage com outras partículas. É extremamente leve, centenas de vezes mais leve que o elétron, e interage com a matéria de forma extremamente débil, apenas por meio da gravidade e da força nuclear fraca. Cerca de 65 bilhões de neutrinos atravessam cada centímetro quadrado da superfície da Terra voltada para o Sol a cada segundo. Eles simplesmente “voam” à velocidade da luz por todas as direções a partir do momento de sua criação na estrela.

Embora já seja a segunda partícula mais abundante do universo conhecido, depois do fóton, em supernova o fluxo de neutrinos aumenta em aproximadamente um fator de 10 quadrilhões, enquanto a energia por neutrino aumenta em torno de um fator de 10. Assim, qualquer criatura viva – de um organismo unicelular a um ser humano complexo – seria fervida de dentro para fora, apenas pelas interações de neutrinos liberados por uma supernova tão próxima de nós quanto o Sol.

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Anéis em torno da Supernova 1987A, com a ejeção da explosão da Supernova no centro do anel inteiro
(Imagem: Dr. Christopher Burrows/ESA/STScI/NASA/Hubble Heritage team)

Enquanto isso, a luz resultante da explosão só chegaria um pouco depois. É que ela sofre um pequeno atraso na liberação de dentro da supernova, porque ela será produzida no núcleo da estrela, cercado pelas camadas externas. Assim, leva um tempo para que a luz se propague para a superfície mais externa da estrela – a fotosfera -, onde finalmente fica livre para viajar livremente na velocidade da luz pelo espaço.

Em 1987, astrônomos observaram uma supernova a 168.000 anos-luz de distância. Os neutrinos chegaram a três detectores diferentes em todo o mundo, por cerca de 10 segundos. A luz da supernova, no entanto, só começou a chegar horas depois. Se a supernova estivesse perto de nós, tudo na Terra já estaria vaporizado horas antes de as primeiras assinaturas visuais chegarem.

Ou seja, se fosse o Sol se tornando uma supernova, nós sequer saberíamos o que estaria acontecendo quando a morte chegasse. Não há nenhum tipo de proteção contra essa quantidade de neutrinos. Mesmo que houvesse um planeta ou uma estrela de nêutrons no meio do caminho, mais de 50% dos neutrinos ainda chegariam até nós, atravessando tudo pelo caminho e destruindo qualquer forma de vida que porventura existisse no Sistema Solar – mesmo em Plutão – antes de a primeira luz da supernova chegar até nós.

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Fonte: Canaltech

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