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Especial Dezembro Laranja | A tecnologia como aliada contra o câncer de pele




Especial Dezembro Laranja | A tecnologia como aliada contra o câncer de pele - 1

Considerando o acompanhamento que o Canaltech fez sobre a iniciativa Outubro Rosa e sobre o Novembro Azul, é possível chegar à seguinte conclusão: o câncer também é um assunto muito pertinente à área da tecnologia. Em outubro, as redes sociais se mobilizaram para trazer à tona informações sobre o câncer de mama, que é um dos três tipos de câncer de maior incidência no mundo, e o que mais acomete mulheres em 154 países. Nesse caso, os números são alarmantes: 2,1 milhões de diagnósticos pelo mundo, mais de 59 mil casos no Brasil em 2018. Para o Brasil, estimam-se 59,7 mil casos novos de Câncer de Mama Feminina para 2019, com um risco estimado de 56,33 casos a cada 100 mil mulheres. No entanto, neste mês, a concentração é no Câncer de pele, o melanoma, dada a iniciativa Dezembro Laranja.

O melanoma, que se origina das células que produzem o pigmento Melanina (que dá cor à pele) é um tumor mais agressivo que pode causar metástases para outros órgãos, além de outras lesões, tais como as que se originam nas células basais e apresentam altos percentuais de cura, se detectadas precocemente. A lesão de pele do tipo melanoma é a de maior incidência no Brasil, correspondendo a 30% de todos os tumores malignos registrados no país. INCA estima, ainda, que cerca de 6.200 casos de melanoma sejam diagnosticados a cada ano (2.900), levando aproximadamente 1.500 pessoas a óbito por ano.

Segundo o Dr. Caio Lamunier — dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e do Hospital das Clínicas de São Paulo e especialista em melanoma pelo ICESP – Instituto do Câncer do Estado de São Paulo —, o melhor jeito de prevenir o melanoma é observar fatores de risco, como a pele muito clara, muitas pintas ou histórico familiar, e então fazer check-ups frequentes com especialistas, ou fazer o próprio autoexame. Além disso, tendo ou não fator de risco, é preciso evitar queimaduras solares, já que isso aumenta muito as chances de um câncer de pele.


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Caio ainda ressalta a importância da prevenção secundária, ou seja, identificar precocemente o câncer de pele: quando se tem uma pinta assimétrica, com bordas irregulares ou múltiplas cores, pode não ser uma pinta, e sim um câncer. No entanto, também há câncer de pele que não parece uma pinta, então o dermatologista orienta que se há uma lesão que não cura, não cicatriza e costuma sangrar, é necessário procurar um especialista.

Já o tratamento do câncer de pele é feito, na maioria das vezes, de maneira cirúrgica, segundo o Dr. Caio. “É um câncer superficial. Diferente do câncer de pâncreas, por exemplo, em que o método é uma cirurgia invasiva, a cirurgia na pele é pouco invasiva e normalmente pouco mórbida”. O dermatologista também ressalta que o tratamento costuma ser muito eficiente, mas em casos em que a cirurgia não possa ser feita, há métodos como radioterapia, quimioterapia e vacinas.

Por sua vez, de acordo com Elimar Gomes, dermatologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo, o tipo de câncer de pele mais comum é o carcinoma basocelular (CBC), que se divide em três subtipos: o nodular, que são machucados elevados, com pequenos vasos sanguíneos visíveis; o superficial, que aparece no corpo com manchas avermelhadas, sem sintomas e podem sangrar com facilidade; e o infiltrativo, que apresenta a probabilidade de formar feridas. “Ele pode ocorrer principalmente após os 50 anos e é mais comum nas áreas da pele expostas ao sol. Porém, se diagnosticado precocemente e bem tratado, esse tipo de câncer pode ser curado”, afirma o dermatologista.

Tecnologia x câncer de pele

Esse assunto tem preocupado não apenas os profissionais da área da saúde, como também da tecnologia. Por meio de equipamentos, aplicativos, pesquisas e projetos, esses profissionais fazem o possível para aplicar seus conhecimentos na intenção de ajudar a prevenir ou, ainda, tratar esse tipo de câncer. Dr. Caio afirma que o impacto da tecnologia no câncer de pele é brutal, pois a tecnologia tem estado presente no diagnóstico de maneira muito radical e muito rápida, e casos que os especialistas tinham dificuldade de identificar antes se tornaram mais fáceis de encontrar graças a diversas tecnologias como dermatoscopia, photo finder, mapeamento digital, que ajudam — e muito — no diagnóstico. “Há diversos aplicativos hoje no mercado, que independente do médico, permitem fotografar a lesão de pele e calculam a porcentagem de acerto e erro de um diagnóstico”, explica o dermatologista.

A curitibana Danielle Blaskievicz tinha 32 anos quando foi diagnosticada com câncer de pele, em 2010. Danielle estranhou uma mancha que surgiu em seu braço, que segundo ela, parecia uma mancha de vacina. Conhecendo o histórico de sua família, tratou de buscar ajuda médica o mais rápido possível. Quando chegou na cirurgiã plástica, a profissional disse que Danielle teve mais sorte que ganhar na loteria, por ser muito mais difícil achar um melanoma in situ (que não se alastrou para outros órgãos).

Danielle conta que, na época, a tecnologia ainda não estava tão avançada, e que se tivesse sido diagnosticada hoje em dia, não teria ouvido a médica dizer que identificar esse tipo de melanoma era quase tão difícil quanto ganhar na loteria. “Hoje é muito mais fácil saber o que é, saber os sintomas, etc, por causa da internet e das redes sociais”, destaca.

Equipamento de detecção

O Brasil deverá ganhar, nos próximos 3 anos, um equipamento para detecção de câncer de pele com uma taxa de sucesso de 99%, usando imagens capturadas por câmeras comuns, como as de telefones celulares. A tecnologia inovadora tem à frente o Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o professor Jacob Scharcanski, membro da IEEE, organização profissional técnica dedicada ao avanço da tecnologia em benefício da humanidade, que conta com publicações, conferências, padrões de tecnologia e atividades profissionais voltadas à engenharia, computação e tecnologia.

A IEEE que desenvolveu o projeto em parceria com empresas privadas, a Universidade de Waterloo, no Canadá e alunos da UFRGS, pesquisadores brasileiros e outras instituições do Brasil. O equipamento gerado por este projeto ainda não foi produzido em escala comercial, mas Scharcanski assegura que ele poderá ser utilizado por profissionais de saúde e dermatologistas não treinados em dermatoscopia, o que também faz diferença, pois o dermoscópio é um equipamento especializado utilizado por dermatologistas treinados.

Machine Learning

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Eme novembro, o Google trouxe à tona a sétima edição do Latin America Research Awards (LARA), o programa de bolsas de pesquisa que propõem usar a Ciência da Computação para resolver problemas de interesse social. Na ocasião, 679 inscrições foram recebidas, e a empresa selecionou 25 projetos distribuídos por 5 países latino-americanos (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Peru). O foco desta edição foi a saúde, e os organizadores inclusive montaram um painel com professores envolvidos na causa – a brasileira Sandra Avila, da UNICAMP, o colombiano Winston Percybrooks, da UnivDelNorte e o peruano Mirk Zimic, da UnivPeruana). – ao lado de Berthier Ribeiro-Neto, diretor de engenharia do Google na América Latina.

Na ocasião, Berthier Ribeiro-Neto, diretor de engenharia do Google na América Latina, revelou que quando se pensa em saúde e uso de tecnologia, há diferentes tendências: ou aplicação do machine learning para auxiliar o diagnóstico, ou o uso de tecnologia para permitir o diagnóstico à distância, e enfatizou que apesar desse auxílio que a tecnologia dispõe, a decisão é feita pelo ser humano, pelo profissional da saúde. Berthier aproveitou para mencionar uma outra tendência no assunto, que é o home care, atendimento de saúde domiciliar.

Durante esse painel, os professores são incentivados a expor o que acreditam em torno da aplicação de tecnologia na área da saúde, a relevância e o impacto esperado. Os três pesquisadores envolvidos no painel concluíram que “o objetivo não é fazer diagnóstico, mas sim um suporte. E essa ideia é muito bem vista por todos os médicos que a gente conversa. Um próximo passo é conseguir fazer coletas de dados mais apuradas”.

A equipe do Canaltech compareceu no evento e conversou com a professora Sandra Avila, que participou do painel sobre tecnologia e saúde. O projeto de Sandra se chama “Melhorando a classificação do câncer de pele com redes adversárias generativas” e consiste, basicamente, em uma rede de segmentação semântica, baseada em machine learning, que ajuda a delimitar automaticamente a região lesões na pele causadas por câncer. Segundo ela, essa tecnologia vai dar maior suporte ao médico para tomar decisões mais acuradas para o tratamento do paciente.

A brasileira apontou, durante a apresentação do projeto, que “uma coisa que a gente tem percebido é que o número de dermatologistas é muito pequeno e o câncer cresce cada vez mais”, e explicou que a ideia é atingir a simplicidade, e colocar as informações em um aplicativo para que as pessoas possam perceber, logo de cara, se aquela mancha na pele tem muita probabilidade de ser um câncer ou não, por exemplo, e resolver “casos fáceis” sem a necessidade de ir ao hospital. “Dada a situação do país, em que o financiamento da pesquisa pelo governo está sendo bastante reduzido, essa bolsa é muito importante para manter os alunos no Brasil. Mas o principal é fazer pontes, pois o trabalho é reconhecido e chama atenção da comunidade. Não existe ciência sem colaboração. E ao levar o conhecimento a mais pessoas, o trabalho ganha mais impacto na sociedade”, concluiu a pesquisadora, que é pós-doutora em Ciência da Computação.

Além disso, aqui no Brasil, uma startup chamada PreviNEO resolveu utilizar a inteligência artificial para prevenir, diagnosticar e reduzir os riscos de incidência dos principais tipos de câncer que ocorrem no Brasil, através de um programa de oncologia. O método de atuação consiste em três etapas principais: análise de dados, cálculo de risco e orientações. Foram mais de 5 mil casos de pacientes em risco identificados pela startup. É por meio de uma anamnese que a IA atua com o paciente ao primeiro “contato” virtual: isso significa que, por meio de um questionário, o paciente informa a IA, que por sua vez faz o rastreamento para câncer de próstata, câncer de mama, câncer de pulmão, câncer de cólon e câncer de útero. A PreviNEO conta que das 11.933 pessoas atendidas pela plataforma que apresentaram risco de câncer, 6.901 são homens (57.8%), sendo que 3.184 têm menos de 35 anos; 3.371 têm entre 35 a 55 anos e 346 têm mais de 55 anos, e 1.106 apresentaram alto risco de desenvolver câncer de próstata.

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Fonte: Canaltech

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