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EUA vetam turistas por causa de mensagens e amizades no WhatsApp




EUA vetam turistas por causa de mensagens e amizades no WhatsApp - 1

Se muita gente não levou a sério o fato dos EUA começar a exigir e vasculhar perfis de redes sociais dos visitantes ao país na hora de emitir um visto, é bom começar a repensar. No último dia 28, as autoridades de imigração norte-americanas barraram e deportaram Ismail Ajjawi, um estudante de 17 anos, calouro da Universidade de Harvard, por imagens recebidas em um grupo de seu WhatsApp (mesmo que ele negasse ter qualquer conexão). Agora, um novo caso, similar ao de Ajjawi, foi descoberto pelo site TechCrunch.

A página, agora, relata o caso de Dakhil (nome fictício, usado para preservar a identidade da vítima), um paquistanês de 37 anos, que fora aos EUA no começo de 2019 para visitar sua família. Com o visto B1/B2 – que permite realizar turismo e negócios no país – ele chegou ao aeroporto George Bush, na cidade de Houston, quando foi abordado por um oficial de Imigração, que perguntou os motivos da sua viagem aos EUA.

Depois de responder diversas vezes as mesmas perguntas ao oficial, Dakhil foi levado a uma pequena sala, separada do salão principal da Imigração. Lá, ele teve sua bagagem vasculhada e, na sequência, teve seu notebook e smartphone apreendidos. O funcionário pediu para que ele destravasse os dispositivos, saiu da sala e o fez esperar por mais de seis horas.


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O paquistanês afirmou que quando o policial voltou, o interrogatório continuou. Ele afirmou que não tinha intenção de trabalhar nos EUA, até que o oficial mostrou pegou seu smartphone e mostrou a ele uma imagem de 2009, que mostrava uma criança assassinada e mutilada, e que estava armazenada no aparelho.

Dakhil afirmou à Imigração que a imagem era pertubadora, mas que ela fora enviada por outras pessoas ao seu WhatsApp e que ele não poderia controlar as mensagens que são encaminhadas a ele por terceiros. Além disso, segundo o TechCrunch, a foto fora amplamente distribuída na internet e era facilmente localizada, bastando pesquisar o nome do assassino da criança.

Dakhil explicou ainda que a imagem foi usada para alertar os pais sobre sequestros de crianças em sua cidade natal, Karachi, e que ela era um daqueles virais que você envia à familiares amigos. Além disso, seria quase impossível saber de onde ela viera, uma vez que o WhatsApp dele estava programado para baixar automaticamente fotos e vídeos enviadas ao seu telefone.

O oficial da Imigração pressionou Dakhil para obter mais informações sobre quem enviou a mensagem, mas, segundo ele, o policial estaca mais interessado nos membros do grupo do WhatsApp do que na resposta em si. Ainda que Dakhil tenha afirmado que a imagem em questão poderia ser facilmente encontrada na internet, o oficial afirmou que a foto era de responsabilidade dele, uma vez que fora encontrada em seu celular.

Depois de mais de 15 horas respondendo as perguntas e aguardando, os oficiais da Imigração dos EUA resolveram que ele seria impedido de entrar no país e que seu visto seria cancelado. Além disso, eles informaram que os vistos de sua família também seria anulados. Os policiais ainda perguntaram a Dakhil se ele queria pedir asilo, mas ele recusou.

Os motivos do seu impedimento

Dakhil voltou à Embaixada dos EUA, em Karachi, duas vezes para tentar descobrir as causas do seu impedimento em entrar no país, mas os funcionários da embaixada disseram que não poderiam reverter uma decisão da Imigração norte-americana de negar a entrada de viajantes nos Estados Unidos. Ainda assim, ele pediu seus registros por meio de uma solicitação da Lei da Liberdade de Informação – que qualquer um pode fazer – mas teve que pagar centenas de dólares pelo seu processamento.

O TechCrunch teve acesso aos documentos e verificou que um dos registros afirmava que Dakhil foi escolhido porque seu nome correspondia a um “acerto de regra” – ou seja, ele era um nome em uma lista de observação ou uma visita e era originário de um país sob sanções ou embargos, o que normalmente exige exames adicionais antes que o viajante possa entrar nos EUA.

O registro explicava o que fez Dakhil ser incluído para triagem adicional. Além disso, seu histórico de viagens não incluiu um país embargado pelos EUA. Um segundo documento afirma que a entrada do paquistanês no país foi negada “devido às imagens depreciativas encontradas em seu telefone celular” e sua alegada “intenção de se obter um emprego não autorizado durante sua estadia”, o que fora negado veementemente por ele.

O documento também dizia que Dakhil “havia dado permissão para que eles visualizassem as mensagens de seus grupos do WhatsApp em seu telefone e ele afirmou que a foto [da criança] fora enviada a ele em setembro de 2018”. No entanto, isso não foi suficiente para satisfazer os oficiais da Imigração. O documento declara ainda que Dakhil afirmou que “nunca tirou esta foto e também não acredita que o remetente esteja envolvido”. No entanto, ele ” fora avisado de que era responsável por todo o conteúdo do telefone, incluindo os arquivos de mídia e ele afirmou que ele entendeu isso”.

O mesmo documento confirmou que o conteúdo de seu telefone foi carregado no banco de dados central da Imigração e encaminhado à Força-Tarefa de Terrorismo Conjunto do FBI.

Dakhil foi “considerado inadmissível” e foi colocado no próximo vôo de volta a Karachi, mais de um dia depois de ser abordado pela primeira vez pelo oficial Imigração. Um porta-voz do departamento em questão se recusou a comentar casos individuais.

Número de pesquisas em dispositivos eletrônicos aumentou nos EUA

Desde 2015, o número de pesquisas em dispositivos eletrônico, como smartphones, tablets e notebooks, quadriplicou, totalizando mais de para mais de 30 mil checagens por ano. Políticos acusaram a Imigração norte-americana de se comportar ilegalmente, ao pesquisar dispositivos sem um mandado. No entanto, o departamento diz que não precisa obter um para buscas de aparelhos na fronteira. Vários tribunais vêm tentando resolver a questão, para saber se tais checagens feitas nesses aparelhos eletrônicos são ou não constitucionais.

Abed Ayoub, diretor jurídico e de políticas do Comitê Anti-Discriminação Árabe-Americano, disse ao TechCrunch que as pesquisas feitas nesses dispositivos e as subseqüentes negações de entrada nos EUA setornaram o “novo normal”.

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Fonte: Canaltech

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