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Já pensou em trabalhar só 4 dias por semana e produzir 40% mais? A Microsoft já!




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Um experimento feito na subsidiária japonesa da Microsoft provou uma coisa que deixará qualquer trabalhador com um sorriso estampado no rosto: a de que uma jornada de trabalho de apenas 4 dias por semana é bom tanto para o trabalhador quanto para os negócios da empresa.

O teste fez parte do projeto Work-Life Choice Challenge, uma experiência feita na empresa durante o período de verão (que, no Japão, ocorre entre julho e setembro) como forma de testar se é possível garantir não apenas uma melhor qualidade de vida para o trabalhador, como também aumentar a produtividade e a criatividade deles no período em que ficam na empresa — tudo isso ao diminuir a quantidade de dias trabalhados.

Além de trabalhar por apenas quatro dias, o experimento também colocou um limite de meia hora para qualquer reunião no período, encorajando que os funcionários se comunicassem de maneira remota. E a ideia foi um sucesso: no geral, a produtividade da empresa aumentou 40% no período, e essa diminuição também se traduziu em uma diminuição das despesas: por diminuir a quantidade de reuniões e fechar o escritório na sexta-feira, o número de páginas impressas diminuiu em 58,7% quando comparado com o mesmo período do ano anterior, e o consumo de eletricidade também caiu em 23,1%.


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A Microsoft não é a primeira companhia a fazer esse tipo de experiência e conseguir bons resultados: Andrew Barnes, fundador da Perpetual Garden (empresa de planejamento imobiliário da Nova Zelândia) afirmou que também já conduziu um experimento do tipo com seus funcionários, em que todos trabalharam apenas quatro dias por semana — e os resultados foram tão positivos que, desde então, a companhia adotou oficialmente este cronograma.

Esta é uma ideia antiga

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A ideia de uma menor jornada de trabalho não é algo novo, e remonta desde a década de 1930, quando os Estados Unidos passavam pelo período conhecido como A Grande Depressão, que foi umas das maiores crises econômicas da história do país. Naquela época, o economista John Maynard Keynes já previa que, dentro dos próximos cem anos, a jornada de trabalho diminuiria para cerca de 15 horas semanais, ao invés das mais de 40 horas praticadas na época.

Keynes chegou nessa conclusão ao presenciar a Revolução Industrial de sua época, com a invenção das linhas de produção de Henry Ford. Ele assumiu então que, conforme a tecnologia fosse evoluindo e o Homem fosse encontrando maneiras de tornar o trabalho mais efetivo, assim que o trabalhador já tivesse produzido o suficiente para bancar suas necessidades, ele escolheria ter mais tempo para se dedica à família ou a outras atividades que o interessavam, o que iria diminuir a jornada de trabalho para algo entre dois ou três dias por semana.

A ideia continuou no imaginário popular durante algumas décadas e, em 1956, Richard Nixon, que na época era o vice do general Dwight D. Eisenhower, previu que uma jornada de trabalho de apenas quatro dias durante a semana seria algo possível em um futuro não muito distante.

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Mesmo assim, a primeira vez que a ideia foi retomada de forma séria foi em 1998, quando a França reduziu a jornada de trabalho no país para 35h semanais como forma de reduzir o desemprego do país, que na época estava em 12%. A mudança foi um sucesso e, mesmo que o país tenha passado por mudanças ao longo dos anos, incluindo mudanças de partidos na presidência (fazendo com que hoje a jornada semanal se encontre mais próximo de um período anterior a 1998), a mudança serviu de base para que muitos países revissem suas próprias políticas referentes à quantidade de horas semanais trabalhadas.

Com as transformações causadas pelas tecnologias do século XXI, como robôs e o uso de IAs, está surgindo uma disrupção em toda a organização do trabalho, assim como as linhas de produção de Ford mudaram toda a organização dos meios de produção no começo do século XX, e diversos analistas defendem que uma diminuição da carga horária seja algo necessário para nosso tempo.

Um desses defensores é o bilionário Richard Branson, conhecido por ser o fundador do grupo Virgin (do qual faz parte a Virgin Galactic, empresa que quer tornar o turismo espacial uma realidade). Em uma postagem de janeiro de 2018 no blog de sua empresa, Branson defende que, se o trabalhador hoje consegue trabalhar por uma quantidade menor de horas e ser igualmente (se não mais) efetivo, não há motivo para obrigá-lo a cumprir uma carga horária que não condiz com a realidade do trabalho dele. Ele afirma ainda que o maior desafio será que, para aproveitar melhor a maior quantidade de tempo livre, esse trabalhador deverá ganhar mais (mesmo que trabalhe por menos tempo), mas que isso é algo que as empresas devem conseguir balancear e chegar a um meio termo que seja bom para todos.

Caso de sucesso

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Ainda que diversos países da Europa estejam discutindo sobre as possibilidades de se diminuir a carga horária de seus trabalhadores, o melhor experimento sobre o tema aconteceu na Nova Zelândia com a já citada Perpetual Gardens.

Entre março e abril de 2018, a companhia conduziu um experimento que reduziu a jornada de trabalho de 40h semanais (5 dias) para 32h semanais (4 dias) para todos os seus 240 empregados. A companhia ainda contratou uma dupla de pesquisadores para que os resultados do experimento pudessem ser apresentados de forma quantitativa, e os resultados provam que a ideia foi um sucesso para todos os envolvidos.

No lado dos funcionários, os benefícios foram óbvios: a satisfação geral das pessoas com o trabalho aumentou em 5%, o stress dos funcionários caiu em 7%, e 24% deles afirmaram que, pela primeira vez, sentiam que estavam conseguindo equilibrar suas vidas pessoais com o andamento da carreira.

Essa melhoria na vida dos funcionários foi imediatamente refletida na empresa: ao contrário do que muitos esperavam, a diminuição de um dia na jornada de trabalho de todos não afetou em nada a produtividade de cada um dentro da companhia. Como se sentiam mais motivados, os funcionários enrolavam menos em suas atividades e tinham muito mais vontade em bater suas metas, além de, no geral, trabalharem com um humor melhor e se mostrarem mais criativos na resolução de problemas.

Assim, a Perpetual Gardens conseguiu provar que a produtividade de uma empresa não está ligada apenas à quantidade de horas trabalhadas, mas também à qualidade de vida dos funcionários e o quão bem eles se sentem dentro da empresa — e, desde então, a jornada de quatro dias se tornou algo oficial na companhia.

Vantagens de uma jornada semanal de 4 dias

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Como toda ideia inovadora, a redução na jornada de trabalho possui algumas vantagens e desvantagens claras. Uma das vantagens é um aumento na produtividade: além do experimento da Perpetual Gardens, outros experimentos conduzidos neste sentido (como o da Microsoft) mostram um aumento da produtividade ao se diminuir a carga horária semanal, como forma de se compensar pelo dia “perdido”. E esse aumento pode ser ainda maior quanto mais se diminui a jornada, com outros estudos mostrando que pessoas com mais de 40 anos atingem uma produtividade máxima quando trabalham entre 25h e 30h por semana.

Esse aumento na produtividade se deve principalmente a fatores como um melhor uso do tempo de trabalho pelos funcionários (que passam a fazer menos pausas, passar menos tempo navegando nas redes sociais e fazer menos atividades que não influenciam em nada para a contagem de metas, como organizar reuniões) e pelo aumento da satisfação do profissional com o seu trabalho, que passa a exercer com muito mais gosto.

Essa ênfase pela eficiência também acaba aproximando as diferentes equipes da empresa, já que todos precisam cooperar para que as metas sejam atingidas em um tempo menor, o que acaba fazendo com que todos melhorem sua capacidade de trabalhar em equipe. Isso acaba criando também mais inovações para os processos da empresa, porque esses funcionários estarão sempre pensando em novas maneiras de tornar seu trabalho mais efetivo e rápido.

E há também, claro, uma redução nos custos operacionais: ao funcionar durante apenas quatro dias, todos os custos de manutenção do escritório (água, luz, tinta e papel para a impressora, etc) diminuem em cerca de 20%, fazendo com que a empresa lucre mais não apenas no aumento da produção, mas também com a diminuição de seus custos.

Desvantagens da jornada semanal de 4 dias

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Apesar das várias vantagens, há algumas desvantagens claras para este modelo. Uma delas é que ele não é aplicável para todas as empresas: negócios que precisam funcionar durante 24h (como hospitais, postos de gasolina, farmácias, etc) fazem com que a jornada de 4 dias seja algo impraticável, pois seria necessária a contratação do dobro de funcionários para se manter a mesma produção.

Outro problema que pode acontecer também é de que os próprios trabalhadores, com o passar do tempo, acabem não achando mais a ideia tão interessante. Um estudo feito na Holanda sobre a redução da jornada de trabalho revelou que cerca de 1,5 milhão de pessoas gostariam de trabalhar por mais horas, mas não havia essa possibilidade. Outro caso ocorreu na França, onde, apesar da diminuição da jornada semanal para 35h, muitos trabalhadores acabavam precisando ficar 39h ou 40h toda semana para dar conta do serviço — o que aumentou o custo das empresas, já que esses trabalhadores passaram a ganhar hora extra sempre que excediam as 35h semanais.

E esse é justamente o maior desafio para este tipo de experimento: ele pode acabar ficando caro demais para alguns empresários. Isso foi mostrado em um experimento de redução de jornada que aconteceu na Suécia, onde a jornada foi reduzida de 40h semanais para 30h semanais. Enquanto o salto na produtividade foi o suficiente para que muitas empresas se mantivessem sem problemas, outras não conseguiram se adequar, e as 30h mostraram-se muito pouco para as necessidades da companhia, obrigando a contratação de mais pessoas, o que, por sua vez, aumentou os custos operacionais.

Mesmo assim, muitos analistas acreditam que o maior empecilho para a redução da jornada de trabalho é a mentalidade ocidental de que “tempo é dinheiro”, na qual as empresas, ao perceberem que um trabalhador consegue fazer seu trabalho em um tempo menor do que o combinado, ao invés de presenteá-lo por sua produtividade e dar-lhe mais tempo livre, acabam o “punindo” por ser um ótimo funcionário ao aumentar a carga de trabalho dele, já que ele provou ser capaz de fazer mais atividades em seu tempo de trabalho.

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Fonte: Canaltech

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