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Na Rússia, casal surdo quer ter bebê editado geneticamente; e pode conseguir




Na Rússia, casal surdo quer ter bebê editado geneticamente; e pode conseguir - 1

A história do cientista de origem russa, Denis Rebrikov, que pretende usar o método CRISPR para editar genes de embriões humanos e desencadear uma gravidez parece que está longe de acabar. No começo do mês, o pesquisador anunciou que seus experimentos resultariam no nascimento de bebês geneticamente modificados. Já no começo da semana, Rebriekov colocou panos quentes em suas afirmações e, agora, só editaria os embriões, sem implantá-los.

Nesse cenário, um novo elemento (até mesmo surpreendente) chega para colaborar com os planos do cientista russo. É uma mulher chamada Yevgenievna, que prefere não ter seu nome completo identificado. Com mais de 20 anos, ela é casada e é surda desde o nascimento. É também ela que pode ser a mãe do próximo bebê editado por genes, sendo que os primeiros foram desenvolvidos pelo geneticista chinês He Jiankui.

Em entrevistas e pronunciamentos, Rebrikov dizia que o objetivo das edições no genoma seria impedir que uma criança herdasse uma mutação genética causadora de surdez, no caso o gene GJB2,  transmitido por ambos os pais. Nessas ocasiões, também afirmava que cinco casais estavam interessados ​​em participar do experimento. Yevgenievna e seu marido, que também é surdo, são um desses casais.


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Mãe por enquanto de uma única filha, Yevgenievna descreve o choque que sentiu ao saber que a menina era surda. Mas só quando soube dos estudos de Rebrikov que ela e o marido testaram seus genomas. A partir de então, o casal descobriu que a surdez de sua filha era hereditária — e potencialmente evitável em futuros filhos, com o uso do método CRISPR.

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Casal russo que pode conceber os próximos bebês geneticamente modificados (Fonte: Science / Sergey Ponomazrev)

Uma possibilidade no tratamento de surdez nos filhos é o implante coclear, um dispositivo eletrônico que usa eletrodos implantados cirurgicamente para estimular diretamente o nervo auditivo. O implante ajuda quem tem surdez a aprender a falar, mas não proporciona uma experiência auditiva completa, a ponto de possibilitar escutar música, por exemplo. No entanto, muitos membros da comunidade surda russa tiverem experiências ruins com a tecnologia.

“Nos disseram que a única opção seria editar um embrião de fertilização in vitro em nível de genoma”, conta Yevgenievna em entrevista, diante das soluções propostas.

A russa só consideraria participar do experimento se os reguladores russos o aprovassem primeiro e, mesmo assim, tem dúvidas se a edição do genoma é de fato uma alternativa melhor do que um implante coclear, que ela própria fez, para contornar o problema da surdez. Em contrapartida, seu marido está disposto a correr o risco. “Se eu dissesse sim hoje, ele diria: ‘Sim, vamos fazê-lo’”, comenta.

Para o casal, ainda é uma questão o potencial risco de que um bebê editado possa ter mutações fora do alvo em seu genoma e que isso possa colocar sua saúde em risco. “Muitos médicos me disseram que… é melhor ter um filho surdo com um implante do que um bebê geneticamente modificado”, disse Yevgenievna.

Ainda assim, se a Rússia aprovar ou não o experimento de Rebrikov, parece quase inevitável que mais bebês com genética editada estejam no horizonte — o que significa que, embora Yevgenievna possa ser uma das primeiros mães em potencial a avaliar os prós e os contras de editar seus filhos, ela muito provavelmente não será a última.

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Fonte: Canaltech

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