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O futuro da economia prevê o fim do dinheiro como o conhecemos




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O futuro do dinheiro será o “fim” do dinheiro. Atualmente, cerca de 60% de todas as transações no mercado de ações é feita através de computadores, e esse número chega a 90% quando os mercados se tornam voláteis. Cada vez mais, aquela figura do analista gritando ao telefone para comprar e vender ações (e que foi imortalizado no imaginário popular por filmes como Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme e O Lobo de Wall Street) está sendo deixada de lado, e as empresas que trabalham com compra e venda de ações estão cada vez mais recorrendo ao uso de IA para decidir qual é o momento mais propício para cada transação. E, aos poucos, esse tipo de operação automática também está chegando para o consumidor comum.

Conforme vamos tirando a necessidade de um intermediário humano para que uma transação seja concluída, essas operações financeiras não apenas se tornam mais rápidas, mas também mais baratas. Ao invés dos 2% de lucros que os analistas financeiros normalmente cobram, as empresas que desenvolvem essas IAs pedem um valor de apenas 0,25% do lucro da operação, e esse tipo de mentalidade está aos poucos saindo das Bolsas de Valores e chegando ao banco comum.

E é nesse nicho que entram as “fintechs”, empresas responsáveis por fazer essa convergência entre os serviços financeiros tradicionais e as últimas tecnologias do mercado. Elas começaram primeiramente como aplicativos que facilitavam o acesso ao crédito, foram aos poucos entrando no mercado de IA e da blockchain, e hoje praticamente modificaram o funcionamento de todo o sistema financeiro mundial — e deverão continuar modificando-o pelos próximos anos com a popularização de algumas tecnologias que ainda não são amplamente usadas.


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TransferWise e o Crowdlending

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O processo de câmbio é, tradicionalmente, um dos mais complicados para o usuário comum. Como apenas instituições bancárias conseguiam fazer a troca de moeda, as taxas cobradas sobre a transação geralmente eram caríssimas, e qualquer pessoa que precisava trocar grandes montantes acabava perdendo um valor significativo no processo.

E foi pensando em trazer uma outra alternativa para essa necessidade que surgiu a TransferWise. Utilizando como base a versão modificada de um aplicativo de paquera, a empresa criou uma espécie de “Tinder” para quem quer fazer o câmbio de moedas. Ao invés de encontrar possíveis parceiros sexuais, o aplicativo utiliza o mesmo sistema de “match” para encontrar indivíduos que estão atrás de uma moeda específica e querem facilitar a transação direta. Por exemplo, se alguém está querendo trocar reais por dólares e existir um outro usuário querendo trocar dólares por reais, o aplicativo dá o “match” entre os dois usuários, que fazem a troca direta facilitada pela TransferWise, que por sua vez cobra taxas de câmbio bem menores do que as dos bancos. E a demanda por uma forma mais barata de se trocar moedas foi um dos responsáveis pela empresa ter atingido um valor de mercado de US$ 3,5 bilhões em apenas cinco anos de operação.

Mas esse sistema de “match” para transações diretas pode ser usado para mais coisas além do câmbio de moedas, e um dos modelos de negócio que mais tem crescido nos últimos anos é o “crowdlending”. Ele utiliza os milhares de dados existentes sobre um indivíduo — como o histórico salarial, educacional, e até mesmo informações sobre o uso de dispositivos móveis e de mídias sociais de cada indivíduo — para criar um “score” de crédito individual e facilitar a concessão de empréstimos pessoais sem a necessidade da utilização de instituições bancárias, e muitas vezes com juros menores do que os usados pelos bancos porque não levam em conta o histórico de pagamento médio de todo um país, mas sim o histórico de pagamento de cada indivíduo. Isso permite que até mesmo pessoas que não possuem conta em bancos e empregos fixos possam conseguir empréstimos com facilidade.

Entre as fintechs que têm se destacado nesse meio estão a Prosper, a Funding Circle e a LendingTree, e espera-se que esse mercado de empréstimos diretos cresça absurdamente nos próximos anos: enquanto em 2015 o valor total dele era de US$ 28,16 bilhões, acredita-se que até 2024 ele deva chegar na casa dos US$ 897 bilhões.

IA de investimentos

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Tradicionalmente, investir no mercado de ações sempre foi algo que apenas pessoas muito ricas conseguiam fazer, já que era necessário não apenas ter o dinheiro para investir em títulos de empresas, mas também para contratar o seu próprio analista financeiro, que é aquele profissional que está por dentro de cada mudança do mercado e poderia te indicar quando seria o melhor momento de comprar ou de vender determinado tipo de ação. E, como cuidar de uma carta de investimentos demanda muito tempo e estudo, esses analistas normalmente criavam barreiras: apenas aquelas pessoas com milhares de dólares livres para investir conseguiam contratar esses profissionais.

Mas agora, com o uso cada vez maior de IAs de investimentos, o mercado de ações está se abrindo para um número cada vez maior de pessoas, pois se tornou muito fácil comprar e vender ações, além de ficar por dentro das tendências do mercado, tudo isso usando o próprio celular.

Com um simples app, é possível hoje não apenas comprar e vender ações, mas também configurar quais são os níveis de risco aceitáveis, definir quais os objetivos de investimento, e deixar que os algoritmos cuidem de tudo para você, comprando e vendendo sozinhos e entregando relatórios completos de cada operação efetuada e do lucro ou prejuízo obtido com elas.

E, como já mencionamos anteriormente, os algoritmos já dominaram praticamente todo esse mercado, com até 90% das operações efetuadas nas Bolsas de Valores sendo feitas por uma IA. E, por causa desses programas exigirem uma porcentagem ínfima e terem um alto desempenho, o mercado os está aceitando a novidade de braços abertos: ainda que os robôs hoje tomem conta de apenas 1% de todos os investimentos feitos nos Estados Unidos, a Business Insider estima que, até 2022, mais de US$ 4,6 trilhões investidos na Bolsa serão controlados por algoritmos, e isso apenas nos Estados Unidos.

O fim do dinheiro

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Há tempos o dinheiro físico já é um artigo em desuso, com os cartões de crédito e de débito se tornando formas de pagamento cada vez mais comuns. E diversos apps de serviços (como a Uber) já trabalham com um sistema de créditos próprio, que permite que você os utilize mesmo que não tenha dinheiro vivo no momento.

E tudo indica que o uso de dinheiro físico é algo que realmente deixará de existir em algum momento, e já existem exemplos de países abandonando a moeda tradicional: a Dinamarca não imprime mais nenhum nova cédula desde 2017, a Índia tirou de circulação 86% do dinheiro físico do país como forma de desestabilizar o “mercado cinza” (algo equivalente aos “camelódromos” daqui do Brasil) e o Vietnã planeja até o fim deste ano ter tirado de circulação 90% de todo o dinheiro físico do país, enquanto a Suécia também segue o mesmo caminho, já que mais de 80% de todas as transações de compra e venda feitas no país utilizam pagamento digital.

E, ao mesmo tempo que o uso de moeda digital é algo que facilita a compra de produtos e serviços pelos clientes, a utilização de pagamentos digitais também é usada pelas empresas para estudar os seus hábitos de consumo e criar campanhas de marketing feitas especialmente para cada necessidade específica, que possuem uma taxa de sucesso mais alto e fazem com que os clientes acabem adquirindo mais um determinado produto ou serviço, retroalimentando, assim, todo o sistema.

Dessa maneira, todo o mercado financeiro já está e continuará sendo modificado pelas novas tecnologias, e é bem possível que na próxima década tudo esteja totalmente diferente: a função dos bancos, a forma como investimos e até mesmo o modo como compramos itens básicos do dia-a-dia. Não sabemos exatamente ainda aonde tudo isso deve chegar, mas uma coisa é certa: o dinheiro do futuro será um símbolo muito mais subjetivo do que um pedaço de papel com um número e um rosto.

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Fonte: Canaltech

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