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Os maiores #fails da exploração espacial em 2019




Os maiores #fails da exploração espacial em 2019 - 1

Depois de listarmos as notícias científicas mais importantes de 2019, chegou a hora de lembrarmos quais foram os maiores fiascos da ciência neste ano que chega ao fim. Mas, antes de qualquer coisa, vamos ressaltar que de todo erro também sai um aprendizado — e, na ciência, errar frequentemente faz parte do processo rumo ao progresso.

“Existem muitas hipóteses na ciência que estão erradas. Isso é perfeitamente aceitável; elas são a abertura para achar as que estão certas” — Carl Sagan

Então, os fracassos listados nesta matéria são dignos de lembrança, mas não de chacota — todos os envolvidos nesses flops certamente aprenderam muito com suas falhas, rumo ao sucesso em empreitadas futuras.


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“Eu não falhei mil vezes. Eu encontrei com sucesso mil caminhos que não funcionaram” — Thomas Edison

Pousar na Lua é difícil — e Israel sentiu isso “na pele”

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Conceito imaginava a nave Bereshett na Lua (Imagem: SpaceIL)

Em fevereiro, a startup israelense SpaceIL se tornou a primeira empresa privada a lançar uma nave rumo à Lua. O pouso da Beresheet estava programado para acontecer em abril, mas, enquanto o mundo todo acompanhava a transmissão ao vivo do controle de missão e seus dados de telemetria, nos minutos finais da descida os controladores perderam o contato com a nave — e tudo indicava uma tragédia.

Logo depois, a empresa revelou que houve uma falha no motor da nave, e confirmou que a Beresheet, infelizmente, acabou de chocando contra o solo lunar. A falha aconteceu quando a nave estava a apenas 14 km de distância da superfície da Lua, e foi impossível reduzir sua velocidade de 500 km/h para impedir a colisão.

Nos dias subsequentes, a SpaceIL anunciou um novo financiamento para construir uma Beresheet 2.0 e, com ela, tentar atingir seu objetivo de pousar na Lua — porém, em junho, a empresa voltou atrás, ao menos no que diz respeito a um novo pouso lunar. A nova Beresheet, então, teria como destino outro corpo do Sistema Solar (que ainda não foi divulgado).

Mas os #fails dessa história não ficam apenas por conta da nave “espatifada” na Lua e na desistência de tentar um novo pouso lunar: a Beresheet enviava consigo várias cargas científicas que seriam usadas até mesmo pela NASA, incluindo um dispositivo retrorefletor e um artefato que mediria o campo magnético lunar, além de um disco com uma gigantesca coleção de informações e conhecimentos humanos que iniciariam a criação de uma “biblioteca lunar”. Esse arquivo contava, ainda, com 30 milhões de documentos que serviriam como uma cartilha sobre a humanidade, e a ideia da empresa seria alimentar essa biblioteca espacial com mais informações em missões futuras — que, pelo visto, não vão mais acontecer.

E não para por aí: meses depois, em agosto, tornou-se conhecimento público pela primeira vez que a nave israelense também levava consigo uma outra carga, esta contendo animais microscópicos. Então, com a colisão, milhares de tardígrados podem ter sido liberados na superfície lunar. Altamente resistentes, eles em teoria são capazes de sobreviver nas inóspitas condições de nosso satélite natural, mas até hoje não se sabe se o invólucro que os protegia permanece intacto, ou se os chamados ursos d’água foram mesmo despejados na Lua.

Pousar na Lua é difícil — e a Índia entendeu o drama dos israelenses

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Conceito do módulo de pouso Vikram que a Índia pretendia pousar na Lua (Imagem: ISRO)

Lançada em julho, a missão Chandrayaan-2 levaria a Índia pela segunda vez à superfície do nosso satélite natural, levando consigo uma sonda orbital, um módulo de pouso e um rover — o que faria do país o quarto a pousar uma nave na Lua, seguindo os passos da Rússia, dos Estados Unidos e da China. Contudo, nos chamados “15 minutos de terror” durante a descida do módulo Vikram, os controladores da missão perderam o contato com a nave, e demorou bastante tempo até que a agência espacial ISRO confirmasse a colisão — o que só aconteceu em novembro, quando, enfim, revelaram um problema com os propulsores de frenagem quando a nave estava a apenas 2,1 km de distância do solo.

Mas a missão não pode ser classificada como um fracasso completo por conta disso: apenas o módulo de pouso Vikram e o rover Pragyan não puderam realizar sua missão, pois o módulo orbital da Chandrayaan-2 foi posicionado com sucesso e continua enviando dados e proporcionando aprendizados desde então. Por isso, a ISRO não desistiu de continuar tentando explorar a Lua: a Índia anunciou, em outubro, uma parceria com o Japão para buscar água na Lua em 2023, e no mês seguinte revelou que, já em 2020, lançará a Chandrayaan-3 para dar continuidade ao que a Chandrayaan-2 não pôde fazer.

Mars One e a “Falência de Schrödinger”

Morreu, mas passa bem? Faliu e não faliu ao mesmo tempo, depende do ponto de vista? Estamos falando da startup Mars One, que vem causando controvérsia e até mesmo sendo chamada de farsa desde sua criação, em 2012.

Em 2013, a startup holandesa anunciou que começaria a procurar candidatos a iniciar uma colônia humana em Marte até o ano de 2023, com o ambicioso objetivo de levar até 20 pessoas para lá, inicialmente. A empresa recebeu patrocínios diversos ao longo dos anos, mas rapidamente começou a ser criticada pela comunidade científica internacional pelo fato de que as tecnologias atuais ainda não garantem a sobrevivência a longo prazo de humanos no Planeta Vermelho — vamos lembrar que a própria NASA tem planos de enviar seus primeiros astronautas para lá somente na década de 2030, numa projeção otimista.

Agora vamos pular para o ano de 2019: em fevereiro, a empresa decretou falência sem alardes, o que foi descoberto por um internautra que jogou a m*** no ventilador por meio do Reddit. A Mars One era composta pela entidade sem fins lucrativos Mars One Foundation e pelo braço de capital Mars One Venture — este último que teve a falência decretada no início do ano, quando tinha um valor estimado em US$ 100 milhões, sendo que, em julho do ano anterior, a empresa abocanhou um investimento de US$ 14 milhões com uma companhia privada.

Só que, “do nada”, naquele mesmo mês a empresa disse ter encontrado um investidor misterioso que representaria a sua salvação financeira, pagando cerca de US$ 1,1 milhão que devia a seus credores. O tal investidor também injetaria mais grana na empresa para que ela colocasse de novo seu projeto “nos trilhos”, transformando a colonização marciana em uma espécie de reality show.

Desde então, a empresa até chegou a fazer algumas publicações aleatórias sobre Marte em seu blog oficial, mas nada mais foi dito quanto a seu status financeiro, muito menos quanto ao avanço (ou não) de seu projeto. No Twitter, a Mars One não posta nada desde o mês de março.

Atraso no Commercial Crew Program da NASA com #fails da Boeing e da SpaceX

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Conceito das naves Starliner e Crew Dragon a caminho da ISS

O Commercial Crew Program é o programa da NASA que escolheu Boeing e SpaceX para desenvolverem naves tripuláveis com o objetivo de independer os Estados Unidos da Rússia no que diz respeito ao envio de astronautas americanos à Estação Espacial Internacional (ISS). Desde 2011, o país depende de foguetes e naves russas Soyuz para esse transporte, e o programa comercial da agência estadunidense deu uma boa grana para as empresas de Elon Musk e Jeff Bezos a fim de interromper essa dependência com os antigos rivais da exploração espacial.

Mas muitos imprevistos (e até incidentes) marcaram o programa, fazendo com que o início dos testes com as naves das duas empresas fosse postergado. Na verdade, se considerar os planos iniciais da NASA, já se somam mais de dois anos de atraso, que seriam enfim eliminados em 2019… Seriam, porque este ano foi marcado por mais uma leva de contratempos.

Em fevereiro, a agência espacial explicou que os primeiros testes previstos para 2017 estavam adiados com um novo cronograma para 2019, que também não pôde ser seguido — a previsão era que a SpaceX testaria a Crew Dragon em um lançamento a acontecer em fevereiro mesmo, enquanto a Boeing faria o mesmo com a Starliner em março. O novo cronograma, então, colocou o primeiro teste não tripulado da SpaceX para março, com o mesmo sendo feito pela Boeing em abril. O primeiro voo tripulado da empresa de Musk aconteceria em julho, com o voo tripulado da Boeing rolando em agosto.

Quando tudo isso aconteceu? Bom, a SpaceX conseguiu fazer um primeiro voo sem tripulação com a Crew Dragon em março mesmo, mas até agora não conseguiu prosseguir com os demais planos porque, em maio, a nave explodiu durante um novo teste com seus motores, o que atrasou, mais uma vez, o restante do cronograma. No final de setembro, a NASA criticou a SpaceX por conta de tudo isso, e Elon Musk prometeu aprotar a Crew Dragon para voar “dentro de três a quatro meses” — o que ainda não aconteceu.

A Boeing, por outro lado, só conseguiu colocar a Starliner para voar pela primeira vez agora no final de dezembro, mas um problema durante o voo a impediu de chegar à ISS, retornando à Terra antes da hora. Esse voo não foi tripulado.

Com tudo isso, a NASA continua dependente da Rússia para enviar seus astronautas à ISS e, para não arriscar passar sabe-se lá quanto tempo sem nenhum estadunidense ocupando a estação orbital, a agência poderá ter de pagar por mais assentos aos russos em 2020.

Mais “rolo” com a SpaceX — desta vez com o foguete Starship

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Conceito do Starship na órbita da Terra (Imagem: SpaceX)

Outro problema com o qual a SpaceX vem lidando está relacionado a seu novo e poderosíssimo foguete Starship, que vem sendo prometido e noticiado há anos, também. É com ele que a empresa pretende levar cargas e de pessoas ao espaço, tanto à Lua quanto a Marte — assim que isso for possível.

Um protótipo do Starship “saltou” pela primeira vez em abril, e tudo deu certo naquela ocasião. No comecinho de julho, a empresa anunciou que a versão final do foguete voaria pela primeira vez em 2021, sendo capaz de levar até 20 toneladas de cargas à órbita geoestacionária da Terra, mais de 100 toneladas para a órbita baixa, e até 100 pessoas para a Lua ou a Marte.

Mas esse cronograma talvez tenha de ser revisto. Ainda no mês de julho, o protótipo do foguete pegou fogo durante testes com seu motor, mas, no final do mesmo mês, um novo protótipo conseguiu alcançar uma altitude ainda maior em um novo teste de “salto”. Tudo corria relativamente bem ao longo do ano, até que, em novembro, um outro protótipo do foguete explodiu durante novos testes — antes disso, Musk chegou a dizer que o Starship já começaria a fazer voos a baixas altitudes ainda em 2019, com uma versão mais poderosa atingindo a órbita da Terra até março de 2020.

E, sim, mais “rolo” com a SpaceX — agora envolvendo os satélites Starlink

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(Foto: SpaceX)

2019 não foi um ano fácil para Elon Musk, seja protagonizando escândalos e “bafões” pelo Twitter, seja com suas empreitadas espaciais. Além dos “rolos” citados acima envolvendo as naves Crew Dragon e o foguete Starship, sua SpaceX também esteve (e continua) envolvida em um problema e tanto com a comunidade científica: seus satélites Starlink já estão atrapalhando observações astronômicas feitas a partir de telescópios terrestres.

Fundamental para a receita da SpaceX, o projeto Starlink visa criar uma constelação de satélites na órbita da Terra para fornecer internet de alta velocidade a toda a extensão do planeta. Em maio, foram lançadas as primeiras 60 unidades, com outro lote de 60 sendo lançado em novembro. O projeto visa lançar entre 30 e 42 mil unidades, iniciando suas operações, ainda que em algumas poucas regiões dos Estados Unidos, já no início de 2020.

Astrônomos já se preocuparam com a possibilidade de os satélites refletirem luz solar e, com isso, atrapalharem suas observações, desde o primeiro lançamento em maio — e Musk, pelo Twitter, garantiu que isso não aconteceria. Contudo, naquela época as primeiras 60 unidades já causaram alguns atrapalhos, com as 60 seguintes, aí sim, atrapalhando de fato algumas observações — com imagens diversas sendo divulgadas por cientistas provando suas denúncias.

Depois do “bafão”, a SpaceX veio a público em dezembro dizer que não pretende ser tornar inimiga da astronomia e, por isso, estava planejando revestir os próximos satélites a serem lançados com uma espécie de tinta escura, que reduziria a reflexividade e, assim, resolveria o problema. No entanto, muitos testes ainda devem ser feitos antes que essa ideia se mostre efetiva e, até lá, o problema continua afetando o trabalho de astrônomos que dependem de telescópios baseados em solo para trabalhar.

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Fonte: Canaltech

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