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Pra cego ver: implantes, gadgets e até vírus podem devolver parte da visão




Pra cego ver: implantes, gadgets e até vírus podem devolver parte da visão - 1

Já passou por alguma foto no Instagram e viu a hashtag #pracegover? A iniciativa que promove acessibilidade aos conteúdos visuais, inclui uma legenda descritiva para as imagens postadas nas redes sociais, é sucesso no Brasil. Até agora, foi postada mais de 800 mil vezes. Essa é uma boa ação para ajudar quem tem baixa visão ou cegueira total, mas paliativa. Conheça, a seguir, alguns experimentos que buscam devolver parte da visão para cegos que vão de vírus a óculos especiais e implantes.

Para esse setor, as atividades comerciais da empresa americana Second Sight começaram em 2014, quando reguladores dos EUA aprovaram um tratamento futurista para a cegueira. Chamado Argus II, seu primeiro dispositivo comercial enviava sinais de uma câmera montada em um par de óculos para uma matriz de eletrodos implantados na parte de trás do olho do paciente. É uma espécie de óculos biônicos futuristas.

Nesse projeto, a função dos eletrodos era substituir a dos sinais das células sensíveis à luz, que foram perdidas a partir de uma condição genética que causa perda de visão, a retinite pigmentosa. Segundo a Second Sight, estima-se que cerca de 350 pessoas usem este produto no mundo. Mas solução oferece uma forma relativamente grosseira de visão artificial, através da qual os usuários podem ver pontos difusos de luz.


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Essas experiências falharam em fornecer aos pacientes algo como uma visão regular. “Nenhum paciente desistiu da bengala ou do cão-guia”, afirma Daniel Palanker, físico especialista em próteses visuais da Universidade de Stanford, sobre o Argus II.

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Para transmitir imagens, fotodiodos implantados em olho de paciente (Fonte: Science / Pixium Vision SA / Paris)

Tipos de implantes

Em busca de melhores respostas, os pesquisadores de Stanford estão trabalhando em uma nova geração de dispositivos que, segundo eles, pode devolver aos cegos boa parte de sua visão. Palanker e sua equipe criaram um implante de retina com 400 fotodiodos, que são como “pixels”, para transmitirem as imagens captadas. No experimento, os participantes que tiveram o dispositivo implantado há cerca de um ano foram capazes de reconhecer objetos em uma mesa e ler letras em uma tela.

Durante os testes, a visão artificial foi boa o suficiente para os usuários conseguirem distinguir o título de um livro, de acordo com Palanker, embora ainda não consigam ler as palavras de suas páginas. Na pesquisa apresentada na reunião anual da Society for Neuroscience, em Chicago, foi demonstrada a eficácia do aparelho somente em determinadas doenças oculares, como degeneração macular e deslocamento de retina, casos em que os fotorrecpectores dos pacientes estão comprometidos.

Os fotorreceptores são a porta de entrada para o caminho sensorial, à medida que as informações visuais são transmitidas do olho para o cérebro. Nessa trajetória, os fotorreceptores são responsáveis ​​pelo envio de sinais para células especiais na parte posterior do olho, que depois os transmitem através do nervo óptico para o cérebro.

Eletrodos no córtex

Se o paciente tiver uma deficiência para além dos fotorreceptores, são necessárias soluções alternativas, como outro dispositivo da Second Sight, o Orion. A invenção envolve a implantação de 60 eletrodos diretamente no córtex. Esses eletrodos transmitem sinais ao cérebro que são coletados por uma câmera montada em um par de óculos. Após usar o dispositivo por cerca de um ano, os pacientes conseguiram localizar apenas um quadrado branco, do tamanho de um punho, em uma tela preta.

Há também sérios riscos a serem considerados quando ocorre a implantação de eletrodos diretamente no córtex. O excesso de estímulo pode desencadear uma convulsão, por exemplo. E caso os eletrodos estejam muito próximos, os pontos visuais podem se fundir, formando uma bolha confusa na visão do paciente. Esses sistemas podem acabar “arruinando o córtex para todos os outros implantes no futuro e, na melhor das hipóteses, [o paciente] não vai enxergar muita coisa”, disse o neurocientista da Universidade Estadual de Nova York Stephen Macknik.

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Vírus podem auxiliar no processo de volta da visão

Vírus do bem

Para aumentar as possibilidades de cegos enxergarem o espaço ao seu redor, outras equipes estão se voltando para a optogenética, uma técnica da bioengenharia para ativar células com luz. Em um ensaio clínico da GenSight Biologics, com sede em Paris, os pesquisadores injetaram um vírus capaz de transportar o gene de uma proteína sensível à luz nos olhos de cinco pessoas, todas portadoras de retinite pigmentosa.

No processo, as células da retina, que absorveram o gene, passaram a responder à luz vermelha quando projetada no olho. Se os participantes do estudo terão uma visão útil ou não, só deve ficar claro no próximo ano, afirma José-Alain Sahel, oftalmologista e neurocientista que testa a tecnologia na Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, e no Vision Institute, em Paris.

Sistemas optogenéticos como esse não chegarão à clínica tão cedo. Os pesquisadores ainda precisam demonstrar que um vírus pode dotar os neurônios de um gene de maneira segura e confiável, e que ele permaneça ativo por anos. Eles também necessitam implantar um dispositivo compacto, sob o crânio — algo ainda sem garantias.

Para muitos pesquisadores, uma das maiores barreiras para transmitir uma visão ultraprecisa ao cérebro é ainda descobrir quais padrões de estímulo o órgão é capaz de interpretar. De outra maneira, não adianta enviar a mensagem errada, porque ela não será lida. E até os cientistas aprenderem a língua do córtex, pode levar alguns anos.

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Fonte: Canaltech

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