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Radiação de celulares e smartphones não oferece perigo para seres humanos




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Muita gente ainda tem dúvida quanto a relação entre smartphones e câncer. Afinal, a radiação dos smartphones pode acabar provocando a doença? Esse é um receio que desde o lançamento dos primeiros celulares tem amedrontado a população mundial — e volta à pauta atual por causa das conversas sobre a transição para a tecnologia 5G.

Esse medo atingiu novos níveis nas últimas semanas, quando foi descoberto que algumas marcas de aparelhos estavam emitindo um nível de radiação maior do que o — com a Xiaomi entre elas. Mas, mesmo que a ciência já tenho feito diversos experimentos e insista que não há nenhuma relação entre exposição prolongada à radiação RF (o tipo que é emitido pelos celulares) e o desenvolvimento de câncer, as redes sociais estão cheias de pessoas comentando sobre como os smartphones ainda vão dizimar a humanidade.

Claro, esse é um assunto muito complexo, e ainda que a grande maioria dos experimentos mostrem que não existe nenhuma relação entre a radiação de smartphones e a incidência de câncer em seres humanos, há alguns experimentos que insistem que as ondas RF podem sim nos fazer mal. Mas uma nova artigo sobre o caso, publicado na última sexta-feira (23) na New Zealand Medical Journal, mostra uma informação importante para se levar em conta: a de que todos os estudos que indicam haver uma relação entre radiação de celulares e câncer estão publicados em revistas de baixíssima credibilidade científica.


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Assinado por Mark Elmwood, epidemiologista na Universidade de Auckland (Nova Zelândia), o estudo foi conduzido a pedido do Ministro da Saúde da Nova Zelândia, que queria uma resposta objetiva e clara para a questão. O pedido foi feito após um artigo de dezembro, assinado pela pesquisadora Susan Pockett (também da Universidade de Auckland) e publicado na mesma revista, onde ela criticava o fato do Ministério da Saúde do país não estar se esforçando para proteger os habitantes dos perigos causados pela radiação dos smartphones.

Na época, o ministro da saúde David Clark achou que as críticas de Pockett eram excessivas e que a pesquisadora estava julgando mal o real perigo dos aparelhos, e por isso entrou em contato com a Universidade de Auckland para que ela fizesse um estudo independente que pudesse responder de uma vez por todas se essa radiação era ou não perigosa para seres humanos.

Estudos de baixa qualidade

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Há décadas, os cientistas estudam o efeito da radiação RF sobre o corpo humano, e em nenhum momento foi encontrada qualquer ligação de exposição a esses sinais e à incidência de câncer. Isso porque a radiação dos celulares é do tipo não-ionizante, ou seja, não possui poder de penetração suficiente para entrar no núcleo dos células e alterar o DNA delas — o que seria necessário para que a radiação fosse considerada cancerígena. O único efeito encontrado é que a grande exposição aos raios RF podem causar um leve aumento na temperatura das células, mas nada que atrapalhe o funcionamento delas ou altere suas funções biológicas.

Mas o artigo de Pockett afirmava o contrário, e citava diversos estudos que sugeriam que a radiação não-ionizante pode afetar o corpo de formas mais preocupantes do que apenas um leve aumento na temperatura. E é exatamente a qualidade desses estudos citados pela pesquisadora que o artigo publicado no dia 23 de agosto questiona.

De acordo com Elmwood, todos os estudos citados com exemplos do perigo da radiação não-ionizante possuem uma qualidade muito baixa como experimentos científicos, e foram publicados apenas por serem um assunto interessante e que poderia gerar visualizações para a revista. Ele ainda explica que todos os estudos investigam a existência de alguma mudança fisiológica ou molecular nas células, que possam estar relacionadas à existência de algum problema de saúde, mas nenhum deles apresenta evidências de que há uma relação direta entre os dois. Na realidade, os artigos citados por Pockett apresentam um problema que é muito comum entre não-cientistas: confundir causalidade com consequência.

Elwood ainda aponta uma pesquisa recente feita por pesquisadores da Universidade do Texas, que revisaram mais de 200 estudos e mais de 2000 resultados de testes sobre os efeitos da radiação RF sobre as células de mamíferos, e encontraram que, entre os estudos de maior rigor científico, apenas 9% afirmavam que essa radiação tinha o potencial de causar algum tipo de dano aos humanos, enquanto cerca de metade dos estudos de baixa qualidade afirmavam que essa radiação poderia ser perigosa.

Assim, há uma relação clara de que a maioria dos estudos publicados que mostram que a radiação de celulares é perigosa para os seres humanos chegaram a esse resultado pelo fato de não seguir todos os critérios científicos necessários.

A importância do método científico

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Um dos critérios mais importantes para qualquer experimento científico é a reprodutibilidade. Isso quer dizer que não é necessário apenas conseguir o resultado uma única vez, mas repetir dezenas, centenas de vezes o mesmo experimento e conseguir os mesmos resultados para que algo seja considerado estatisticamente significante. E esse é um critério que muitos dos estudos que defendem a radiação RF como perigosa para os seres humanos ignoram.

Por isso, mesmo aqueles 9% de estudos sérios que não descartam totalmente os perigos desse tipo de radiação também não chegam a resultados conclusivos, mas defendem apenas que há o “potencial” de que ela seja nociva, sendo necessários mais testes. Isso acontece porque, apesar deles chegarem a resultados que podem indicar que esse tipo de radiação acabou afetando as células de mamíferos, ele não foi alcançado em todas as vezes que o experimento foi reproduzido.

Já existe um consenso que não há nenhum perigo real de exposição de seres humanos aos celulares. Pelo menos por enquanto, as evidências sugerem que não há motivo para pânico, e que a radiação emitida pelos smartphones não oferece riscos reais de causar câncer — seja ela 3G, 4G ou 5G.

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Fonte: Canaltech

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