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Você tem dislexia? A tecnologia pode facilitar sua vida!




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Aqui no Canaltech, temos o costume de mostrar um lado diferente da tecnologia: o modo como ela pode proporcionar ajuda a diversas pessoas, como uma verdadeira aliada diante das dificuldades. Seja por meio de aplicativos, recursos on-line ou inteligência artificial, a área tech está aí para facilitar a vida do ser humano, e tem sido cada vez mais voltada para a saúde. Com isso em mente, já apresentamos ferramentas que ajudam usuários com autismo, ansiedade ou ainda deficiência. Pois, agora, a ideia é mostrar que pessoas com dislexia também podem contar com a ajuda de aplicativos e outras formas de inovação.

Segundo a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), a dislexia é o distúrbio de maior incidência nas salas de aula e atinge entre 5% e 17% da população mundial. E para entender exatamente do que se trata a dislexia, a equipe do Canaltech conversou com a Luciana Brites, uma das fundadoras do Instituto NeuroSaber. Luciana é pedagoga especializada em Educação Especial na área de Deficiência Mental e Psicopedagogia Clínica e Institucional.

A especialista explica que a Dislexia é um transtorno do desenvolvimento, ou seja, os primeiros sinais acontecem durante o desenvolvimento da criança e durante a adolescência. “Não é uma doença. É um quadro disfuncional”, aponta a pedagoga. De acordo com ela, esse transtorno pode ser definido como se algumas áreas cognitivas que geralmente são acionadas no cérebro das pessoas estivessem mal conectadas. Os sintomas e sinais são fraca habilidade na leitura e na escrita, com direito a muita dificuldade em reconhecer letras e juntá-las. “Algumas crianças podem ter atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor: é aquela criança que vai ter muita dificuldade para se alfabetizar mesmo mudando o método de alfabetização, e vai ter muita dificuldade em juntar letras e em entender aquilo que ela está lendo”, afirma Luciana.


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Questionada a respeito do que fazer caso uma pessoa suspeite que o filho ou filha tenha dislexia, Luciana responde que o recomendado é levar para uma avaliação multidisciplinar, ou seja, exames físicos e ressonância, em uma equipe composta por fonoaudiólogos, psicólogos, pedagogos e médicos. Outra questão muito importante a respeito desse quadro disfuncional é a sala de aula. Para Luciana. professores devem primeiro conhecer o transtorno, para então utilizar de metodologias multissensoriais. “Por exemplo: alguns disléxicos gostam muito de desenhar, então vale observar a característica de aprendizagem daquele disléxico. E a partir daí começar a ir trabalhando o que ele tem de mais forte”, indica a especialista.

Um outro olhar sobre a dislexia

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Dislexia não é doença, e sim um quadro disfuncional, aponta especialista

Gabriel Aragão, de 28 anos, descobriu que tinha dislexia sozinho, dez anos atrás, enquanto navegava na internet. Em entrevista ao Canaltech, ele conta que buscou no Google a respeito de sua dificuldade pra ler e acabou em um teste online de dislexia. Apenas alguns anos depois é que Gabriel foi oficialmente diagnosticado, ao fazer alguns testes com a sua psicóloga.

Questionado sobre como é a dislexia na prática, Gabriel conta: “[A dislexia] dificulta a minha vida na parte da leitura. Leio tudo pulando linha, e é difícil me concentrar em uma frase e entender tudo sem ler pelo menos umas duas vezes. Também acontece de eu ler outra palavra no lugar da palavra certa. Tipo ‘fui na rua comprar pão’ eu posso entender ‘foi na ruma comprar mão'”. Ele ainda acrescenta: “Também tenho dificuldade de escrever, mas segundo minha psicóloga, eu desenvolvi gatilhos para me ajudar nessa função. Costumo escrever muito em jogos de RPG escrito, e isso meio que me ajudou a melhorar tanto na leitura quanto na escrita”.

Gabriel ainda afirma que, quando precisa ser rápido, usa um leitor de texto online para compreender o que se passa no conteúdo. “Atrapalha também quando quero assistir filmes legendados, se não for em inglês (que eu consigo compreender um pouco do áudio) eu não consigo ler as legendas antes de sumir. Tudo fica muito pior sob pressão. Escrever a mão também é complicado. Erros de português são constantes, ainda que eu treine bastante”.

Para ajudar, além do leitor de texto online, Gabriel também tem o costume de fazer uma leitura mental das palavras que precisa escrever. “Penso nelas bem devagar na minha cabeça e deixo fluir para os dedos na digitação. Acontece muito de eu trocar palavras e para textos longos eu simplesmente não tenho segurança nenhuma de escrever sem o corretor ativado”, conta.

E por se tratar de um quadro disfuncional com o qual a sociedade em si não se depara com tanta frequência, acabava havendo falta de informação, o que levava à intolerância por parte das pessoas em geral: “Perdi as contas de quantas vezes já ouvi ‘o seu problema é preguiça’, ‘para de palhaçada’, ‘se você fosse um pouquinho mais esforçado não teria nada disso’ e ser chamado de burro. Altos traumas, mas tento lidar com isso com bom humor”, relembra.

No entanto, Gabriel acredita que hoje em dia esse assunto esteja mais fresco na cabeça das pessoas. “Sempre que eu digo que tenho dislexia, pelo menos a galera na minha faixa de idade e mais nova sabe minimamente do que se trata. O filme Como Estrelas na Terra me foi fortemente recomendado por amigos virtuais enquanto eu enfrentava depressão. A dislexia é/era um dos gatilhos que desencadearam esse quadro em mim”, declara.

Com base no relato do jovem, nós trouxemos alguns aplicativos e ferramentas que podem facilitar a vida de pessoas com a dislexia, de diversas idades:

OpenDyslexic

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Certo, a primeira sugestão não é exatamente um aplicativo. Na verdade, trata-se de uma fonte chamada OpenDyslexic, que é completamente gratuita e pode ser baixada aqui, e instalada no computador, assim o usuário pode utilizar nos seus programas de texto, apresentações, emails, etc. O que acontece é que a forma dessa fonte deixa bem claro onde está a base e a direção da letra, então pode facilitar bastante na compreensão.

Speechy

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O Speechy é um aplicativo de ditado em tempo real. Com base eminteligência artificial e um mecanismo de reconhecimento de fala, a proposta é transcrever suas palavras e pensamentos. Nas práticas, as palavras serão transcritas sem que você precise tocar em um teclado. Apesar de não ser necessariamente o que estamos buscando, ele também ajuda a prática de pronúncia de aprendizagem de línguas estrangeiras e minutos de reunião de memorando, então é um bônus.

Speechy também grava sua voz para que você possa ouvir mais tarde, funcionando como um “bloco de notas mentais”. De qualquer forma, ele pode ser um prato cheio para pessoas com dislexia, que não precisam ficar escrevendo longos textos. O app pode ser encontrado na App Store.

Português Coruja

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Disponível para download na Play Store, o Português Coruja basicamente é um quiz que apresenta palavras escritas de diferentes maneiras, e o usuário precisa escolher qual acredita que é a palavra certa. Errando ou acertando, o app disponibiliza depois um feedback, tipo um comentário bem curtinho, falando sobre o porquê está certo ou errado. Um diferencial do app é que ele funciona sem internet, então o usuário pode estudar à vontade.

WebHelp Dyslexia

Basicamente, o WebHelp Dyslexia é uma extensão gratuita disponível para o navegador Google Chrome, que proporciona a possibilidade de personalizar as páginas da web de acordo com sua necessidade, mexendo no tamanho de letra, espaçamento, combinação de cores (fundo/letras), régua de leitura, marcador de texto, dicionário de sinônimos, etc. Por enquanto, ainda é uma versão beta, mas já pode ser baixada e utilizada no navegador.

Domlexia

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Indicado para crianças que tenham dislexia, o Domlexia – Dom e as letras é um app gratuito disponível na Play Store, definido como um jogo educacional. Nele, de forma lúdica e interativa, o jogador irá ajudar o dragão Dom através de vários jogos no mundo das letras, melhorando a consciência fonológica do jogador com ou sem dislexia. As crianças também podem colorir desenhos do Dom em cenários muito divertidos.

O aplicativo tem cinco mundos separados pelas letras e fonemas parecidos. Cada mundo tem uma imagem em branco, e algumas fases, onde ao completá-las, é liberado uma parte do desenho em branco. Ao completar todas as fases, a crianças tem o desenho completo para colorir. O projeto Domlexia já ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais, como o Prêmio de Inovação na Educação, no Congresso Internacional de Dislexia de Lisboa. e foi finalista do BIG Festival na categoria Educação.

Pesquisas em desenvolvimento

Em 19 de novembro do ano passado, aconteceu a sétima edição do Latin America Research Awards (LARA), o programa de bolsas de pesquisa do Google. Basicamente, foram selecionados 25 projetos de pesquisadores de toda a América Latina, sob a premissa de resolver problemas do nosso cotidiano. Tendo isso em mente, Felipe Meneguzzi e Laura Tomaz da Silva, da PUCRS, desenvolveram um projeto chamado “Explicações visuais para dados de neuroimagem fMRI”.

De acordo com Meneguzzi, a ideia é ter um dataset de ressonância magnética funcional de crianças em idade de alfabetização, disléxicos e não disléxicos, bons e maus leitores, pegando o gancho de que o projeto ACERTA, Instituto do Cérebro (Inscer) da PUCRS, está tentando avaliar a dislexia nessas crianças na idade de alfabetização.

“O objetivo é não só fazer uma classificação, mas também apontar o porquê de o indivíduo ser classificado como disléxico ou não. O que a gente está fazendo é tentar usar essas técnicas de machine learning para entender o porquê de uma rede neural fazer uma classificação ou não”, explica o pesquisador. “E a ideia não é substituir psicólogo ou profissional da área, mas sim ajudar na pesquisa da neurociência, que quer saber as regiões do cérebro envolvidas, e até descobrir outras regiões que os modelos de neurociência atual não previam. A ressonância magnética custa R$ 2 mil e uma consulta com psicólogo é muito mais barata, então atua mais como uma ferramenta”, acrescenta. Felipe aponta ainda, que, no futuro, vai tentar gerar explicações cada vez mais detalhadas sobre o motivo de aplicar essas classificações nas crianças em idade de alfabetização.

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Fonte: Canaltech

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