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Tem plástico dentro da gente? E se tiver, faz mal ou não?




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Dos oceanos aos continentes, os microplásticos têm se espalhado pelo planeta Terra e trazem sérias consequências para a sobrevivência de espécies da vida marinha. Agora, pesquisadores da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, encontraram partículas de plástico em todas as 47 amostras de tecidos humanos analisadas, incluindo pulmão, fígado, baço e rins. Entretanto, o impacto potencial na saúde humana não é totalmente conhecido.

A dificuldade em realizar estudos do tipo na área é a questão da medição. Isso porque os cientistas definem microplásticos como fragmentos com menos de 5 mm de diâmetro. Além disso, outro composto plástico encontrado, os nanoplásticos, são ainda menores, com diâmetro inferior a 0,001 mm.

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Pesquisadores identificam fragmentos de plástico em órgãos humanos pela primeira vez (Imagem: Cristian Palmer/Unsplash)

Nesta segunda-feira (17), o grupo de cientistas apresenta o estudo completo em encontro anual da Sociedade Americana de Química. A partir das técnicas de medição desenvolvidas, será possível determinar os níveis de contaminação em órgãos humanos e comparar as taxas ao redor do mundo pela primeira vez.


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Plástico em órgãos humanos

Anteriormente, pesquisas em animais relacionaram a exposição a micro e nanoplásticos à infertilidade, inflamação e câncer entre as espécies, principalmente marinhas. Outros estudos da área, já em humanos, demonstraram que, em tese, partículas de plástico poderiam passar pelo trato gastrointestinal. Agora, a ideia foi descobrir se esse material poderia se acumular em órgãos humanos.

“Você pode encontrar plásticos contaminando o meio ambiente em praticamente todos os locais do mundo e, em poucas décadas, passamos de ver o plástico como um benefício maravilhoso para considerá-lo uma ameaça”, explica Charles Rolsky, um dos autores do estudo. “Há evidências de que o plástico está entrando em nossos corpos, mas poucos estudos o procuraram lá. E, neste ponto, não sabemos se esse plástico é apenas um incômodo ou se representa um perigo para a saúde humana”, completa Rolsky.

Para investigar a questão, os pesquisadores norte-americanos coletaram amostras de um repositório de tecidos, destinadas originalmente ao estudo de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. No total, foram 47 amostras retiradas de tecidos provenientes dos pulmões, fígado, baço e rins — quatro órgãos que, provavelmente, são expostos ao plástico ou que filtrariam microplásticos.

A partir disso, os pesquisadores da Universidade do Arizona desenvolveram um novo procedimento que pode extrair plásticos de amostras e as analisa através da espectroscopia Raman, técnica que detalha informações químicas e estruturais de uma infinidade de materiais, incluindo os tecidos. Além disso, eles construíram um software que converte a contagem de partículas de plástico em unidades de massa e área de superfície.

Com essa análise, os pesquisadores conseguiram identificar dezenas de componentes plásticos em tecidos humanos, incluindo policarbonato (PC), tereftalato de polietileno (PET), polietileno (PE) e bisfenol A (BPA).

Impactos da descoberta

A ideia é compartilhar a ferramenta de forma online para que outros pesquisadores possam relatar suas medições e descobertas em um formato padronizado. “Este recurso compartilhado ajudará a construir um banco de dados de exposição de plástico para que possamos comparar exposições em órgãos e grupos de pessoas ao longo do tempo e do espaço geográfico”, explica o pesquisador Rolf Halden sobre a proposta do projeto.

“Os doadores de tecido forneceram informações detalhadas sobre seu estilo de vida, dieta e exposições ocupacionais”, comenta Halden. “Como esses doadores têm históricos bem definidos, nosso estudo fornece as primeiras pistas sobre fontes e rotas potenciais de exposição a micro e nanoplásticos”, completa o pesquisador sobre a possibilidade de traçar as formas de contaminação.

“Nunca queremos ser alarmistas, mas é preocupante que esses materiais não biodegradáveis ​​que estão presentes em todos os lugares possam entrar e se acumular nos tecidos humanos, e não sabemos os possíveis efeitos para a saúde”, pontua Kelkar. “Assim que tivermos uma ideia melhor do que está nos tecidos, podemos conduzir estudos epidemiológicos para avaliar os resultados de saúde humana. Dessa forma, podemos começar a entender os riscos potenciais à saúde, se houver”, conclui o cientista, sobre os próximos passos da investigação.

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Fonte: Canaltech

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